Operação Fantoche também apura
irregularidades envolvendo o Ministério do Turismo. Os dez mandados de prisão
foram cumpridos.
Por
Katherine Coutinho, Marina Meireles e Camila Bomfim, G1 PE e TV Globo*

Ricardo Essiger - Presidente da FIEPE, também foi alvo da Operação Fantoche. Foto: Reprodução
00:00/03:38
O presidente
da Confederação Nacional da
Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, foi preso pela Polícia FederaL (PF),
nesta terça-feira (19), dentro da Operação Fantoche, que investiga um esquema
de corrupção envolvendo contratos com o Ministério do Turismo (MTur) e
entidades do Sistema S, entre elas o Sesi. Segundo a PF, os dez mandados de
prisão foram cumpridos.

Robson Braga de Andrade - Presidente da CNI. Foto: Reprodução
A investigação
aponta que um grupo de empresas, sob o controle de uma mesma família, vem
executando contratos desde 2002 por meio de convênios tanto com o ministério,
quanto com o Sesi. Eles receberam mais de R$ 400 milhões por esses serviços.
A CNI afirmou que
"não teve acesso à investigação e acredita que tudo será devidamente
esclarecido" (leia a íntegra da nota abaixo). Também são alvo
de mandado de prisão temporária, de cinco dias, os presidentes das Federações
das Indústrias dos estados de Pernambuco, Alagoas e Paraíba, além de
empresários, um contador, um advogado e uma pessoa responsável pelo saque do
dinheiro desviado (confira a lista abaixo).
De acordo com o
delegado federal Renato Madsen, os empresários que são alvo da Operação
Fantoche são investigados pela criação de empresas de fachada. "Eles
criaram empresas sem fins lucrativos para dificultar a investigação do TCU [Tribunal de Contas da
União]. Queremos investigar até que ponto esse esquema partiu do
sistema S daqui [Pernambuco] e reverberou em outros estados", afirmou.Bom Dia Brasil
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Madsen explicou que
a investigação começou em 2014 a partir de uma empresa que estava recebendo
grande parte dos recursos para eventos culturais.
"Percebeu-se
que esses valores estavam superfaturados e que foram criadas empresas de fachada.
Conseguimos identificar também que o dinheiro não era destinado totalmente a
essas produções culturais", apontou o delegado.
O nome da operação
se deve a um dos festivais realizados pelo Sesi, o Bonecos do Mundo,
idealizado por Lina Rosa Gomes. Ela e mais dois dos alvos de prisão da Operação
Fantoche são da Aliança Comunicação. O advogado Ademar Rigueira, que representa
os três, disse "estranhar" o pedido de prisão e afirmou que vai
provar que não houve ilegalidade nas ações.
De acordo com a
investigação, a Aliança é a principal empresa beneficiada com os supostos
desvios e teria celebrado vários contratos com o Sesi para desenvolver uma
série de projetos culturais, como o Cine Sesi Cultural, o mais antigo em
execução (desde 2002), Na Ponta da Língua e o projeto Relix.
Mais de dez projetos são investigados.PF realiza
operação contra corrupção no Ministério do Turismo e no
O Sesi esclareceu
que "todos os contratos de patrocínio respeitam as leis de licitação e têm
processo transparente publicado em jornais". Eles informaram, ainda, que irão
colaborar com as investigações realizadas pela PF.
Em nota, a Aliança
afirmou que "os projetos passam por auditorias internas e externas, sem
qualquer tipo de restrições quanto à qualidade e à entrega". Além disso, a
empresa informou que está se "empenhando ao máximo para esclarecer todos
os questionamentos levantados pela Polícia Federal" (leia
a íntegra da nota abaixo).
A Aliança é,
também, a empresa responsável pela realização do São João de Campina Grande (PB)
desde 2017, por meio de uma Parceria Público-Privada (PPP). O contrato para a
festa de 2019 foi renovado e as primeiras atrações foram
anunciadas.
A Prefeitura de
Campina Grande ressaltou, em nota, que o evento não é investigado pela Polícia
Federal e que que a Aliança venceu a licitação para gerir a festa junina e
nunca recebeu nenhuma verba do Ministério do Turismo na atual gestão.
A nota diz, ainda,
que qualquer decisão a respeito do contrato entre o município e a empresa
Aliança só deverá ser adotada e anunciada pelo prefeito Romero Rodrigues (PSDB) ao longo da última semana de fevereiro, já
que ele está de licença.

