Jéssica Otoboni, da CNN, em São Paulo
Bolsonaro discursa na Assembleia Geral da ONU
Foto: Reprodução - 22.set.2020 / CNN
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse
nesta terça-feira (22), no discurso virtual durante a Assembleia Geral da
Organização das Nações Unidas (ONU), que a Covid-19 ganhou o centro de todas as
atenções neste ano, e lamentou "cada morte ocorrida". Ele também
destacou as queimadas no Pantanal e na Amazônia, e disse
que o país é "vítima de campanha brutal de desinformação".
Ele declarou que, apesar da crise mundial, a
produção rural não parou no Brasil. "Nosso agronegócio continua pujante e,
acima de tudo, possuindo e respeitando a melhor legislação ambiental do
planeta. Mesmo assim, somos vítimas de uma das mais brutais campanhas de
desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal", disse ele.
Segundo Bolsonaro, a floresta amazônica é úmida e
não permite propagação do fogo. "Os incêndios acontecem praticamente, nos
mesmos lugares, no entorno leste da floresta, onde o caboclo e o índio queimam
seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas."
Ele afirmou que desde o começo da pandemia disse que o Brasil tinha dois problemas para resolver. "O vírus e o desemprego, e que ambos deveriam ser tratados simultaneamente e com a mesma responsabilidade", lembrou.
"Por decisão judicial, todas as medidas de
isolamento e restrições de liberdade foram delegadas a cada um dos 27
governadores das unidades da federação", destacou Bolsonaro.
Ele falou ainda que "parcela da imprensa brasileira
também politizou o vírus, disseminando o pânico entre a população".
"Sob o lema 'fique em casa' e 'a economia a gente vê depois', quase
trouxeram o caos social ao país", declarou.
Íntegra do discurso de Bolsonaro na
ONU
Senhor presidente, da Assembleia Geral, Volkan
Bozkir;
Senhor secretário-geral da ONU, António Guterres, a
quem tenho a satisfação de cumprimentar em nossa língua-mãe;
Chefes de Estado, de governo e de delegação;
Senhoras e senhores,
É uma honra abrir esta assembleia com os
representantes de nações soberanas, num momento em que o mundo necessita da
verdade para superar seus desafios.
A Covid-19 ganhou o centro de todas as atenções ao
longo deste ano e, em primeiro lugar, quero lamentar cada morte ocorrida.
Desde o princípio, alertei, em meu País, que
tínhamos dois problemas para resolver: o vírus e o desemprego, e que ambos
deveriam ser tratados simultaneamente e com a mesma responsabilidade.
Por decisão judicial, todas as medidas de
isolamento e restrições de liberdade foram delegadas a cada um dos 27
governadores das unidades da Federação. Ao Presidente, coube o envio de
recursos e meios a todo o país.
Como aconteceu em grande parte do mundo, parcela da
imprensa brasileira também politizou o vírus, disseminando o pânico entre a
população. Sob o lema “fique em casa” e “a economia a gente vê depois”, quase
trouxeram o caos social ao país.
Nosso governo, de forma arrojada, implementou
várias medidas econômicas que evitaram o mal maior:
- Concedeu auxílio emergencial em parcelas que
somam aproximadamente 1000 dólares para 65 milhões de pessoas, o maior programa
de assistência aos mais pobres no Brasil e talvez um dos
maiores do mundo;
- Destinou mais de 100 bilhões de dólares para
ações de saúde, socorro a pequenas e microempresas, assim como compensou a
perda de arrecadação dos estados e municípios;
- Assistiu a mais de 200 mil famílias indígenas com
produtos alimentícios e prevenção à Covid;
- Estimulou, ouvindo profissionais de saúde, o
tratamento precoce da doença;
- Destinou 400 milhões de dólares para pesquisa,
desenvolvimento e produção da vacina de Oxford no Brasil.
Não faltaram, nos hospitais, os meios para atender
aos pacientes de Covid.
A pandemia deixa a grande lição de que não podemos
depender apenas de umas poucas nações para produção de insumos e meios
essenciais para nossa sobrevivência. Somente o insumo da produção de hidroxicloroquina
sofreu um reajuste de 500% no início da pandemia. Nesta linha, o Brasil
está aberto para o desenvolvimento de tecnologia de ponta e inovação, a exemplo
da indústria 4.0, da inteligência artificial, nanotecnologia e da tecnologia
5G, com quaisquer parceiros que respeitem nossa soberania, prezem pela
liberdade e pela proteção de dados.
No Brasil, apesar da crise mundial, a produção
rural não parou. O homem do campo trabalhou como nunca, produziu, como sempre,
alimentos para mais de 1 bilhão de pessoas.
O Brasil contribuiu para que o mundo continuasse
alimentado.
