Com mais de 50 anos de carreira política, Marco Maciel deixou a sua marca em muitos outros políticos
Com mais de 50 anos de carreira política, Marco Maciel deixou a sua marca em muitos outros políticos. No entanto, não deixou herdeiros como conhecemos tradicionalmente. Mesmo com um sobrenome influente e uma trajetória reconhecida, seus filhos não seguiram os seus passos.
Estado influenciou a carreira
Influenciou a carreira de pessoas como a advogada Margarida Cantarelli. Ela, que atuou como chefe da Casa Civil entre 1979 e 1982, diz que ele deixou “em muitos amigos, um espírito que a gente chama macielista de tratar as pessoas e os fatos e realmente passou para muita gente”. afirma.
O deputado federal André de Paula (PSD) também é uma das figuras políticas influenciadas por Maciel. “Eu acho que deixou pessoas que admiram ele e que fazem um esforço brutal para estar à altura do que aprenderam com ele”, diz o parlamentar. No entanto, ele não se considera um herdeiro político “como se costuma entender a palavra”, mas alguém que teve sobre a sua formação um impacto muito forte dos ensinamentos de Marco Maciel.
“Eu aprendi muito com ele e tudo que eu aprendi com ele é fundamental para o sucesso que eu tenho tido na vida pública", completou. Já o ex-ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), José Jorge, destaca que começou a carreira política com Marco Maciel. “Antes, eu era burocrata do governo”, anota. Segundo ele, Maciel sempre esteve presente. “Eu não sou um político como ele, 100% político. Ele era 100% político, o tempo todo. Minha vocação é mais um técnico que foi político por oportunidade", disse.
Seguidor aplicado
Além deles, o ex-governador Gustavo Krause tem Maciel como exemplo para sua formação política. "Sou um discípulo aplicado. É meu exemplo de política e de vida. Procuro difundir o estilo e as convicções dele", ressaltou. Para ele, mais do que herdeiros, Maciel fez escola e afirmou um estilo. "Criou uma Escola fundada no tripé valores/ideias, ação transformadora e ética pública/honestidade", destaca. Krause acrescenta que Maciel era um "político completo, inteiramente dedicado à causa". "Político por vocação. Com paixão e responsabilidade. Trabalhava noite e dia em favor do bem comum. Uma referência e sua capacidade de articulação e entendimento faz falta ao Brasil”, completou.
O relacionamento com Jarbas e Miguel Arraes
Conhecido pelo perfil conciliador e pela busca do diálogo constante, Marco Maciel não poderia deixar de colecionar também adversários na arena dos inevitáveis embates da política. O maior e mais conhecidos desses movimentos envolve dois dos seus maiores adversários: o senador Jarbas Vasconcelos e o ex-governador Miguel Arraes. Um deles viria a se tornar seu aliado e formar uma das mais vitoriosas frentes políticas do Estado - a União por Pernambuco, enquanto o outro permaneceria na trincheira oposta.
Mudança de rumo
Durante o período militar, Jarbas Vasconcelos foi uma das principais vozes da oposição à Ditadura Militar, enquanto Marco Maciel era um dos principais nomes da Arena. Os dois permaneceram em lados antagônicos durante os anos de chumbo, na reabertura política do País e nos primeiros anos da volta do regime democrático. No período pós-redemocratização, ex-governador Miguel Arraes e Jarbas Vasconcelos firmaram uma aliança que levou a esquerda a duas consecultivas e simbólicas vitórias em cima do PFL de Marco Maciel. Jarbas foi eleito prefeito do Recife em 1985 e Miguel Arraes governador do Estado em 1986.
Os triunfos do início da parceria começaram a estremecer a aliança com os seus primeiros revezes. O PFL de Marco Maciel vence as eleições para a Prefeitura do Recife em 1988 e para o Governo do Estado em 1990. Ambas com Joaquim Francisco na cabeça de chapa. O racha no campo esquerdista levou Jarbas Vasconcelos a apoiar a campanha de Gustavo Krause para o Governo do Estado em 1994 e a presidencial de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que tinha Marco Maciel como vice. Estava formado o embrião da União por Pernambuco.
As críticas ao tratamento do vice Marco Maciel a gestão do então governador Miguel Arraes (1995-1998) eram constantes e aliados do gestor estadual acusavam a administração federal de "fechar as torneiras para o Estado". Apesar da rivalidade entre as lideranças, a relação entre ambos era republicana. O mesmo tratamento foi mantido quando o neto de Miguel Arraes, Eduardo Campos, assumiu o comando do Governo de Pernambuco em 2007.
Um homem de fé e um trator no trabalho
Extremamente religioso, Marco Maciel andava o tempo inteiro com uma Bíblia na pasta. Ele também era conhecido por dormir pouco, jantar tarde e trabalhar madrugadas adentro
De pasta na mão, o, então, senador da República, Marco Maciel, embarca em um avião para mais um compromisso em Manaus. Ou de volta para Recife. Ou, então, para a Capital federal, Brasília. Altamente atarefado e sempre acompanhado de sua Bíblia e dos documentos mais indispensáveis na maleta de mão, o político, assim como qualquer outro, também teve suas histórias marcantes durante a trajetória em vida pública. Dos despachos noturnos aos poucos hobbies curiosos.
