Sou
católico, criado por uma avó carola. Como cristão convicto, jamais lançaria
qualquer censura a quem quer que seja pelos atos que possa praticar, até porque
este trabalho tem o objetivo de publicar, de forma aberta e democrática, os
fatos relacionados com uma figura que eu estimava de coração. Mas considero
oportuno comparar os fatos e as ações das pessoas fazendo uma relação do
passado com o presente, pois de outra maneira a minha pesquisa seria bastante
prejudicada.
Nesse
tom, avalio que da mesma forma o padre João Câncio deixou a Igreja para construir
uma família – o que não causou nenhuma surpresa a Tonha de Bárbara, sua
amiga-irmã de uma convivência fraternal que durou seis longos anos, em Serrita,
alguns sacerdotes contemporâneos do padre-vaqueiro também deixaram a batina e,
depois dele, outros também seguirão o mesmo caminho.
O
caso mais comentado ao longo dos anos é o do padre Antônio, de Salgueiro, que
não se sabe se casou, ou não, e era pai do comerciante e industrial mais
importante do Sertão nos anos 50 e 60, Veremundo Soares. A família Soares nunca
escondeu de ninguém que seu líder maior era o filho de um padre, pelo contrário
alguns se dizem até orgulhosos.
Na
verdade, há bastante tempo alguns padres sertanejos já haviam optado pelo
casamento, a maioria filhos de famílias tradicionais e que exerceram o seu
ofício em municípios da mesma região. Estes fatos são comentados por pessoas
simples e idôneas, católicas fervorosas que continuaram dentro do catolicismo.
Significa que não se trata de uma coisa do “fim do mundo”, mas de algo que não
pode acontecer com qualquer cabeça pensante, que a qualquer momento muda de
opinião, pois como disse o poeta, quem pensa, muda (para melhor ou para pior).
No
antigo Sítio dos Moreiras (nem tão antigo, pois o distrito que se emancipou de
Serrita e recebeu o nome de Moreilândia tem apenas 39 anos) padres que serviram
na paróquia, como João Câncio, deixaram a batina, como lembram as pessoas mais
velhas, a exemplo de José Miranda, seu Zuza (77 anos), Joaquim Sabino Batista,
conhecido por Quintino (82 anos), ambos católicos e casados na Igreja
originária de Roma, onde também batizaram os seus filhos e netos.
Eles
comentam que alguns fatores da vida moderna podem contribuir para que os
vigários de hoje passem pouco tempo nas paróquias e procurem a vida de casado,
criando um ambiente para comparações como esta: “os padres de hoje têm uma vida
melhor, não usam batina e andam de carro, enquanto os do passado andavam a
cavalo e passavam o tempo todo dentro de uma batina preta”.
A
relação do ex-párocos sertanejos vinculados a Serrita, Sítio dos Moreiras e
Granito, enfim, ao sertão, está crescendo: padre Vicente, que mora em
Araripina, parente de seu Zuza, Mansueto de Lavor, Honório Rocha, que era de
Petrolina, Bento Maia, que substituiu Câncio na Missa do Vaqueiro, deixou a
batina e hoje é advogado em Tocantins. Também se fala no padre fundador de
Ouricuri, o paraibano Francisco Pedro, em Pedro Modesto, também de Ouricuri,
Padre Peixoto e padre Mariano, de Exu, alguns desses teriam tido relacionamento
amoroso, e alguns deles sido pai.
Fragmentos do Livro: João Câncio – A Saga do Padre-vaqueiro.
De Machado Freire
Blog do Paixão