Nossos caminhoneiros, marítimos, portuários e
aeroviários mantiveram ativo todo o fluxo logístico para distribuição interna e
exportação.
Nosso agronegócio continua pujante e, acima de
tudo, possuindo e respeitando a melhor legislação ambiental do planeta.
Mesmo assim, somos vítimas de uma das mais brutais
campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal.
A Amazônia brasileira é sabidamente riquíssima.
Isso explica o apoio de instituições internacionais a essa campanha escorada em
interesses escusos que se unem a associações brasileiras, aproveitadoras e
impatrióticas, com o objetivo de prejudicar o governo e o próprio Brasil.
Somos líderes em conservação de florestas
tropicais. Temos a matriz energética mais limpa e diversificada do mundo.
Mesmo sendo uma das 10 maiores economias do mundo,
somos responsáveis por apenas 3% da emissão de carbono.
Garantimos a segurança alimentar a um sexto da
população mundial, mesmo preservando 66% de nossa vegetação nativa e usando
apenas 27% do nosso território para a pecuária e agricultura, números que
nenhum outro país possui.
O Brasil desponta como o maior produtor mundial de
alimentos.
E, por isso, há tanto interesse em propagar
desinformações sobre o nosso meio ambiente.
Estamos abertos para o mundo naquilo que melhor
temos para oferecer, nossos produtos do campo. Nunca exportamos tanto. O mundo
cada vez mais depende do Brasil para se alimentar.
Nossa floresta é úmida e não permite a propagação
do fogo em seu interior. Os incêndios acontecem praticamente, nos mesmos
lugares, no entorno leste da Floresta, onde o caboclo e o índio queimam seus
roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas.
Os focos criminosos são combatidos com rigor e
determinação. Mantenho minha política de tolerância zero com o crime
ambiental. Juntamente com o Congresso Nacional, buscamos a regularização
fundiária, visando identificar os autores desses crimes.
Lembro que a Região Amazônica é maior que toda a
Europa Ocidental. Daí, a dificuldade em combater, não só os focos de incêndio,
mas também, a extração ilegal de madeira e a biopirataria. Por isso, estamos
ampliando e aperfeiçoando o emprego de tecnologias e aprimorando as
operações interagências, contando, inclusive, com a participação das Forças
Armadas.
O nosso Pantanal, com área maior que muitos países
europeus, assim como a Califórnia, sofre dos mesmos problemas. As grandes
queimadas são consequências inevitáveis da alta temperatura local, somada ao
acúmulo de massa orgânica em decomposição.
A nossa preocupação com o meio ambiente vai além
das nossas florestas. Nosso Programa Nacional do Combate ao Lixo no Mar, um dos
primeiros a serem lançados no mundo, cria uma estratégia para os nossos 8.500
km de costa.
Nessa linha, o Brasil se esforçou na COP25 em Madri
para regulamentar os artigos do Acordo de Paris que permitiriam o
estabelecimento efetivo do mercado de carbono internacional. Infelizmente fomos
vencidos pelo protecionismo.
Em 2019, o Brasil foi vítima de um criminoso
derramamento de óleo venezuelano, vendido sem controle, acarretando severos
danos ao meio ambiente e sérios prejuízos nas atividades de pesca e turismo.
O Brasil considera importante respeitar a liberdade
de navegação estabelecida na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do
Mar.
Entretanto, as regras de proteção ambiental devem
ser respeitadas e os crimes devem ser apurados com agilidade, para que
agressões como a ocorrida contra o Brasil não venham a atingir outros países.
Não é só na preservação ambiental que o país se
destaca. No campo humanitário e dos direitos humanos, o Brasil vem sendo
referência internacional pelo compromisso e pela dedicação no apoio prestado
aos refugiados venezuelanos, que chegam ao Brasil a partir da fronteira no
estado de Roraima.
A Operação Acolhida, encabeçada pelo Ministério da
Defesa, recebeu quase 400 mil venezuelanos deslocados devido a grave crise
político-econômica gerada pela ditadura bolivariana.
Com a participação de mais de 4 mil militares, a
Força Tarefa Logística-Humanitária busca acolher, abrigar e interiorizar as
famílias que chegam à fronteira.
Como um membro fundador da ONU, o Brasil está
comprometido com os princípios basilares da Carta das Nações Unidas: paz e
segurança internacional, cooperação entre as nações, respeito aos direitos
humanos e às liberdades fundamentais de todos. Neste momento em que a
organização completa 75 anos temos a oportunidade de renovar nosso compromisso
e fidelidade a esses ideais. A paz não pode estar dissociada da segurança.
A cooperação entre os povos não pode estar
dissociada da liberdade. O Brasil tem os princípios da paz, cooperação e
prevalência dos direitos humanos inscritos em sua própria Constituição, e tradicionalmente
contribui, na prática, para a consecução desses objetivos.
