Comício em Nascente da Frente Popular do Araripe, encabeçada pelo Dr. Pedro Alves Batista
Continuando a série da Campanha para prefeito de Araripina em 1988, vendo pelo lado nostálgico dos comícios em cima dos caminhões, das pessoas dançando nos showmícios ao som das músicas da época, dos carros transportando pessoas penduradas nas suas carrocerias, das crianças acompanhando os discursos dos oradores, dos correligionários, da política feita no corpo a corpo, olho no olho, com o contado direto com o eleitor, e do forró nas comunidades rurais com a pinga rolando solta. Era muito bom quando voltávamos das serras, dos sítios, ouvindo o candidato feliz, além das “anedotas” que contávamos de cada evento que acontecia fosse no Mulunguzinho, Flamengo, Jardim, Marinheiro, ou qualquer localidade da zona rural que as comitivas passavam. Lembro que fizemos campanha para Dr. José Alencar que era candidato vereador, e o carro de som era munido de equipamentos de som, inclusive um microfone que era aberto para as pessoas falarem, e fazerem os seus pedidos, claro, estratégia de campanha, do saudoso Raimundo Lopes, o “Leão do Sertão” que varava noite “distribuindo o mijo do leão” para os seus eleitores. Tudo feito de forma simples, sem muita maldade.
O lema na época, ou o mote da campanha de Dr. Pedro Batista era “Araripina conta com vocês”, e tinha na chapa Pedro Batista – prefeito e Alencar Barreto, o vice. A campanha acontecia em outubro de 1988, e o material a que tivemos acesso, mostra como eram os comícios, palanque para se apresentar os candidatos, os militantes, o locutor (Lourenço Santos) avisando que o caminhão (palanque) estava chegando, o som tocando as músicas da época (Chiclete com Banana, Assisão, Xuxa), uma faixa com o nome do Candidato Arlindo (Cordeiro)do MDB, e novamente o locutor comunicando que a apresentação do sanfoneiro para animar a plateia presente, e pede em voz alta que a “multidão” grite e levante as mãos, e o mesmo entoe o coro – É Pedro Batista ou não é?, ouvindo a resposta das pessoas que também seguem em bis.
1º de outubro de 1988
O locutor anuncia a presença do “futuro vice-prefeito”, Alencar Barreto e novamente agora rimando – Eu pergunto a vocês: - Para um governo popular, Pedro Batista e Alencar, ou não é? O povo responde com muita vibração e o locutor segue o mesmo refrão (- É Pedro Batista ou não é?) para que as pessoas sigam em coro e com muita vibração.
O presidente do MDB, o senhor José Leite, é convidado a se fazer presente no palanque. O processo segue o mesmo ritmo do atual, em que a presença dos ilustres ou lideranças políticas, são frequentes para fortalecer o candidato.
A fala do candidato Pedro Batista naquela noite era para ele como uma surpresa por acreditar que o público esperado como ele mesmo mencionou no seu discurso, era um punhado, mas que tinha encontrado uma multidão. Criticou o atual prefeito por puxar um filete de calçamento e lá na frente aparecia a casa do cidadão, Arlindo Cordeiro, ele parava a obra. Falou que no próximo ano, de acordo com a nova constituição, o município ia ter dinheiro, e que este seria bem aplicado.
Dr. Pedro Alves Batista representava a Frente Popular do Araripe contra o candidato do PFL, Valdemir Batista de Souza (Dr. Mimi)
Arilson Romualdo, Valdenar, Antonio Vitalino, são convidados para subir ao palanque, o locutor comunica a presença de Jesus Cabeleireiro (figura conhecida à época e candidato a vereador) reforçando a comitiva do Dr. Pedro Batista. O locutor chama o primeiro “palestrante”, termo que era utilizado ao invés de orador, e narra suas credenciais como um radialista apresentador do programa “Encontro Sertanejo”, da Rádio Grande Serra, também conhecido como poeta, repentista e sindicalista, Luís Cachoeira (candidato a vereador).
