Já os deputados menos infiéis às orientações do
partido ou do bloco partidário são filiados a Novo, PCdoB e PSOL. Levantamento
do G1 calcula a taxa de infidelidade com base nas 144 votações nominais na
Câmara em seis meses de atividade em 2019.
Por Gabriela Caesar, G1

Deputados mais infiéis aos partidos — Foto: Diana Yukari / G1
Os
deputados do PROS, do PODE e do PSB foram os que menos seguiram as orientações
das lideranças ou dos blocos partidários em votações nominais da Câmara. É o
que aponta um levantamento do G1 com
os dados de todas as votações nominais na Câmara dos Deputados de 1º de
fevereiro a 12 de julho de 2019.
O PROS tem a maior
taxa de infidelidade no período: 23,3% dos votos dos deputados da sigla foram
diferentes da orientação do líder ou do bloco partidário. Em seguida, PODE e
PSB registram taxas de 19,6% e 19,1%, respectivamente.
Por outro lado, os
partidos Novo, PCdoB e PSOL têm as menores taxas de infidelidade – ou seja, os
deputados registram maior disciplina às orientações. No Novo, por exemplo,
apenas um voto contrariou a indicação do líder. Os votos corresponderam à
orientação em 99,9% (Novo), 97,7% (PCdoB) e 95,9% (PSOL) das situações.
A
liderança do PODE diz que o partido “tem uma postura de independência e
respeito às peculiaridades regionais de cada parlamentar”. “No entanto,
posições e projetos que dizem respeito ao posicionamento nacional do partido,
como o caso do Coaf e a reforma da Previdência, votamos 100% juntos.”
Procuradas, as lideranças do PROS e do PSB não se manifestaram.
Alta disciplina
Para
a cientista política e pesquisadora do Centro de Política e Economia do Setor
Público (Cepesp) da FGV-SP Lara Mesquita, a alta disciplina de deputados em
relação aos líderes e aos blocos partidários é algo positivo e que ajuda a
formar uma base de apoio para governar o país.
“[A Câmara] Não tem
cada deputado atuando conforme ele quer. Ele atua de acordo com a orientação
partidária. E é por isso que é crível pensar em uma coalizão de governo firmada
em termos de apoio ao partido, e não em uma coalizão de governo em que você
tenha de negociar com cada parlamentar individualmente”, diz a pesquisadora do
Cepesp da FGV-SP.
Lara Mesquita afirma
ainda que os líderes partidários têm uma série de prerrogativas, como falar em
nome da bancada durante as votações no plenário (ou ceder esse tempo a outro
deputado), participar do colégio de líderes (que define semanalmente a pauta de
votação) e indicar integrantes para as comissões da Casa.
A pesquisadora
lembra ainda que o líder partidário é eleito pelos deputados do partido e, caso
o líder tome atitudes que desagradem a bancada, ele pode ser substituído. Para
ter um líder partidário, a legenda precisa ter eleito, no mínimo, 5 deputados,
segundo o regimento interno da Câmara. Caso esse requisito não tenha sido
alcançado, o partido pode formar, junto com outras siglas, um bloco partidário
para atuar em conjunto durante a sessão legislativa.
Orientações do governo
O
levantamento do G1 analisou também o posicionamento dos deputados de acordo
com as orientações do governo. PSOL, PT e PCdoB foram os partidos que tiveram
posicionamentos mais divergentes em relação às orientações do Palácio do
Planalto.
A bancada do PSOL se
manifestou de forma igual ao Planalto em 144 dos 905 votos dos deputados no
plenário da Câmara. É a menor taxa de governismo nos seis meses de atividade
(15,9%). Em seguida, o PT e o PCdoB registraram, respectivamente, taxas de
18,4% e 22,5%.
As bancadas de PSL, Novo e PSDB têm as maiores taxas de governismo. O PSL,
partido do presidente Jair Bolsonaro, aderiu às orientações do governo em 94,2%
dos votos. Os deputados do Novo votaram com o governo em 90,9% dos votos; o
PSDB, em 88,3%.
