Capitão Ferreira, em destaque, e sua tropa.
Fonte: Print do Globo Repórter de 31/01/1982.
De 17 a 20 de agosto de 76.
O capitão João Ferreira não dorme há três dias e avança o sertão do Ceará em
direção à fronteira da Paraíba. Às 4 horas da madrugada do dia 22 chega ao
vilarejo de Ipaumirim e dá ordens para 30 soldados fazerem o cerco na casa da
Fazenda Quitéria.
Duas portas e oito janelas na mira de três metralhadoras, dez mosquetões,
bombas de gás lacrimogênio, uma pistola e um rifle. Na casa tudo quieto –
apenas Vilmar Gaia, que dormia nu em uma rede, se movimenta para pegar o
revólver Taurus 38. A polícia nunca esteve tão perto depois que ele fugiu de
Serra Talhada.
Os soldados estão prontos para matar, o capitão João Ferreira está deitado no
chão com a arma carregada de balas alemãs. A porta se abre, peito nu, cabeça
baixa para a braguilha que tenta abotoar. Depois Vilmar levanta a cabeça, ergue
os braços e caminha em direção ao capitão João Ferreira dos Anjos.
Vilmar Gaia chega preso ao xadrez de Serra Talhada.
Os homens esqueceram a justiça. A justiça de Deus é com ele. Minha justiça eu
já fiz. Agora o capitão João Ferreira que faça a dele.
Dia 20 de
agosto. David Jurubeba, maior inimigo dos
Gaias, abandona Serra Talhada. Carrega uma maleta de mão, cartucheira, um rifle
nas costas, volta às terras de Nazaré e fala decepcionado:
“Eu não sei viver sem um grande duelo. Desde Lampião espero por um bandido perigoso que me desafie. Vilmar era a minha grande esperança, eu queria matar esse menino, queria matar todos os Gaias em um grande incêndio. A prisão de Vilmar não teve graça. Por isso continuarei na perseguição aos pistoleiros. Ainda espero pelo grande duelo, tenho paciência. Enquanto esse dia não chegar perseguirei até mulher barriguda do sertão. Alguma coisa me diz que a cada segundo pode nascer um homem perigoso, um novo Lampião. A polícia de Pernambuco que se cuide”.
No dia da
prisão de Vilmar Gaia, as rádios de Serra Talhada transmitem a notícia de dez
em dez minutos. E tocam a música Cabra macho do Rocha, inspirada no pistoleiro.
O comércio fecha, estão suspensos os expedientes dos bancos e repartições
públicas. Uma multidão empurra os soldados na porta de entrada da delegacia
para ver Vilmar.
Às 9 horas do dia, o capitão João Ferreira comunica a prisão de Vilmar ao
secretário de segurança, Rui Aires Lobo, que dá ordens para uma escolta levá-lo
ao Dops de Recife. Nessa hora as crianças brincam de Vilmar Gaia pelas ruas de
Serra Talhada.
Um menino que nem forças tem para manter a arma erguida também brinca na janela
do colégio. A arma está engatilhada. Ele faz a pontaria enquanto a professora
escreve no quadro negro. Quando a professora vira de frente o menino recua e se
agacha. Espera alguns minutos e quando aperta o gatilho o tiro é certeiro e
acerta de verdade no alvo: a nuca de um coleguinha. Ninguém soube dizer os
motivos do crime. O menino fugiu. O povo conta que o menino era Mec Gaia porque
a arma do crime foi descoberta.
Blog do Paixão