Carros da Polícia Federal em frente à Casa da Indústria durante
cumprimento de mandados da Operação Fantoche, nesta terça-feira (19) — Foto:
Renato Ramos/TV Globo
Foram cumpridos,
ainda, outros 47 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal, Pernambuco, São Paulo, Paraíba, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Alagoas. Segundo a PF, é investigada a prática de
crimes contra a administração pública, fraudes licitatórias, associação
criminosa e lavagem de ativos.
A operação conta
com o apoio de auditores do Tribunal de Contas da União. A 4ª Vara Federal da
Seção Judiciária de Pernambuco ainda autorizou o sequestro e bloqueio de bens e
valores dos investigados.
Forma de atuação
Segundo a Polícia
Federal, o Ministério do Turismo e entidades do Sistema S fechavam contrato com
uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) para oferecer o
serviço cultural. A Oscip foi uma forma encontrada pela organização criminosa
para não prestar contas diretamente aos órgãos de fiscalização e se afastar da
contratação direta com o MTur e o Sistema S.
"O processo de
prestação de contas está previsto em legislação. O que se observa é que uma
organização criminosa se aproveitou dessa sistemática pra desviar esses
recursos", disse Madsen.
Para a elaboração
de um projeto cultural, a organização fazia uma cotação com três empresas de
fachada, ligadas entre si. Uma dessas empresas ganhava a cotação, recebia a
verba e repassava parte do dinheiro para uma empresa idônea executar o projeto.

Delegado federal Renato Madsen, durante coletiva da Operação Fantoche,
deflagada nesta terça-feira (19) em Pernambuco e outros estados — Foto: Marlon
Costa/Pernambuco Press
A maior parte dessa
verba, no entanto, ficava com a empresa de fachada. O valor era repassado entre
várias outras empresas, todas de fachada, para despistar o trabalho da Polícia
Federal. Os primeiros indícios de crime foram percebidos pelo Tribunal de
Contas da União.
"Quando
recebemos essas notícias, começamos a pedir quebra de sigilo bancário para
entender porque parte do dinheiro que era repassado para eventos culturais
ficava no meio do caminho", pontuou Madsen.
A investigação
aponta que Jorge Tavares Pimentel Junior e Júlio Ricardo Rodrigues Neves eram
os responsáveis por abrir as empresas de fachada e sacar o dinheiro que era
repassado para a realização dos projetos.
O esquema acontece
desde 2002, segundo o delegado. "A gente identificou esse início de fraude
aqui em Pernambuco e depois em outras empresas do Sistema S, em outros estados.
O momento agora é de investigar até que ponto os componentes do sistema tinham
envolvimento", afirmou o delegado.
A participação dos
presidentes da CNI, Fiepe, Fiep-PB e Fiea está sendo investigada. Segundo a PF,
alguns dos presidentes "se envolveram de forma mais direta com o
esquema", mas a atuação de cada um deles ainda vai ser alvo de apuração.
Veja
quem são os alvos de mandado de prisão da Operação Fantoche:
·
Robson Braga de Andrade - presidente
da CNI
· Luiz Otávio Gomes Vieira da Silva - empresário e um dos donos da Aliança
Comunicação, que já havia sido preso pela PF em 2013, na Operação Esopo
·
Ricardo Essinger - presidente da
Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe)
· Francisco de Assis Benevides Gadelha - conhecido como Buega Gadelha, é presidente da Federação das Indústrias do Estado
da Paraíba (Fiep-PB) e um dos vice-presidentes da CNI; a
entidade apontou que Francisco cumpre compromissos fora do estado e deve se
apresentar à PF no Recife
·
José Carlos Lyra de Andrade -
presidente da Federação das Indústrias de Alagoas (Fiea). A entidade confirma
que o presidente está em Brasília, mas informa que não teve acesso à
investigação
·
Lina Rosa Gomes Vieira da Silva -
empresária e publicitária, ligada à Aliança Comunicação
·
Hebron Costa Cruz de Oliveira -
advogado e presidente do Instituto Origami. Em nota, a defesa aponta que
"toda a sua conduta como advogado e presidente do Instituto Origami sempre
foi desempenhada dentro da mais estrita legalidade"
·
Jorge Tavares Pimentel Junior -
empresário sócio da empresa Neves e Silva Produção
·
Júlio Ricardo Rodrigues Neves -
empresário, sócio da Idea Locação de Estruturas e Iluminação
· Luiz Antônio Gomes Vieira da Silva - ligado à Aliança Comunicação
·
O último mandado de prisão foi cumprido no início da tarde desta
terça-feira (19). Segundo a PF em Pernambuco, Francisco Gadelha se apresentou
em Brasília.
