Uso do FGTS como garantia para contratação de crédito consignado pode desvirtuar a destinação dos recursos, com foco na habitação
A medida provisória que autoriza o uso de recursos no FGTS como
garantia para empréstimos consignados (com desconto em folha) pode ajudar a
suavizar a vida financeira de endividados, mas o setor imobiliário teme
esgotamento do fundo já que sua principal finalidade é a habitação. A
expectativa do Ministério da Fazenda é que a iniciativa viabilize 17 bilhões de
reais em créditos, embora até os favoráveis à decisão acreditem que somente
cerca de 1 bilhão de reais desse montante vire de fato novas operações neste
ano, em meio à fraca demanda por crédito.
Voltada
para trabalhadores do setor privado, a MP 719 prevê que 10% do saldo dos
recursos no FGTS ou até 100% do valor da multa rescisória por demissão sem
justa causa sejam convertidos para crédito foi publicada na quarta-feira, mas
ainda depende da definição das regras por parte do conselho curador do fundo
(CCFGTS) que se reunirá nesta quinta-feira. Neste momento, os bancos estão
avaliando a medida e devem enviar sugestões para a Federação Brasileira de
Bancos (Febraban) que, posteriormente, deve endereçar a demanda ao CCFGTS.
O assunto, conforme fonte ouvida pela Agência Estado está quente e muitos são contrários à
medida. "Não vai funcionar", avalia o executivo de um banco. Para um
especialista, que também prefere falar na condição do anonimato, o uso dos
recurso do FGTS como garantia de crédito consignado pode acelerar o esgotamento
do fundo que, conforme estimativas, somava cerca de 340 bilhões de reais em
contribuições de trabalhadores ao final do ano passado. "Se a atual
situação do país perdurar, isso pode acontecer", diz ele.
Representantes
do mercado imobiliário alertam ainda que o uso do FGTS como garantia para
contratação de crédito consignado pode desvirtuar a destinação dos recursos do
Fundo. Na opinião do diretor da Associação Brasileira de Incorporadoras
Imobiliárias (Abrainc), Luiz Fernando Moura, a medida provisória aumenta a
preocupação de um desgaste do FGTS, diante de níveis elevados de desemprego.
"Em
um momento de desemprego alto, a garantia do FGTS pode virar fonte de
pagamentos", afirma o executivo da Abrainc. Como consequência de possíveis
saques do FGTS, há o risco de redução dos recursos direcionados para construção
civil e infraestrutura.
Em
contrapartida, alguns executivos do setor bancário defendem a medida como uma
alternativa para endividados colocarem as contas em dia em um prazo maior e a
juros menores. Eduardo Jurcevic, diretor de crédito consignado do Santander
Brasil, avalia que, do ponto de vista do setor privado, a medida provisória
pode contribuir para a adequação de produtos às necessidades das pessoas.
"Será possível oferecer condições mais positivas para que os trabalhadores
se adequem ao cenário atual que estão vivendo", pondera ele.
(Com Estadão Conteúdo)
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