O auxiliar administrativo Cláudio Pereira dos Santos, de 34 anos, fugiu
pela janela da sala onde trabalhava.

Cláudio Pereira do Santos conta que fugiu pela janela e conseguiu sobreviver. — Foto: Jorge Soares/G1/Reprodução
Por Paula Paiva Paulo, G1 Minas — Brumadinho
Um vídeo gravado
por um vigilante da Vale após a tragédia que já deixou 99 mortos e 259
desaparecidos mostra a destruição do local depois do rompimento da barragem.
Ele aponta que ali ficavam os escritórios e o refeitório. Ao final, uma guarita
verde aparece intacta. Ali ficava a sala onde trabalhava o auxiliar
administrativo de 34 anos, Cláudio Pereira do Santos, que fugiu pela janela e
conseguiu sobreviver.
Cláudio recebia as
notas fiscais de todos os carregamentos que chegavam na Mina do Feijão. “Eu
tinha acabado de ligar para minha sobrinha, às 12h24 conversei com ela no
Whatsapp. Logo após eu fiz o cadastro de uma nota, muito rapidamente, e nesse
intervalo eu fui para o banheiro, foi quando ouvi o barulho”.
O auxiliar
administrativo achou que fosse um caminhão com o pneu estourado. “Quando abri a
porta já me deparei com toda a destruição”. Segundo ele, a correnteza de lama
estava a cerca de 5 metros da sala.
“Eu cheguei a ver pessoas caindo, não conheci quem, pessoas caíram,
parece que machucaram a perna, e a lama pegou”.
A primeira pessoa
em que pensou foi no irmão, que ele tinha visto entrar durante a manhã na mina.
Mas não havia tempo de ligar para saber onde ele estava. “A sensação no momento
em que eu pulei a janela e comecei a correr é que a lama ia me pegar, porque eu
não olhava para trás, eu só sentia ela passando a minha esquerda”.
Apesar do risco de
morte iminente, Cláudio disse que sentiu uma ‘paz espiritual’ durante a fuga.
“Quando eu corria ali, eu senti uma paz espiritual muito grande, como se eu
fosse morrer mas eu estava bem com Deus. Mas, o meu psicológico teve muito medo
na hora de demorar para morrer. Se eu morresse rápido, não teria problema, foi
o que pensei na hora, mas eu tive medo de ficar agonizando na lama por muito
tempo, esse foi meu único medo”.
Como já tinha
morado em um sítio na parte alta do Córrego do Feijão, ele sabia para onde ir.
Chegando lá, a primeira coisa que fez foi ligar para o irmão, e descobriu que
ele tinha saído da mina 20 minutos antes do rompimento. O local onde Cláudio
estava, no entanto, não estaria seguro se outra barragem da mina rompesse,
então, disse ao telefone ao irmão: “Se a segunda barragem estourar vai me atingir,
eu vou morrer, então meu corpo vai estar daqui [do sítio onde estava] para
baixo, você avisa”.
O auxiliar
administrativo conseguiu escapar, assim como mais de 100 funcionários da Vale,
as únicas pessoas resgatadas com vida após o rompimento da barragem, ainda na
sexta-feira, dia 25. “Foi um verdadeiro milagre eu estar vivo, primeiramente
porque minha sala ficou intacta, segundo porque eu ia almoçar 12h30 e fui 11h
porque me deu uma fome muito grande”.
Cláudio começou a
trabalhar na Mina do Feijão em 2007, em uma empresa terceirizada. Passou por
vigia, limpeza do asfalto, porteiro, até ser contratado efetivamente pela
mineradora, há cerca de seis anos, para o cargo de auxiliar administrativo.
Neste período, de segunda a sexta, estava na empresa de 7h30 às 16h30.

O auxiliar administrativo trabalhava na Vale desde 2007 — Foto: Jorge
Soares/G1/Reprodução
Missão e mensagem para o mundo
Da sexta-feira do
acidente até domingo, Cláudio, que é evangélico, disse que estava tão abalado
que “não tinha forças para orar”.
“A minha única oração era ‘obrigado, senhor, por eu ter sobrevivido’”.
No final do domingo, ele se reuniu com a família para rezar.
“E quando a gente
fez a oração, a mesma mensagem que eu havia recebido antes a essa tragédia, foi
a mesma mensagem que veio, ela [uma parente] cantou um louvor para mim, aquele
que fala ‘mil cairão ao teu lado, dez mil a tua direita, mas tu não serás
atingido porque eu sou o teu Deus’”.
Solteiro, Cláudio
mora com os pais, Maria José dos Santos, de 69 anos, e Valdemar Pereira dos Santos,
de 72.
“A minha missão na
Terra é cuidar dos meus pais. Eles vão primeiro, depois eu vou”. Eles moram no
Parque da Cachoeira, um dos bairros que teve casas destruídas pela lama. “Eu
fui atingido de duas formas, né, lá no serviço e aqui no bairro”.
“Eu creio que tem um espiritual muito forte em cima disse tudo, uma mensagem de Deus muito forte, não só para os brasileiros, não só os sobreviventes, mas para o mundo, uma mensagem para a raça humana, de que é tempo de colocarmos nossa vida verdadeiramente diante de Deus”, afirma Cláudio.
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