Procurado
pelo G1, o Ministério do Turismo afirmou que
a atual gestão "já havia determinado uma auditoria completa em todos os
instrumentos de repasse antes mesmo de tomar conhecimento da investigação da
Polícia Federal, ação que resultou no cancelamento de um contrato no valor de
R$ 1 milhão".
Na nota, o
Ministério do Turismo lembrou, ainda, que não é alvo das buscas e apreensões da
Operação Fantoche e apontou que está totalmente à disposição para colaborar com
a investigação.

Documentos apreendidos na Operação Fantoche chegam à sede da Polícia
Federal, no Recife, nesta terça-feira (19) — Foto: Marlon Costa/Pernambuco
Press
Mandados em Pernambuco
São 29 mandados de
busca e apreensão em Pernambuco e sete de prisão temporária. A Casa da
Indústria, na região central do Recife, está
entre os locais em que as equipes da PF foram durante a manhã.
Entre os alvos da
Operação Fantoche, estão o Instituto Origami, Aliança Comunicação e Cultura,
Idea Locação de Estruturas e Iluminação, Somar Intermediação e Negócios e
Ateliê Produções Artísticas. O G1 tenta contato com
as empresas.
Em nota, o Ateliê
Produções afirmou que todos os serviços prestados à Aliança Comunicação
"cumpriram rigorosamente os contratos firmados, cujas comprovações foram
entregues nesta terça-feira (19) à Polícia Federal, no intuito de colaborar com
a operação deflagrada pela mesma (leia
a íntegra mais abaixo)".
Confira as respostas na íntegra
·
Confederação Nacional da Indústria:
·
"A Confederação Nacional da
Indústria (CNI) tem conhecimento de que o presidente da entidade, Robson Braga
de Andrade, está na Polícia Federal, em Brasília, prestando esclarecimentos
sobre a operação deflagrada na manhã desta terça-feira (19/02). A CNI não teve
acesso à investigação e acredita que tudo será devidamente esclarecido. Como
sempre fez, a entidade está à disposição para oferecer todas as informações que
forem solicitadas pelas autoridades."
·
Sesi:
·
"Sobre as recentes investigações
ao Sistema S, esclarecemos que todos os contratos de patrocínio do Sesi
respeitam as leis de licitação e tem processo transparente publicado em
jornais. Informamos ainda que a entidade vai colaborar no que for possível com
as investigações realizadas pela polícia."
·
Fiepe:
·
"Sobre a operação deflagrada na
manhã desta terça-feira (19/02), a Federação das Indústrias do Estado de
Pernambuco (FIEPE) informa que o seu presidente, Ricardo Essinger, está
prestando esclarecimentos na Polícia Federal. Todos os processos atendem, criteriosamente,
às exigências licitatórias previstas em lei a equipe técnica da entidade está à
disposição para contribuir com a documentação que for solicitada pelos
responsáveis pela investigação."
·
Fiea:
·
"A Federação das Indústrias do
Estado de Alagoas (Fiea) tem conhecimento de que o presidente da entidade, José
Carlos Lyra de Andrade, está na Polícia Federal, em Brasília, prestando
esclarecimentos sobre a operação deflagrada na manhã desta terça-feira (19/02).
A Fiea não teve acesso à investigação e acredita que tudo será devidamente
esclarecido. Como sempre fez, a entidade está à disposição para oferecer todas
as informações que forem solicitadas pelas autoridades."
·
Fiep-PB:
·
"A Federação das Indústrias do
Estado da Paraíba, tomou conhecimento sobre operação de âmbito nacional, cujo
teor das investigações ainda são superficiais, basicamente através de
informações da imprensa.
·
O Presidente Francisco Gadelha está no
cumprimento de compromissos em viagem anteriormente marcada e se apresentará
espontaneamente às autoridades nesta quarta-feira (20), em Recife, para prestar
todos os esclarecimentos que se fizerem necessários e determinou que sejam
prestadas todas as informações requisitadas pelos órgãos competentes para
colaborar e esclarecer quaisquer fatos necessários. Ele acrescenta, ainda, que
o Sistema Indústria da Paraíba está tranquilo e sem qualquer receio."
