Levantamento mostra que a Região Sudeste, a mais
rica e populosa do Brasil, concentra quase 47,44% dos aparelhos do país
Danilo Thomaz

Uma mulher fazendo
mamografia: dados do "Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico" mostram
que apenas 21,8% dos municípios brasileiros possuem ao menos um equipamento
desse tipo Foto: Arquivo/O Globo
Em 2018, o Brasil figurou na segunda faixa mais alta de incidência de
câncer de mama entre os países pesquisados com 62,9 casos por 100 mil mulheres.
Ainda que a taxa de morte seja de apenas 13 por 100 mil — a segunda faixa mais
baixa —, os números são preocupantes. Um dos motivos para isso é a falta de
prevenção. "Você tem uma gama da população que não tem acesso à
mamografia", disse Priscilla Franklim Martins, diretora executiva da
Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed).
Dados do "Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico" mostram que
apenas 21,8% dos municípios brasileiros possuem ao menos um equipamento de
mamografia. A Região Sudeste, a mais rica e populosa do Brasil, concentra quase
47,44% dos aparelhos do país. Em seguida vem o Nordeste, a segunda região mais
populosa do Brasil, com 22,2%. O Sul conta com 15,7%, o Centro-Oeste com 8,5% e
o Norte, em último lugar, com 6%. O levantamento foi divulgado pela coluna de
Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo.

Priscilla Franklim Martins,
diretora executiva da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed)
Foto: Cleber de Paula / Divulgação
A maior disparidade, porém, se dá entre os locais de atendimento
privados e públicos. Enquanto 78% das instituições de saúde da rede privada do
Centro-Oeste contam com mamógrafos, apenas 22% das instituições da rede pública
e sem fins lucrativos da região contam com os mesmos aparelhos. Os números
fazem da região aquela com maior numero desse tipo de equipamento pela rede
privada e menor número pela rede pública. O Sudeste, região mais rica do país,
tem mamógrafos em 70,9% das instituições da rede privada e em 29,1% dos locais
de atendimento da rede pública.
De acordo com Martins, embora tenha havia uma melhora recente na
prevenção, o país está muito distante de uma situação ideal nesse quesito.
"O Brasil não é um país que tem uma cultura de medicina preventiva. A
gente ainda trata doença. A gente vai no médico quando está doente. É isso que
a gente precisa mudar. O diagnóstico precoce te dá sobrevida, te dá qualidade
de vida. A sua chance de cura [com a prevenção] é muito maior. Principalmente
em caso de câncer."
Um dos problemas para a falta de prevenção, ela afirma, é a dificuldade
de acesso, sobretudo na rede pública. "A gente não tem fila na saúde
suplementar. Você agenda seu exame e faz seu exame. Na saúde pública você tem
que esperar. E essa fila de espera é regional, varia de região para
região", afirma. "[Com isso] Elas [as mulheres] acabam não fazendo o
exame preventivo. Elas chegam para fazer o exame quando já tem o problema. Elas
acabam não indo fazer o exame até a hora em que realmente precisa."

Mulher faz exame de
mamografia na Bahia: para especialista, um foco maior na medicina preventiva,
baratearia, inclusive, os custos da saúde Foto: Carla Garcia / Agência O Globo
Embora a situação socioeconômica não seja, por princípio, uma
precondição para o desenvolvimento de células cancerígenas, a falta de acesso,
tempo e até mesmo disposição para cuidado com a saúde podem ser um agravante.
"Quem tem mais condição tem mais acesso e acaba tendo mais consciência de
se cuidar. Quem tem menos condições financeiras tem menos acesso. A população
precisa ter acesso à exame, à saúde pública e privada."
Um foco maior na medicina preventiva, ela acredita, baratearia,
inclusive, os custos da saúde. Nos últimos 18 anos, os planos de saúde tiveram
uma inflação de 382% — quase o dobro da inflação brasileira. No ano passado, o
governo, por meio da Agência Nacional de Saúde, autorizou um aumento de 7,35%
nos planos de saúde — a inflação brasileira em 2019 foi de 4,31%. "Quando
a gente fala em saúde a gente fala em saúde financeira também. A prevenção é
uma variável importantíssima para a sustentabilidade financeira do setor.
Tratar uma doença num nível mais tardio do diagnostico custa muito mais caro do
que quando ela é diagnosticada precocemente."
Dados destacados (2018):
• Mamógrafos em uso distribuídos no país em dezembro de 2018: 5.723*
• Número de mamógrafos simples: 3.963*
• Número de mamógrafos computadorizados: 889; eram 456 em 2014 (aumento
de 95%)*
• 1.217 (21,8%) municípios brasileiros possuem ao menos um equipamento
de mamografia*
• Distribuição de mamógrafos por região brasileira: Sudeste (47,44%);
Nordeste (22,2%); Sul (15,7%), Centro-Oeste (8,5%) e Norte (6%)*
• Distribuição de mamógrafos na rede privada, por região brasileira:
Centro-Oeste (78%), Nordeste (72,90%), Sudeste (70,90%), Sul (67,40%), Norte
(58,4%)*
• Distribuição de mamógrafos na rede pública e sem fins lucrativos, por
região brasileira: Norte (41,6%), Sul (32,6%), Sudeste (29,1%), Nordeste
(27,1%), Centro-Oeste (22%)*
• Número de mamografias apresentou ligeira redução e registrou 5 milhões
na saúde suplementar entre 2017 e 2018, com redução de 0,4%**
*Fonte: Ministério da Saúde – Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de
Saúde do Brasil (CNES)
**Fonte: Painel Abramed 2019 – O DNA do Diagnóstico
Blog do Paixão