Pesquisa
exclusiva VEJA/FSB mostra que o trio Bolsonaro, Lula e Moro dará o tom da
disputa de 2022
Por José Benedito da Silva

DIANTEIRA - Bolsonaro, Moro e Lula seriam os candidatos mais competitivos
se a sucessão presidencial acontecesse hoje (Marcos Corrêa/PR; Cristiano Mariz;
Nacho Doce/Reuters)
Enquanto Bolsonaro e seu círculo mais próximo lembram fantasmas
autoritários enxergando no horizonte a possibilidade de protestos radicais como
os que ocorreram nas últimas semanas no Chile (a repetição disso por aqui
representa uma miragem, diga-se), Lula saiu da cadeia justamente convocando a
população a ir reclamar nas ruas contra o governo. Assim, os dois extremos vão
se retroalimentando, tática que parece funcionar entre boa parte dos eleitores,
conforme mostra a nova rodada de pesquisa eleitoral VEJA/FSB. Ambos representam
as principais forças do momento, à direita e à esquerda. O primeiro
levantamento com o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva depois de
ele ter deixado a prisão em Curitiba mostra o petista empatado tecnicamente com
o candidato da situação no primeiro turno, seja ele o presidente Jair
Bolsonaro, seja ele o ministro Sergio Moro (Justiça). Nos dois cenários, Lula tem
29% das intenções de voto, contra 32% dos dois adversários — a margem de erro é
de 2 pontos porcentuais para mais ou para menos.
A pesquisa anterior, feita em outubro, com a inclusão de Lula, ainda
preso, apenas em cenário de segundo turno, mostrava que o petista já era a
maior ameaça ao bolsonarismo: ele possuía 38%, enquanto Bolsonaro tinha 46%. Na
mesma simulação da nova pesquisa, ambos oscilam dentro da margem de erro: 40%
para Lula e 45% para Bolsonaro. A polarização espreme os candidatos de centro,
que ostentam porcentuais longe de levá-los ao segundo turno — Ciro Gomes
(PDT), Luciano Huck (sem partido), João Amoêdo (Novo) e João Doria (PSDB)
chegam a perder para “nenhuma das alternativas” (veja o quadro ao lado). “Essa
polarização interessa a Lula e a Bolsonaro, mas não à maior parte da
sociedade”, afirma o cientista político Rui Tavares Maluf, professor da
Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, que alerta sobre o risco
de uma nova onda de abstenções e votos nulos e brancos caso o cenário persista,
a exemplo do que ocorreu em 2018. “Há as polarizações boas, que contribuem para
a democracia, que precisa viver um pouco do conflito. Só que existe a
polarização de baixa qualidade, e é isso que estamos vivendo”, diz. Para os
especialistas, será difícil alterar o quadro, uma vez que o PT lidera a
oposição às agendas econômica e política do governo, enquanto o bolsonarismo se
fortalece com o enfrentamento com o petismo. “A política é dual, você é contra
ou a favor de um projeto. No mundo político, é muito difícil mesmo circular
fora de alguma dualidade”, avalia Rafael Cortez, sócio da Tendências
Consultoria Integrada.
A possibilidade de Fernando Haddad ser de novo o candidato petista, uma
vez que Lula continua inelegível em razão da Lei da Ficha Limpa, é uma
esperança para outras candidaturas, já que o ex-prefeito tem a maior rejeição:
60% não votariam nele de jeito nenhum — Lula tem 56%. Moro é o que melhor
aparece nesse quesito, com 35%, condição que ajuda o ministro a conseguir o
feito de empatar numericamente com Bolsonaro no segundo turno e derrotar Lula
com vantagem maior que a de seu chefe. Já o presidente é rejeitado por 48% do
eleitorado, o que pode não ser empecilho à reeleição, como lembra Marcelo
Tokarski, diretor do Instituto FSB Pesquisa. “Sempre afirmaram que um candidato
com rejeição superior a 40% era inviável. Mas na última eleição Bolsonaro
desconstruiu essa tese. Às vésperas do primeiro turno, ele possuía uma rejeição
de quase 50%. Um ano depois, o patamar permanece igual, e ele se mantém
competitivo”, afirma. Muita água ainda vai rolar até 2022, mas o bolsonarismo e
o petismo vão continuar insistindo no mesmo jogo da radicalização, que rende
frutos até o momento.
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