JFPE confirmou,
nesta quinta (12), que o prefeito de Itamaracá, Mosar Tato (PSB), e Guilherme
Uchôa Júnior (PSC), filho do ex-presidente da Alepe Guilherme Uchôa, estão
entre os alvos da Operação Mapa da Mina, deflagrada pela PF, na quarta (11).
Por G1 PE
Carro foi
apreendido na Operação Mapa da Mina, desencadeada pela Polícia Federal de
Pernambuco na quarta-feira (11) — Foto: Assesoria/Polícia Federal/Divulgação
A Justiça Federal em Pernambuco (JFPE) confirmou,
nesta quinta (11), nomes de políticos investigados pela Polícia
Federal pelo uso de casas lotéricas para lavar dinheiro de
cofres públicos e de corrupção. São eles: o prefeito de Itamaracá (Grande
Recife), Mosar Tato (PSB),
e o deputado estadual Guilherme Uchôa Júnior (PSC), filho do
ex-presidente da Assembleia Legislativa (Alepe) Guilherme Uchôa, que morreu em
2018.
Os dois foram alvo
da Operação Mapa
da Mina, deflagrada na quarta (11), pela Polícia Federal, em
várias cidades do estado. As informações sobre o envolvimentos dos políticos
estão contidas em oito documentos com decisões da JFPE, divulgadas nesta
quinta.
Além dos políticos,
segundo a JFPE, foram alvo de mandados de busca e apreensão a viúva de
Guilherme Uchôa, Eva Lúcia Goes Uchôa Cavalcanti Barbosa, e a filha do
ex-deputado e esposa do prefeito de Itamaracá, Giovana Maria Góes Uchôa
Cavalcanti Barbosa.
A Justiça Federal
também confirmou o envolvimento do policial Pércio Araújo Ferraz e de Renato
Correia de Lima, apontados como líderes da quadrilha. Pelo menos R$ 30 milhões
teriam sido desviados pelo grupo.
Carros de luxo foram apreendidos durante operação Mapa da Mina, da Polícia Federal, na quarta (11) — Foto: Polícia Federal/Divulgação
Na quarta-feira,
entre os bens apreendidos, segundo a PF, estavam carros de luxo das marcas BMW
e Land Rover, além de documentos. Os mandados foram autorizados pela 13ª Vara
Federal de Pernambuco. O processo tramitava em sigilo de Justiça, mas a
divulgação dos nomes dos envolvidos foi autorizada.
A operação apurou
que a quadrilha teria o apadrinhamento do ex-deputado estadual Guilherme Uchoa.
Segundo a JFPE, como presidente da Alepe, o ex-parlamentar facilitava o acesso
das empresas Alforge e Alfoservice a prestações de serviço a órgãos públicos,
por meio do direcionamento de licitações.
Também foram
identificados indícios de participação nos crimes as empresas FRV Soluções
Terceirizadas, R&E Prestação de Serviços e Bunker Segurança e Vigilância
Patrimonial Eirelli. Ao todo, mais de R$ 12 milhões foram transferidos das
contas dos investigados para as loterias da família de Guilherme Uchôa.
As lotéricas
investigadas são as seguintes:
·
Loteria RioMar LTDA: pertence a Mosar Tato, Giovana
Uchôa, e ao o filho deles, Mosar de Melo Uchôa Cavalcanti Barbosa, e à viúva de
Guilherme Uchôa, Eva Uchôa
·
Loteria Sonho Meu LTDA: pertence a Eva Uchôa e a
Guilherme Uchôa Júnior
·
Sonho Certo Loteria LTDA: pertence a Eva Uchôa e a
Mosar Tato
·
Show Loterias LTDA: pertence a Eva Uchôa, Mosar
Tato e a Guilherme Uchôa
· Mapa da Mina Loteria LTDA: pertence a Eva Uchôa e Guilherme Uchôa Júnior
O esquema
Guilherme Uchôa foi
eleito deputado estadual pela primeira vez em 1994 e permaneceu no cargo até
julho de 2018, quando
faleceu, aos 71 anos. Ele foi presidente da Alepe por seis
vezes, desde 2006. Os investigadores acreditam que ele utilizava do cargo para
facilitar a atuação do grupo criminoso.