Taxa de governismo por partido
partido
|
taxa de governismo
|
total de votos
|
PSL
|
94,2%
|
5.159
|
Novo
|
90,9%
|
867
|
PSDB
|
88,3%
|
2.554
|
DEM
|
88,1%
|
2.295
|
MDB
|
88,1%
|
2.880
|
PL
|
88,0%
|
3.193
|
PSD
|
87,9%
|
3.158
|
PP
|
87,2%
|
3.109
|
PSC
|
86,8%
|
726
|
Patriota
|
86,8%
|
446
|
PTB
|
86,4%
|
1.032
|
PHS
|
85,6%
|
118
|
PRB
|
85,0%
|
2.727
|
SD
|
84,7%
|
1.215
|
PRP
|
83,8%
|
74
|
Cidadania
|
82,7%
|
721
|
PODE
|
78,1%
|
852
|
PMN
|
76,2%
|
206
|
Avante
|
71,7%
|
619
|
PTC
|
71,4%
|
21
|
PROS
|
70,7%
|
849
|
DC
|
69,2%
|
13
|
PV
|
58,7%
|
358
|
PPL
|
52,2%
|
23
|
Rede
|
40,0%
|
80
|
PSB
|
39,6%
|
2.983
|
PDT
|
39,3%
|
2.184
|
PCdoB
|
22,5%
|
680
|
PT
|
18,4%
|
4.217
|
PSOL
|
15,9%
|
905
|
Fonte: Câmara dos Deputados
Deputados infiéis
O
levantamento do G1 também identificou quais foram os deputados federais que
menos seguiram as orientações dos partidos ou dos blocos partidários. São eles:
Weliton Prado (PROS-MG), Átila Lira (PSB-PI), Rodrigo Coelho (PSB-SC), Felipe
Rigoni (PSB-ES) e Boca Aberta (PROS-PR). Todos tiveram mais votos divergentes
do que iguais às orientações partidárias.
O deputado mais
"indisciplinado" é Weliton Prado (PROS-MG). Em 69 votações nominais,
ele votou diferente da orientação 46 vezes. A taxa de infidelidade de Prado é
de 66,7%. Em nota, a assessoria do deputado afirma que ele tem “independência e
coerência na atuação parlamentar, que é voltada para os interesses da
população” e que esse compromisso está registrado em cartório desde o primeiro
mandato na Câmara.
Em seguida, aparece o deputado Átila Lira (PSB-PI). Em 117 votações, ele
contrariou a orientação do líder ou do bloco partidário 77 vezes. O percentual
de infidelidade é de 65,8%. O deputado afirma que votou contra a orientação do
partido ou do bloco principalmente em proposições que envolvem assuntos
econômicos, como a reforma da Previdência, e que acredita em menos intervenção
do Estado e mais livre iniciativa.
Já o deputado
Rodrigo Coelho (PSB-SC) registrou 65 votos diferentes da orientação do partido
ou do bloco partidário em 118 votações nominais no plenário. Isso significa que
ele divergiu da sigla em 55,1% dos casos. A assessoria de imprensa de Coelho
diz que o deputado “se manifesta independente de posições partidárias, nunca se
classificando nem como situação e nem como oposição” e que “age por convicção e
pela coerência do assunto tratado”.
“Todos os projetos
foram analisados com cautela e as decisões foram tomadas por consciência de que
seriam a melhor opção para o país. A fidelidade que deve existir na política é
com a população, uma vez que o parlamentar considera o povo o seu único chefe”,
afirma.
Integrante do
movimento RenovaBR, o deputado Felipe Rigoni (PSB-ES) ocupa o 4º lugar na lista
de deputados que mais divergem da orientação feita no plenário. Os votos foram
diferentes da orientação do partido ou do bloco em 58 das 107 votações
nominais. A taxa de infidelidade é de 54,2%.
Em nota, a
assessoria de imprensa de Rigoni diz que o deputado “analisa todos os
argumentos técnicos apresentados pelo partido antes de cada votação” e que “a
definição do posicionamento do parlamentar é feita com base em evidências
científicas e análise do contexto local”. “Por meio do aplicativo Nosso
Mandato, Rigoni tem acompanhado a opinião dos eleitores, que registram alto
índice de aprovação aos posicionamentos do deputado.”Já o deputado Boca Aberta (PROS-PR) divergiu da orientação do líder ou do bloco
partidário em 34 das 66 votações nominais em que houve manifestação do partido.
Nas demais votações (32), Boca Aberta seguiu as orientações. A taxa de
infidelidade do deputado é de 51,5%.
Boca Aberta
reconhece que não considera a orientação partidária ao definir os
posicionamentos no plenário da Câmara. Ele ainda diz que “nenhum partido
presta” e que apenas está filiado a um porque a legislação proíbe a candidatura
avulsa. “Eu não sigo orientação do partido. Eu sigo a orientação do povo.
Porque quem votou não foi o partido. Quem votou em mim foi o povo abençoado
paranaense”, diz.
Blog do Paixão