O Brasil já participou de mais de 50 operações de
paz e missões similares, tendo contribuído com mais de 55 mil militares,
policiais e civis, com participação marcante em Suez, Angola, Timor Leste,
Haiti, Líbano e Congo.
O Brasil teve duas militares premiadas pela ONU na
Missão da República Centro-Africana pelo trabalho contra violência sexual.
Seguimos comprometidos com a conclusão dos acordos
comerciais firmados entre o Mercosul e a União Europeia e com a Associação
Europeia de Livre Comércio. Esses acordos possuem importantes cláusulas que
reforçam nossos compromissos com a proteção ambiental.
Em meu governo, o Brasil, finalmente, abandona uma
tradição protecionista e passa a ter na abertura comercial a ferramenta
indispensável de crescimento e transformação.
Reafirmo nosso apoio à reforma da Organização
Mundial do Comércio que deve prover disciplinas adaptadas às novas realidades
internacionais.
Estamos igualmente próximos do início do processo
oficial de acessão do Brasil à OCDE. Por isso, já adotamos as práticas mundiais
mais elevadas em todas as áreas, desde a regulação financeira até os domínios
da segurança digital e da proteção ambiental.
No meu primeiro ano de governo, concluímos a
reforma da previdência e, recentemente, apresentamos ao Congresso Nacional duas
novas reformas: a do sistema tributário e a administrativa.
Novos marcos regulatórios em setores-chave, como o
saneamento e o gás natural, também estão sendo implementados. Eles atrairão
novos investimentos, estimularão a economia e gerarão renda e emprego.
O Brasil foi, em 2019, o quarto maior destino de
investimentos diretos em todo o mundo. E, no primeiro semestre de 2020, apesar
da pandemia, verificamos um aumento do ingresso de investimentos, em comparação
com o mesmo período do ano passado. Isso comprova a confiança do mundo
em nosso governo.
O Brasil tem trabalhado para, em coordenação com
seus parceiros sul-atlânticos, revitalizar a Zona de Paz e Cooperação do
Atlântico Sul.
O Brasil está preocupado e repudia o terrorismo em
todo o mundo.
Na América Latina, continuamos trabalhando pela
preservação e promoção da ordem democrática como base de sustentação
indispensável para o progresso econômico que desejamos.
A LIBERDADE É O BEM MAIOR DA HUMANIDADE.
Faço um apelo a toda a comunidade internacional
pela liberdade religiosa e pelo combate à cristofobia.
Também quero reafirmar minha solidariedade e apoio
ao povo do Líbano pelas recentes adversidades sofridas.
Cremos que o momento é propício para trabalharmos
pela abertura de novos horizontes, muito mais otimistas para o futuro do
Oriente Médio.
Os acordos de paz entre Israel e os Emirados Árabes
Unidos, e entre Israel e o Bahrein, três países amigos do Brasil, com os quais
ampliamos imensamente nossas relações durante o meu governo, constitui
excelente notícia.
O Brasil saúda também o Plano de Paz e Prosperidade
lançado pelo Presidente Donald Trump, com uma visão promissora para, após mais
de sete décadas de esforços, retomar o caminho da tão desejada solução do
conflito israelense-palestino.
A nova política do Brasil de aproximação simultânea
a Israel e aos países árabes converge com essas iniciativas, que finalmente
acendem uma luz de esperança para aquela região.
O Brasil é um país cristão e conservador e tem na
família sua base.
Deus abençoe a todos!
E o meu muito obrigado!
Secretário-geral critica líderes mundiais
Antes de Bolsonaro, o secretário-geral da ONU,
António Guterres, deu início aos discursos. Ele afirmou que, "pela
primeira vez em 30 anos, a pobreza está aumentando". "Os indicadores
de desenvolvimento humano estão diminuindo." Ele também criticou líderes
mundiais, destacando que "o populismo e o nacionalismo falharam".
Guterres falou ainda sobre os problemas causados
pela pandemia global do novo coronavírus, e condenou os países que estão agindo
para obter acordos paralelos e conseguir vacinas para suas próprias populações
primeiro. "Nenhum de nós está seguro até que todos nós estejamos
seguros."
Em seguida, o presidente da 75ª Assembleia Geral da
ONU, Volkan Bozkir, falou sobre multilateralismo e os perigos da pandemia
de Covid-19.
O evento deste ano tem como tema "O futuro que
queremos, as Nações Unidas que precisamos: reafirmar nosso compromisso coletivo
com o multilateralismo – enfrentando a Covid-19 por meio de uma ação
multilateral efetiva". Ele teve início na quinta-feira (17), mas os
discursos de chefes de estado começaram hoje, na Assembleia Geral.
Blog do Paixão