De acordo com as
investigações, o policial militar Pércio Araújo Ferraz seria o líder da
quadrilha e teria movimentado, entre janeiro de 2012 e abril de 2018, R$
29.623.197,03.
As dezenas de
milhões de reais movimentadas por ele seriam incompatíveis com seu salário de
PM. De acordo com o Portal da Transparência de Pernambuco, ele recebia, em
média, pouco mais de R$ 12 mil líquidos por ser coronel da corporação.
Pércio, segundo a polícia, tinha aproximação com Guilherme Uchôa devido ao cargo. O oficial atuava como um dos responsáveis pela segurança da Alepe.
Dinheiro em espécie, celulares e computadores foram apreendidos na operação Mapa da Mina, da Polícia Federal, na quarta (11) — Foto: Polícia Federal/Divulgação
Com ele, na gestão
do grupo criminoso, estava Renato Correia de Lima, que, para a polícia,
"é, em tese, sócio de Pércio nas empresas e nos negócios delituosos
desenvolvidos a partir deles, desde 6 de maio de 2010, quando da constituição
da empresa R SAT Segurança Eletrônica".
De acordo com a
Justiça Federal, também há indícios de que o deputado estadual Guilherme Uchôa
Júnior, um dos proprietários das lotéricas investigadas, também utilizava a
empresa Star Turismo e Transporte LTDA, da qual é proprietário, para lavar
dinheiro, com o mesmo propósito das casas lotéricas.
Isso porque, segundo
a investigação, informações declaradas por ele à Receita Federal, para fins de
Imposto de Renda, não condiziam com os rendimentos recebidos pela empresa.
O G1 entrou
em contato com as assessorias da prefeitura de Itamaracá, do deputado Guilherme
Uchôa Júnior e da Alepe, mas não recebeu retorno, até a última atualização
desta reportagem.
A
operação
As cinco lotéricas,
de acordo com a PF, são mantidas “apenas para viabilizar o processo de lavagem
de dinheiro, já que não geram lucros reais para seus sócios”. Feitas desde
2013, as transferências ultrapassam R$ 14 milhões.
Ao todo, foram 25
mandados de busca e apreensão para endereços no Grande Recife,
em Caruaru,
no Agreste, e em Floresta,
no Sertão, dentro da operação Mapa da Mina, que contou com apoio da
Controladoria Geral da União (CGU).
A investigação
começou a partir de outra ação da PF, denominada Decimus,
que identificou um grupo empresarial
comandado por oficial da Polícia Militar com atuação na
área de vigilância e de serviços gerais. Apenas duas empresas desse grupo
receberam, desde 2013, cerca de R$ 175 milhões dos cofres públicos. No entanto,
a PF não informou se esse dinheiro teria sido desviado.
A PF afirmou que esse grupo teve "crescimento econômico vertiginoso a partir de 2013" através de contratos com entidades públicas municipais, estaduais e federais, mediante dispensas de licitação suspeitas ou processos licitatórios direcionados.
Segundo a CGU, as
possíveis irregularidades teriam ocorrido na 3ª Superintendência Regional da
Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf)
e em outros órgãos.
Na primeira fase da
operação, os indícios encontrados pela PF apontaram que os políticos
investigados atuavam em parceria com o grupo empresarial junto a dirigentes de
órgãos públicos, com o objetivo de direcionar licitações – ou a dispensa delas
– para favorecer as empresas.
Os envolvidos podem
responder pelos crimes de lavagem de dinheiro, fraude a licitações, peculato e
corrupção ativa. Além de 100 policiais federais, auditores da Controladoria
Geral da União participaram do cumprimento dos mandados.
Operação
Decimus
Em abril de 2018 a
Operação Decimus investigou irregularidades em duas empresas de segurança
privada no Recife. Durante a ação, um tenente-coronel da Polícia Militar de
Pernambuco foi detido e foram
apreendidos cerca de 33,5 mil dólares em espécie, além de R$ 220
mil e seis armas de fogo e 150 munições de calibres diversos.
Além do dinheiro e
das armas, a PF também apreendeu sete discos rígidos, dez celulares, um tablet,
cinco notebooks, três agendas, 2.200 folhas de cheques com valores diversos,
carimbos, cartões magnéticos e documentos. Na data, as investigações apuraram a
relação do oficial da PM com uma das empresas de segurança que foi alvo da
operação.
Blog do Paixão