Herança do pai
O ex-senador era extremamente religioso, característica herdada de seu pai, José do Rego Maciel, torcedor fervoroso do Santa Cruz e que, hoje, dá nome ao Estádio do Arruda. Sempre após a rotina de trabalho, junto à família, Marco Maciel lia trechos da Bíblia ou das edições periódicas intituladas "Liturgia Diária" ou a "Liturgia das Horas".
Comunhão todo dia
Com o Livro Sagrado dentro de sua pasta, Marco Maciel passou alguns “perrengues” em meio às suas viagens. A história é contada pelo ex-secretário de Imprensa dos governos de Marco Maciel, Ângelo Castelo Branco. Autor do livro “Marco Maciel: um artífice do entendimento”, ele conta na publicação como a fé e o humor sutil andavam lado a lado com o republicano. "Diziam que ele 'fazia primeira comunhão' todo dia, de tão católico que ele era. Ele lia muito as encíclicas papais", diz Castelo Branco.
Em julho de 1980, o então governador Marco Maciel buscava levar Pernambuco a um patamar internacional. Almejando colocar o Estado na direção de grandes eventos e ilustres visitas, o político reuniu esforços para incluir Recife em uma rota histórica. Com viagem programada para o continente sul-americano, o papa João Paulo II tinha a Capital pernambucana em sua rota. No entanto, em virtude da extensa agenda, a passagem seria cancelada. Mas não para Maciel. "A notícia caiu como um míssil dentro do Palácio do Campo das Princesas. Pernambuco, estado com profunda raiz religiosa, não poderia sofrer uma decepção dessas", relatou em depoimento o, então, subsecretário da Casa Civil, Sílvio Amorim.
João paulo II
Como católico fiel, Marco Maciel articulou para reverter a situação. Após uma série de contatos com o Vaticano, uma carta foi elaborada para ser levada ao núncio apostólico, embaixador do Estado do Vaticano no Brasil, Dom Carmine Rocco. Na mesma noite, Amorim seguiu para a Itália a fim de levar a mensagem, tão recomendada por Marco Maciel, e que gerou um desfecho feliz. Recebida pelo reverendíssimo, a carta chegou até o Santo Padre, que confirmou a visita.
No dia 7 de julho daquele ano, às 15h42, o Boeing 737 da FAB pousava no Aeroporto Militar do Ibura, hoje Base Aérea do Jordão. Recebido por Dom Helder Camara, então arcebispo do Recife, por Marco Maciel e pela esposa Anna Maria, João Paulo II beijou o solo da capital pernambucana. Por fim, o representante máximo da Igreja Católica se encaminhou até o Palácio do Campo das Princesas, onde encontrou vários fiéis portando mensagens. Um feito santo, que só foi possível através do esforço de Marco Maciel e de sua equipe em mais uma noite insone, que, aliás, virou marca registrada do ex-governador.
Despachos noturnos
Sem muitos hobbies ou práticas esportivas, a grande paixão de Marco Maciel era a vida política, a rotina pública. "O político nasce, não se faz", disse o próprio Marco Maciel em entrevista à TV Senado publicada no ano de 2011. Realizar despachos até a meia-noite e rotineiras poucas horas de sono eram características conhecidas por pessoas mais próximas.
Jantares às 23h
Durante os tempos de governador, com residência no segundo andar do Palácio do Campo das Princesas, a maioria do tempo, mesmo próximo ao conforto do "lar", era gasto em seu gabinete. “Eu nunca jantei com ele antes das 23h. Ficava ali com ele, ele exigia muito a presença de todos para despachos, noite adentro”, conta Castello Branco.
Não era incomum os despachos realizados à meia-noite, fato lembrado por Everardo Maciel, secretário da Fazenda do Governo de Pernambuco entre os anos de 1979 e 1982. "Estava despachando com ele às 3h da manhã. Então, ele interrompeu, chamou um ajudante e pediu para fazer uma ligação para o secretário de Agricultura, Aloísio Sotero. Não conseguindo o contato com o gestor, Marco virou para mim e disse: 'O Sotero é muito bom, mas dorme demais, viu?'", lembrou.
Um hobbie inusitado
Ainda assim, houve espaço para certos hobbies durante a vida. Cultivou por décadas o colecionamento de selos, sendo especializado na filatelia brasileira. Certa vez, de maneira inusitada, supreendeu a família. Numa viagem aos Estados Unidos, tomou quase um dia inteiro para comprar todos os apetrechos com a missão de se tornar um adepto do cachimbo. “Quando chegamos no Brasil, ele fumou uma vez e nunca mais”, conta a mulher Anna Maria Maciel, 59, com quem foi casado há 33 anos e tem três filhos. “Acho que ele descobriu que seria uma enorme perda de tempo”, disse.
Blog do Paixão