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ertão de Pernambuco, seca de 1970.
A história da morte de Batista começa em 30 de dezembro de 70, durante a grande
seca, numa frente de trabalho da SUDENE. Os trabalhadores reclamam pela falta
de dinheiro ao engenheiro encarregado do pagamento. Batista está entre os
homens que reclamam. Também estava na multidão quando dois soldados da Polícia
Militar de Pernambuco, Adalberto Clementino de Moura e Alberto Alves de Moura,
começam a agredi-los a pontapés e cacetadas. Os trabalhadores, humilhados,
voltam à fila. Mas não todos. Aqueles cinco irmãos com cara de índio se
revoltaram. Armados de foices e lambedeiras, cinco irmãos Gaia, Cícero,
Eduardo, Tozinho, Antônio e Enoque, matam a dupla de soldados. E o velho
Batista Gaia escreve uma poesia em homenagem à vitória da família. Ainda
durante a seca, começa a perseguição ao velho, que é assassinado seis meses
depois, naquele cabaré, no Alto do Urubu.
Alto do Urubu, voltamos a junho de 71.
Morre Batista Gaia e, no enterro, seu filho Vilmar agarrado ao rifle 44, jura
vingança. Ele desconfia dos parentes, dos amigos, até do padre que benze o
caixão de Batista. Todas as pessoas que vê para ele são o inimigo. A namorada,
o juiz da cidade, as crianças. Vilmar interroga todos que estão no cemitério de
Serra Talhada. Faz tantas perguntas que a loira amante de Batista lhe confessa
quem são os criminosos:
Três soldados (da 17ª Companhia Militar de Pernambuco) mataram Batista!
Ainda na noite do dia do enterro, Vilmar, 22 anos, de bermudas, chinelo e sem
camisa, vai à caatinga e torna-se pistoleiro. Coloca na mata um lampião a 50
metros de distância, apoia o rifle na clavícula, mira, aperta o gatilho e os
tiros apagam o fogo mais de 20 vezes nessa madrugada. Amanhecia quando Vilmar é
visto atravessando a Praça Nossa Senhora da Penha. Às 8 horas continuava
investigando. Vestia apenas a bermuda, com dois revólveres na cintura, quando
entra no prédio da delegacia para falar com o delegado Sebastião Nogueira. Seu
plano começava a dar certo porque o delegado aceita o seu pedido.
Agora Vilmar, além de pistoleiro, é policial da 17ª Companhia.
Nos primeiros cinco dias na polícia, Vilmar continua nas investigações e ganha
dezenas de cartucheiras dos soldados. Conversa sobre o crime pelos corredores e
à noite tiroteia em garrafas de cerveja, latas de sardinhas, em alvos cada vez
menores. Em uma semana descobre o inquérito sobre a morte do pai nos arquivos
da delegacia, e sabe, assim, os nomes dos soldados criminosos.
No dia seguinte à descoberta, o delegado Sebastião Nogueira reprova Vilmar no
teste de capacidade intelectual. Ele é expulso da 17ª Companhia e duas semanas
depois mata com 16 tiros um dos três inimigos, Arnaldo Cipriano, num bar de
Salgueiro, a 300 quilômetros de Serra Talhada.
Fazenda Lavra de Mangueira, outubro de
73.
O suplente de comissário, Pedro Inácio, dá uma festa na fazenda. Como fazia o
velho Batista, Vilmar entra na festa acompanhado de uma prostituta. Pedro
Inácio manda ele embora. Os dois discutem, brigam e depois tiroteiam. Vilmar é
ferido no ombro e cai. Do chão ele atira e mata o comissário. O baile continua.
A polícia é avisada do crime e Vilmar dança no salão. Calça e camisa pretas,
duas cartucheiras na cintura, ele dança uma rancheira. A prostituta veste uma
saia curta a um palmo do joelho e aperta o corpo de Vilmar. Ela rebola,
desabotoa a camisa do pistoleiro e beija-lhe o peito na hora em que alguém dá
um tiro.
Apagam-se as luzes, é a polícia chegando.
Vilmar está na escuridão dentro da casa cercada pela patrulha. Da janela ele vê
que outro matador de seu pai, o soldado Natalício, está na chefia da patrulha.
As mulheres gritam e correm do salão, puxadas pelos homens. O último a sair na
porta do salão é Vilmar Gaia, com rifle na mira de Natalício, que morre com um único
tiro no peito. Nenhum outro soldado reage. E Vilmar foge a cavalo com a
prostituta.
No Velório de Natalício: à meia-noite Vilmar vai ao velório do inimigo. A mesma
roupa preta, um chapéu de abas largas, óculos de lente escura, ele distribui
cópias da última poesia do velho mulherengo e vai embora.
Três dias depois da morte de Natalício: É morto o cunhado de Vilmar Gaia, Luiz
Zuza. O corpo é enterrado na caatinga.
Tribunal de Justiça, outubro de 74:
O juiz Ítalo José Nandi decreta prisão preventiva de Vilmar. E também é acusado de matar o primo Antônio Augusto que teria se vendido para a família de José Cipriano. A família que pagou para matar seu pai. Morre o soldado Luiz Gonzaga que Vilmar perseguia para completar sua vingança. O povo atribui a Vilmar mais de 30 mortes. E o juiz sofre um atentado, um dos tiros quebra a antena do seu carro.
Blog do Paixão