Em cerimônia de 4 minutos, partido sacramenta por aclamação o fim da aliança com a petista. 'Ninguém está autorizado a exercer qualquer cargo federal em nome do PMDB', discursou o vice-presidente da sigla, Romero Jucá
Por: Marcela Mattos e Laryssa Borges, de Brasília
Vislumbrando a possibilidade de
assumir o Palácio do Planalto, o PMDB sacramentou nesta terça-feira o fim da
aliança com a presidente Dilma Rousseff. O partido, que estava havia mais de
uma década na órbita do governo petista, decidiu abandonar Dilma em seu mais
crítico momento político e agora tenta, nos bastidores, usar da crise como um
trampolim para chegar ao poder.
A reunião
do diretório nacional foi comandada pelo senador Romero Jucá (RR) e se deu a
toque de caixa: durou exatos quatro minutos. Ao abrir a cerimônia, Jucá lembrou
a convenção do último dia 12 de março, quando o PMDB definiu que iria discutir
o desembarque em até 30 dias, e colocou em votação moção apresentada pelo
diretório da Bahia, que pedia o rompimento com o governo. A proposta foi
aprovada aos gritos e aplausos: "O PMDB se retira da base do governo da
presidente Dilma Rousseff e ninguém está autorizado a exercer qualquer cargo
federal em nome do partido PMDB", anunciou o senador. Em seguida,
peemedebistas gritaram "Fora, PT" e cantaram o Hino Nacional.
Entre os
caciques do PMDB, a avaliação é que, mesmo tendo se beneficiado no passado em
momentos menos tortuosos do governo Dilma Rousseff, "o político não pode
afundar junto com o governo". A debandada peemedebista, gestada há meses
por um insatisfeito Michel Temer, escancara a estratégia de tentar se descolar
do processo de impeachment, que avança a passos largos na Câmara dos Deputados,
e garantir sobrevida, ainda que momentânea, ao partido que gravita na órbita do
PT desde a ascensão de Lula ao Palácio do Planalto. "Não podemos ser
reféns do governo", disse um cacique peemedebista. Nas palavras de um
peemedebista, não é possível haver solidariedade se isso significar
"suicídio político".
Internamente, também amplia o
quadro de esgarçamento da relação PT-PMDB a percepção de peemedebistas de que o
governo de Dilma Rousseff não tem condições de controlar o avanço da Lava Jato,
operação que promete jogar por terra mandatos de ilustres políticos do partido.
Estão atolados em denúncias de corrupção nomes de proa da sigla, como os
presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), e do Senado, Renan Calheiros (AL), os
senadores Jader Barbalho (PA), Romero Jucá (RR) e Valdir Raupp (RO). O próprio
vice-presidente Michel Temer apareceu recentemente como citado na delação
premiada do ex-líder do governo no Senado Delcídio do Amaral.
Mesmo com
o desmoronamento da massa de apoio ao cambaleante governo Dilma, alguns
ministros indicados pelo partido opunham-se em abrir mão do cargo. O titular de
Minas e Energia, Eduardo Braga, ex-líder do governo e um dos peemedebistas mais
próximos da presidente, resistiu, mas depois entendeu que precisava deixar o
cargo. Alvo da Operação Lava Jato, o ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo
Alves e um dos mais próximos do vice Michel Temer abriu a fila dos
demissionários ao entregar nesta segunda-feira a Pasta do Turismo. Alves perde
o foro e, se as investigações contra ele avançarem no petrolão, pode ter seu
caso analisado pelo juiz federal Sergio Moro, de Curitiba. "Ele chorou
menos desta vez", disse um aliado ao descrever a decisão do chefe do
Turismo de abrir mão da pasta.
Também
entre os ministros peemedebistas reticentes em abandonar o governo, uma das
possibilidades é que políticos com cargos majoritários, como a senadora e
ministra da Agricultura, Kátia Abreu, deixem a legenda ou pelo menos se
licenciem para manter o posto na Esplanada. Situação semelhante ocorre com o
ministro da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera, que disse ter pedido ontem à
presidente Dilma e ao vice Michel Temer para continuar à frente do posto
executivo.
O PMDB
representa hoje as duas maiores bancadas no Congresso Nacional e era tido pelo
Planalto como o contrapeso ao processo de impeachment. Além de não contar mais
com a legenda, o governo deve amargar um efeito avassalador do desembarque
peemedebista: o abandono de outros aliados, como o PP, PSD e PR, que esperavam
a decisão do PMDB para chancelar a saída da base governista.
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