sábado, junho 29, 2019

HISTÓRIA DE ARARIPINA: ARARIPINA E SEUS ASPECTOS ECONÔMICOS

1 – O comércio. 2 – A indústria. 3 – A agricultura. 4 – A pecuária.
 

Bodega do Seu Saraiva

ue tal lembrar aqui da primeira farmácia instalada no Município por Álvaro Campos que sequentemente atraíra outros comerciantes importantes como Seu Zuzinha, Seu Mitonho, Joaquim Berto, Valdemiro Lacerda, Joaquim Pereira Lima entre outros.

Lembrar do Café de Saturnino, Café de Antônio Olímpio, Café de João Martins, Café de Ana Preta, Café de Seu Ném, Café de Sá Dindeza, Café de Mocinha, Café de Zé Alves, Café de Alzira, Café de Antônio Monteiro. 

Os cafés eram ponto de encontro para as prosas à noite.

1 - O COMÉRCIO. O comércio de Araripina sempre foi florescente e promissor. A feira local começou com o povoamento da Fazenda São Gonçalo e se tem notícia de que era muito concorrida, no começo do século (1). Em 1910, Antônio de Barros Muniz, Totonho Cícero, instalou na Vila uma loja de tecidos. O Capitão Chico Ramos, em sociedade com os seus cunhados Francisco Carlos e José Carlos, estabeleceu-se, em 1922, com uma casa do ramo de tecido. Vicente Alexandrino, cearense, em sociedade com Zito Alencar, também negociava em São Gonçalo com tecidos. Essa loja, por volta do ano de 1926, foi vendida a Senhor Bringel. Em 1930, chegou a São Gonçalo, Álvaro Campos, que se estabeleceu com uma farmácia, a primeira montada na Cidade. O restante do comércio era constituído de mercearias, as famosas bodegas, de armazéns de cereais, couro, algodão mamona, e dos tradicionais “cafés”.

Nos anos 30 e 40, chegaram a São Gonçalo muitas famílias, cujos chefes se estabeleceram no comércio. José Barreto Alencar, Dorico; Manoel Rodrigues Neto; José Saraiva Correia; Seu Zuzinha; Pedro Barreto Alencar, Orimedon; Alexandre Alencar de Lima, Seu Alexandre; Antônio Ribeiro de Carvalho, Seu Mitonho; Valdemiro Lacerda; Joaquim Alves de Castro, Joaquim Berto; José Jacó; Sinval Duarte e outros, que se juntaram a Evaristo Sinfrônio, Israel Modesto, Joaquim Pereira Lima, Pedro Jacó, Severino Bandeira, Totoinho Granja, formando o peso do comércio local. 

Os armazéns comerciavam com farinha de mandioca, milho, feijão, algodão, mamona, peles e couro. Eram os de Procópio Modesto, em sociedade com Seu Né, de Joaquim Modesto, de Afonso Modesto, de Major Quincó, que explorava também o descaroçamento do algodão, através de um pequeno motor, Seu Quelé (de Petrolina), de Seu Dionísio, de Josafá Soares, de Tiago Dias, de Zé Bringel.



Os cafés eram ponto de encontro para uma boa prosa à noite, intercalada com goles do café torrado e pilado em casa. Nos dias de feira e de festas, o movimento era grande, com completo serviço de restaurante, que não havia na cidade: café, leite, pão, bolo, doce, frutas e almoço – carne guizada, lombo, carne assada, feijão, arroz, farinha e, para os mais exigentes, macarrão. Os cafés não tinham nome fantasia, eram conhecidos pelo nome de seu proprietário: Café de Saturnino, Café de Antônio Olímpio, Café de João Martins, Café de Ana Preta, Café de Seu Ném, Café de Sá Dindeza, Café de Mocinha, Café de Zé Alves, Café de Alzira, Café de Antônio Monteiro. Era muito comum e natural se dizer: “eu estava em Ana Preta, quando ouvi...”, ou “vi fulano em Zé Alves”. Ana Preta foi a primeira a botar um hotel em São Gonçalo, para pousada dos viajantes e hospedagem dos funcionários públicos que trabalhavam em São Gonçalo. 

Havia ainda os bares, local mais sofisticado e frequentado geralmente por rapazes e os homens de finura. Ali se tomado geralmente por rapazes e os homens ou mesmo uma “chora na rampa” ou “Chica boa”. O bar era iluminado com as famosas “petromax”, de alta capacidade de iluminação. Era um ambiente agradável, de longos papos que se estendiam noite a dentro. O rádio a bateria completava o ambiente, trazendo as notícias do mundo. O Bar de Nilo, com seu bilhar; o Bar de Nabor, que depois foi de Andrade e de Raimundo Araújo; o Bar de Vespúcio, que, além do bilhar, tinha uma sinuca, a grande novidade da época. Não era o ambiente para o menino, a não ser os mais saídos. Dota, Geraldo de Dércio, Djalma de Seu Lídio, Eliomar de Seu Evaristo, Luiz Barreto e outros que não me lembro. Eram os bares considerados casa de jogo, por isso, a restrição dos pais em deixar os filhos ali ficarem mais tempo do que o necessário para comprar o picolé.