Os oradores falam das realizações do então candidato e atual prefeito Dr. Pedro Batista no seu distrito (Nascente) local do evento, e ataca o seu oponente dizendo que ele só tem dinheiro e não sabe administrar. Outros oradores o sucedem, a exemplo do Professor Marcílio Vieira, Dr. Esdras Farias, Arlindo Cordeiro, Alencar Barreto, que segundo ele, foi acusado pela oposição de perseguir o povo de Nascente quando exerceu a função de fiscal como funcionário do Banco do Brasil, quando era para liberar recursos para os agricultores daquele distrito. O vice pede voto para Pedro Batista e ensina o povo que o segundo quadrinho (da cédula eleitoral) é o que deve ser riscado no dia 15 de novembro. Promete acabar com o isolamento daquele distrito e culpa o governo passado.
O candidato Dr. Pedro Batista discursa. Veja os trechos transcritos por nós:
- Quando nós chegávamos a este glorioso distrito, sentíamos uma emoção muita grande, porque nós esperávamos aqui um punhado de gente, e no entanto nós encontramos, para surpresa nossa, esta multidão ...
- Eu acredito que não foi Arlindo, não foi Barreto, nem Pedro Batista, eu acredito que foi este casal, Moisés e sua esposa, aqui no Caldeirão, que, coordenou todos as ações, para que este povo aqui nesta noite viessem aplaudir os candidatos da Frente Popular. Os candidatos que estão com o povo e, que no dia 15 de novembro, vocês vão, com este mesmo propósito, votar no número 15, porque vocês estão votando em vocês mesmos, porque vocês precisam se libertar.
- Quando o prefeito atual puxava um filete de calçamento e lá na frente aparecia a casa de um cidadão que luta por esse povo, o cidadão Arlindo Cordeiro, ele parava o calçamento. Mas por quê? Será que este homem não é digno de Deus?
- Se Deus quiser para o ano, de acordo com a nova constituição, ela vai ter dinheiro e muito, e esse dinheiro vai ser bem aplicado. Esse dinheiro não vai ser uma expressão vulgar...
- Quando eu andava pela Chapada, pela Cabeça do Bode, que esse povo não sabe onde é isso, quando eu andava na Malhadinha, que este baluarte, este [...]sertanejo que está aqui no meio de vocês, Arlindo Cordeiro, pedia a este governo popular, e lá as obras estão feitas. Eu vi o açude de Malhadinha completamente cheio, eu vi as mulheres, aquelas pobres lavando as suas roupas, de uma água trazida da represa feita pelo pedido de Arlindo, pelo governo que eles dizem aí que é comunista. Comunistas são esses que estão aí, escravizando o povo, comprando a consciência do povo. Eles “tão” dando duzentos (200) mil cruzeiros, aquele candidato para ir campear votos. Ele não acha votos, aí ele faz o quê? Ele vai beber cana, desmoralizar as famílias e a sociedade.
- Nós estamos aqui é “pra” dividir com vocês, o pão de cada dia de cada um de nós. Nós não “tamos” aqui para desmoralizar as famílias de Nascente, porque nós conhecemos a Família Cordeiro, a Família, uma família grande, e todas as outras.
- Eu acho humilhante (se dirigindo às professoras) a Escola Machado de Assis e a Escola Santa Marta, eu lhe pergunto: - Aquilo é escola ou é latada pra se botar jumento debaixo? (Aplausos)...
- Vergonha para a Secretaria de Educação de Araripina.
E a novela da campanha de 1988 em que disputavam o candidato do governo Miguel Arraes (MDB) Pedro Alves Batista e o candidato do então prefeito José Valmir Ramos Lacerda, Valdemir Batista de Souza (PFL)continua, só lembrando a vocês leitores que mantivemos a leitura da degravação em sua versão original e sem alterar o conteúdo, apenas excluindo alguns trechos que ficaram inaudíveis.
Ressaltando mais uma vez que o conteúdo exibido tem apenas um sentido histórico-político e, que, acreditamos que todos farão uma leitura com muita nostalgia dos velhos tempos e da velhas maneiras das disputas políticas-partidárias em nossa Princesa do Sertão.
"Resgatar um pouco da nossa história nos faz viajar no tempo em busca das nossas raízes"
Blog do Paixão