·
Federação das Indústrias de Minas
Gerais (Fiemg):
·
"A respeito da operação 'Fantoche'
deflagrada hoje pela Polícia Federal em Pernambuco, com reflexos em outros
estados, o Sistema FIEMG informa que apoia o trabalho da PF e está colaborando
no fornecimento de todas as informações e documentações solicitadas. A entidade
está pronta a cooperar, reforça que a atual gestão preza pela transparência e
estará sempre ao lado dos interesses da sociedade."
·
Ministério do Turismo:
·
"A atual gestão do Ministério do
Turismo já determinou uma auditoria completa em todos os convênios da pasta e
cancelou convênio no valor de R$ 1 milhão antes mesmo de tomar conhecimento da
investigação da polícia federal. É importante esclarecer que nenhum contrato
foi assinado nesta gestão. O Ministério do Turismo está à disposição para colaborar
na apuração dos fatos."
·
Aliança Comunicação e Cultura:
·
"A Aliança Comunicação e Cultura
reafirma seu compromisso em produzir projetos culturais com conteúdo de
altíssima qualidade, e que têm se traduzido em sucesso de público e de crítica
por quase 20 anos. Ao longo desse tempo, levamos o que há de melhor no mundo
das artes para mais de 10 milhões de brasileiros, em todos os estados da
federação e no Distrito Federal, sempre com acesso gratuito. Reforçamos, ainda,
que todos os nossos projetos passam por auditorias internas e externas, sem
qualquer tipo de restrições quanto a qualidade e a entrega de TODOS os itens
contratados. Nesse momento, estamos nos empenhando ao máximo para esclarecer
todos os questionamentos levantados pela Polícia Federal. É do nosso maior
interesse que tudo seja elucidado o mais rápido possível."
·
Ateliê Produções Artísticas:
·
"O Ateliê Produções, empresa
pernambucana com 17 anos de atuação no mercado audiovisual brasileiro,
esclarece que tem entre os seus clientes a Aliança Comunicação, para a qual
presta serviços de audiovisual desde 2004, tendo realizado neste período
diversos trabalhos, de projetos culturais a publicitários. Todos estes serviços
cumpriram rigorosamente os contratos firmados, cujas comprovações foram
entregues nesta terça-feira (19) à Polícia Federal, no intuito de colaborar com
a operação deflagrada pela mesma. A produtora, que tem uma vasta carteira de
clientes, públicos e privados, além de inúmeras premiações como reconhecimento
ao trabalho desenvolvido, manterá sempre abertos o seu portfólio, arquivos e
qualquer outros dados que venham a ser úteis aos esclarecimentos buscados nessa
ação."
·
Alto Impacto Produções:
·
"A Alto Impacto Produções atua no
mercado de entretenimento há mais de 10 anos, tendo realizado projetos
culturais e grandes shows de artistas nacionais e internacionais, sempre se
pautando pelo profissionalismo e qualidade na entrega. A empresa esclarece que
está colaborando com as autoridades no intuito de dirimir qualquer
questionamento sobre os projetos que participa."
·
Instituto Origami:
·
"O Instituto Origami é uma associação civil de direito privado,
independente, sem fins lucrativos e apolítica. E informa que está colaborando
com todas as demandas das autoridades no sentido de esclarecer eventuais dúvidas
sobre os projetos que realiza."
·
Fecomércio, Sesc e Senac:
·
"O Sistema Fecomércio/Senac/Sesc
em Pernambuco esclarece à opinião pública que nenhuma de nossas instituições
está envolvida na Operação Fantoche, da Polícia Federal, que investiga um
esquema de corrupção por meio de convênios com o Ministério do Turismo e
algumas entidades do Sistema S. Vale lembrar que o Sistema S é composto por
nove instituições corporativas voltadas ao treinamento profissional, pesquisa e
assistência técnica e social. O Sistema Fecomércio/Senac/Sesc-PE reafirma que
não praticou nenhum ato ilícito e não é citado ou investigado em nenhuma
operação ou processo criminal."
·
OAB-PE:
·
"A OAB-PE informa que tomou
conhecimento do fato de que um advogado inscrito na Seccional de Pernambuco foi
alvo de mandado de prisão temporária dentro da Operação Fantoche, deflagrada
pela Polícia Federal nesta terça-feira (19/02). A OAB-PE está prestando a
assistência dada a todos os advogados para garantia das prerrogativas previstas
na Lei n. 8.906/94 e aguardará a conclusão do inquérito policial para a adoção de
outras medidas."

Polícia Federal cumpre mandados em Pernambuco dentro da Operação
Fantoche, nesta terça-feira (19) — Foto: Marina Meireles/G1
*Colaborou
G1 PB
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