Depoimentos da CPI da Covid que
revelam esquema de corrupção na compra da Covaxin e suposto envolvimento do
presidente agravaram a crise do governo
Talita de Souza / Correio Braziliense
Foto: Reprodução
Pesquisa divulgada
neste domingo (11/7) pelo Instituto Datafolha indica que 70% dos
brasileiros acreditam que há corrupção no governo do presidente Jair Bolsonaro
(sem partido). Outros 23% afirmaram não ter suspeitas de irregularidades na
gestão do chefe do Executivo e 7% não souberam responder.
Foco
das investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, o
Ministério da Saúde também registra alta desconfiança dos entrevistados: 63%
acreditam que a pasta está envolvida em esquemas corruptos, enquanto 25% negam
qualquer desvio.
O presidente foi acusado por
depoentes da CPI de saber do superfaturamento na compra da vacina Covaxin.
Para 64% dos entrevistados, Bolsonaro realmente sabia do esquema. Entre os que
acreditam no envolvimento do chefe do Executivo, jovens de 16 a 24 anos (72%) e
nordestinos (71%) são maioria. Já os que negam a participação de Bolsonaro
somam 25% e 11% não opinaram.
A
pesquisa foi feita presencialmente entre a última quarta (7/7) e quinta-feira
(8/7) com 2.074 pessoas. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para
menos.
Mulheres e nordestinos são os que mais desconfiam
do governo; homens e idosos negam suspeitas
Entre
os entrevistados, mulheres (74%), jovens (78%), nordestinos (78%) e pessoas que
reprovam o governo (92%) são os que mais veem irregularidades na gestão atual.
Por
outro lado, homens (28%), pessoas com mais de 60 anos (29%), evangélicos (30%)
e moradores das regiões Norte e Centro-Oeste (31%) são os que mais confiam na
gestão Bolsonaro.
No
sábado (10/7), dados do Datafolha mostraram outra reprovação do presidente da
República: 54% dos brasileiros defendem a
abertura do processo de impeachment de Bolsonaro. Foi a primeira vez
que o levantamento registrou maioria do apoio para o fim antecipado do mandato
do presidente.
CPI potencializou crise de Bolsonaro; presidente
revida com ataques contra parlamentares
A
abertura da CPI da Covid, no Senado Federal, foi o início do agravamento da
crise popular de Bolsonaro. O ápice ocorreu em 25 de junho, quando o deputado
federal Luis Miranda (DEM-DF) revelou que o Planalto sabia das
irregularidades no contrato de compra da Covaxin, vacina do
laboratório indiano Bharat Biotech.
As
revelações de Miranda ocorreram após o irmão dele, Luis Ricardo
Miranda, ser alvo de inquérito no Ministério Público Federal (MPU) e
ter prestado depoimento à Procuradoria da República do Distrito Federal,
afirmando que havia "pressões anormais"por parte de
servidores da Saúde em relação ao contrato envolvendo a Covaxin. Luis
Ricardo é técnico do Ministério da Saúde e caiu nas mãos dele a licença de
importação da vacina indiana, a partir de um documento que levantou suspeitas
do servidor.
"O presidente sabe de toda a verdade e
poderia ter me poupado de passar esse constrangimento", afirmou o deputado
Luis Miranda durante o interrogatório na CPI. "Disse que sabia e que mais
ou menos presumia o tamanho do problema e que iria encaminhar à DG (Diretoria
Geral) da Polícia Federal". Senadores afirmaram, no entanto, que na PF não
houve nenhuma movimentação neste sentido por parte do presidente.
Blog do Paixão