Com a chegada da estrada de rodagem, em 1946, o comércio de Araripina tomou grande impulso e entrou numa fase de franco desenvolvimento. As antigas bodegas, mercearias, lojas de tecidos, armazéns foram se transformando em empresas e que constituem hoje, o grosso comércio araripinense, já contando com mais de três dezenas de comerciantes atacadistas e perto de 400 varejistas. Algumas dessas empresas são as de origem: a Casa Neto, de Manoel Neto Rodrigues e Ribeiro Carvalho e Cia. Ltda., de Seu Mitonho e dos filhos de Edmundo e Ribamar, como exemplos de pioneirismo. Atualmente dominam o comércio de Araripina Chico Nunes, Berto, Zé Nunes, Deoclides, Elisvaldo a quem vieram se juntar Joaquim Nogueira, Afonso Nunes, Joaquim Amando, Irmãos Bezerra, em reforço ao desenvolvimento e ao progresso da região. 

2 - A INDÚSTRIA. O setor industrial de Araripina é de formação recente. Teve o seu impulso desenvolvimentista na década de 60. Antes, Antônio Batista de Souza, vindo da serra Branca, no ano de 1942, instalara uma rudimentar fábrica de cigarros, com todo o trabalho manual. João Lira de Carvalho dava início a indústria de bebidas, em 1949, progredindo e expandindo as suas atividades. Hoje, duas indústrias de grande porte capitaneiam o crescente parque industrial de Araripina, sob a orientação de gente da terra, a do Grupo Lacerda e a do grupo Valdeir Batista de Souza, com o comando de Onofre Lacerda e de Valdeir Batista, respectivamente. 

A Indústria e Comércio de Óleo de Araripina – ICOASA, resultou de um arrojado projeto do Dr. Onofre Lacerda de Souza, economista e araripinense de muita fibra, para a extração do óleo de mamona e a industrialização do farelo, aprovado, em 1968, pela Resolução n.º 3.771 da SUDENE. Essa indústria coloca no mercado internacional (França, Japão, Holanda e Estados Unidos) sua produção de óleo e abastece o mercado interno com a torta da baga da mamona. O Dr. Onofre Lacerda dirige um complexo industrial nos Estados de Pernambuco e Maranhão. 

O administrador Valdeir Batista de Souza é outro araripinense timoneiro da indústria local, que atua no ramo têxtil com a Araripe Têxtil S/A – ARTESA e suas empresas “holding” em Araripina e São Paulo. Seu grupo data de 1972. 

Outra indústria que merece destaque pelo seu pioneirismo é a Organização Expedito Granja Arraes, fundada em 10.05.50, operando no ramo de moagem e torrefação de café, na industrialização do milho e na fabricação de farinha de mandioca, através de modernos processos de especialidade. 

Indústria incipiente, mas de grandes perspectivas, é a do gesso, através da calcinação da gipsita, mineral encontrado nas grandes reservas da região. A exploração da gipsita vem da década de 40, quando se fundou a Sociedade Mineradora Ponta da Serra Ltda. A gipsita era exportada em seu estado bruto para o sul do país, com altos custos de transporte. O Município localiza oito minas, sendo que somente duas estão em regime de exploração, com a produção de 44.050 toneladas. 

Instalaram-se, na Cidade, pequenas fábricas de calcinação da gipsita, onde se produz o gesso em pó, utilizado na confecção de blocos para forros e paredes divisórias e no fabrico de telha de cimento. O pioneiro nesse setor é Antônio Semeão Sobrinho, que, aproveitando o protótipo da casa de farinha, desenvolveu uma técnica de industrialização da gipsita, atingindo uma produção diária de mais de 700 sacas de gesso em pó. 

A instalação dessa indústria de gesso, de forma desordenada e sem qualquer planejamento, dentro do perímetro urbano, trouxe a nefasta consequência da poluição ambiental, que além dos malefícios à população, inibe a expansão industrial desse importante setor da economia municipal. Em 1984, o Governo do Estado anunciou ter alocado verba de mais de 250 milhões de cruzeiros, para a execução de obras estruturais – sistema viário, ligação de energia elétrica e abastecimento d’água – do Distrito Industrial de Araripina. Está reservada uma área de 39 hectares, nas proximidades do Distrito de Rancharia, para a instalação desse parque industrial (2). 

3 - A AGRICULTURA. A atividade produtiva básica do Município é a agricultura, sustentáculo da economia local, com a produção de milho, feijão, mandioca, mamona, algodão, etc. As terras da Chapada do Araripe são propícias à cultura da mandioca, de que se produz farinha, em larga escala. Em épocas passadas a produção da farinha de mandioca abasteceu o mercado interno e chegou a exportação para o exterior. A fertilidade do solo, mesmo nos anos mais escassos de chuvas, oferece uma produção de 25 toneladas por hectares. A mecanização das casas de farinha e o uso de energia elétrica elevaram sobremaneira a produção de farinha de mandioca e melhoraram a sua qualidade, com sensível redução de custos. 

Na área do Município, a Chapada do Araripe era dividida em glebas, aforadas pela municipalidade – as terras eram devolutas – aos agricultores que pretendessem cultivá-las. O foro era pago sob forma de imposto ao Município, incidindo também sobre os aviamentos (3). Os contratos de aforamento eram verbais e os titulares do domínio útil podiam transferi-los livremente, sem qualquer formalidade. A situação impossibilitava os agricultores operarem nos bancos. Nos anos de 60, a Prefeitura fez um levantamento das terras da Chapada do Araripe, junto ao então INDA, para regularização da área, trabalho do Dr. Ranilson Ramos, na época, Técnico da Sudene, que resultou numa minirreforma agrária, na gestão do Prefeito Raimundo Batista de Lima. Toda área municipal da Chapada do Araripe está ocupada e eletrificada e a exploração foi diversificada com outras lavouras e, principalmente com o plantio de pastagem para o gado bovino e caprino. São boas as perspectivas do desenvolvimento da pecuária, na região outrora explorada com a monocultura da mandioca. 

Apesar das adversidades climáticas, aliadas à precariedade de meios de recursos, a agricultura do Município é a mais importante da região. Segundo dados do IBGE, em 1979, o Município produziu em 17.000 h., 8. 500 toneladas de feijão; e 13.590 toneladas de milho, lavouras que mais contribuíram na economia local. Entre outros produtos da agricultura municipal destacam-se o algodão herbáceo, a mamona, a batata doce e, agora, o caju. 

Como órgãos de apoio à agricultura, conta o Município com a Cooperativa Agropecuária, o mais antigo estabelecimento no ramo, um Posto de Pesquisas Agronômicas, um Escritório de Extensão Agrícola, um Posto do Departamento Estadual de Produção Vegetal, além de outras entidades de assistência social e jurídica ao agricultor, como o Círculo Operário Católico e o Sindicato Rural. Na linha de crédito, atuam o Banco do Brasil, o Bandepe, a Caixa Econômica, o Bradesco e o Banco do Nordeste.

A PECUÁRIA. Os primeiros habitantes de São Gonçalo foram atraídos pela boa pastagem existente na região. Muitos fazendeiros de fora, sobretudo do Ceará e do Piauí, atravessavam a Serra com o seu gado, para a pastagem nas grandes “soltas”. Assim foi Alexandre Arraes, Victor José Modesto, João Custódia e José Martins. Terminaram ficando. A ocupação definitiva das terras da Fazenda São Gonçalo foi escasseando a pecuária, cedendo lugar para a agricultura. 

Hoje, a com a regularização das terras da Chapada do Araripe, a pecuária do Município está bem desenvolvida. O principal rebanho bovino, com mais de 20 mil cabeças, seguindo-se o rebanho suíno, com 14.500 cabeças, o caprino, com 10.700 cabeças e o ovino, com 5.600 cabeças. É inexpressivo o rebanho equino. 

O rebanho de gado leiteiro é pequeno e atende apenas a alimentação das crias e, em parcela ínfima, da população. Destaca-se, nesse setor, o pecuarista Emitério Marcelino Mendes e a sua fazenda modelo Lambedouro, a dois quilômetros da Cidade. Desenvolve Emitério, também, na Serra do Araripe, às margens da rodovia Araripina-Crato, sua atividade agropastoril, com modelar fazenda de plantio de mandioca, café e pastagem, para o seu gado de corte leiteiro. Sua pecuária é bastante desenvolvida e conseguiu formar um excelente plantel, que já conferiu muitos prêmios em exposições regionais. 

Na última demonstração de Sebasto, foi realizada a primeira Exposição de Animais de Araripina, evento que tem se repetido anualmente, no mês de maio, com grande sucesso. 
____________________ 
NOTAS 

(1) – Sebastião Vasconcelos, O.C. 
(2) - Diário de Pernambuco, ed. de 04.11.84. 
(3) - Ato n.º 49, de 21.03.33, do prefeito Francisco da Rosa Muniz. 
(4) - V. Nota 1, ao Capítulo VII.
Fragmento do Livro - Araripina, História, Fatos & Reminiscências.
De: Francisco Muniz Arraes

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