Como a história da empresa, que é
considerada a estatal mais antiga do país, se entrelaça e ajudou a construir o
Brasil.
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alguns meses, eu estava na Rodoviária de Campinas, quando encontrei um homem da
cidade de Tapauá. Município que fica a 5 dias de barco, partindo de Manaus, no
Amazônia. O homem, que era casado com uma indígena da tribo Ticuna, estava
procurando uma estação dos Correios para avisar a família que não tinha
dinheiro para voltar para casa neste momento. Eu prontamente perguntei:
“Nossa, cara, há muitos anos não vejo alguém enviando uma carta”.
Eis
que o cidadão me respondeu:
“Lá,
na região onde moro, não tem telefone, nem energia. Mas tem Correios”.
Carteiro no início do Século XX
E é dessa forma que o serviço de telégrafos brasileiro se destacou ao longo da história, e é aí que se encontra sua principal importância.
A ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos), ou mais conhecida como
Correios, é intima da maior parte da população brasileira. Todo mundo já enviou
ou recebeu algo através das mãos dessa empresa, que, atualmente, é uma das
maiores do mundo, chegando a lugares nos quais jamais uma empresa privada
chegaria.
O
serviço dos Correios teve início em 1663, quando nem governo o país tinha. Na
verdade, nem éramos um país. Fundado no Rio de Janeiro, com sua primeira filial
em Salvador, capital na época, os Correios foram aumentando de tamanho muito
rapidamente, devido à grande demanda por comunicação em uma região continental
como era, e ainda é, o Brasil.
Um Carteiro negro em Santos.
Funcionários dos Correios no Rio Grande do Sul, durante os anos 40
A
princípio, os Correios eram responsáveis pela circulação de ordens oficiais dos
Governadores Gerais do Brasil para chefes de província. Mas, aos poucos, o
serviço, que ajudou a mapear os logradouros pelo Brasil, amplia suas ações e
passa a levar pequenas encomendas, telegramas não oficiais e até mesmo ordens
judiciais e outros editais. Ninguém conhece o povo brasileiro como um carteiro
dos Correios.
Durante
o século XIX, por exemplo, os Correios contrataram muitos homens negros para
fazer o trabalho de carteiro. Garantindo uma inclusão de ex-escravizados, fato
peculiar, pois na época, a maior parte da população negra foi excluída dos
postos formais de emprego.
Carro do Correios em 1925
É
também no final do século XIX que parte do país passa por uma modernização
urbana, com a reforma de logradouros e instituição de endereços. Esses que
vocês conhecem: Cidade + Rua + Número + Código de Endereçamento Postal (o
famoso CEP). Não fosse a atuação dos Correios, que já conhecia e gerenciava boa
parte das residências brasileiras, seria muito mais complicada essa
sistematização.
Durante
o início do século XX, a empresa passa a ampliar ainda mais as suas ações. O
país passou por guerras civis, revoltas e mudanças bruscas de governo, e o
serviço postal foi fundamental para reorganizar a burocracia do país, já que
eram dentro das bolsas de seus carteiros que ordens, leis e o diário oficial
era enviado para as instituições públicas e os meios de comunicação.
Agenda com as datas de passagem dos carteiros
Em
1969, os Correios se transformaram em uma autarquia vinculada ao Ministério das
Comunicações e indicações políticas passaram a ocorrer com muito mais
frequência que anteriormente. Durante a Ditadura Militar, inicia-se um
sucateamento e a falta de investimento passa a ser muito visível, tanto em
recursos humanos como em investimentos.
Durante
os anos 90, com as políticas neoliberais implantadas por Fernando Collor de
Mello e acompanhadas por Fernando Henrique Cardoso, há um projeto de
modernização que, em grande parte, é engavetado pelos presidentes. É nesse
período também que se começa a falar, muito fortemente, da possibilidade de
privatização. A receita é muito conhecida no Brasil. Se pega uma empresa
grande, pública, precarizam-se seus serviços e, após a população passar a ter
uma percepção ruim da empresa, vende-se a um magnata do exterior, que acaba
pegando tudo pronto, e só coloca para funcionar como o governo poderia ter feito.
Local para depósito de cartas
Além
das crises causadas pelo sistemático sucateamento, casos de corrupção durante o
Governo Lula, minaram, em partes, a capacidade de expansão da empresa. Até
mesmo uma CPI foi aberta para investigar os casos flagrantes de corrupção.
Com o advento da internet e a gradual conversão de contas e de comunicação
eletrônica, os Correios passaram a investir em entregas de compras por
e-commerce.
Devido
à crise financeira no país, a empresa fechou quatro anos com prejuízo: 2013,
2014, 2015, e 2016; o que levou a privatização a ser cogitada muito fortemente.
Os correios chegam aos lugares mais complicados do país
Porém,
em 2017, a empresa voltou a dar um grande lucro. Mesmo com essa recuperação, o
Ministro da Economia Paulo Guedes, insistiu na possibilidade de privatização.
Em 2019, foi proposto um programa de desligamento voluntário de funcionários.
Era, de forma mais visível e explícita, o início do fim.
Quanto
à privatização, os correios não são apenas uma empresa que entrega encomendas.
A autarquia está em lugares que uma empresa privada não teria interesse de ir,
pois não gera lucro, cumpre apenas um papel social de concretizar a comunicação
entre pessoas que vivem nos rincões do país. Como? Como o serviço feito de
Campinas para Tapauá, cidade no início do texto, que garantiu, a uma família
amazonense notícias do chefe da família, que ali esperava em desespero. Nem
todo mundo pode desprezar o serviço de um carteiro.
Grande Prédio alfandegário do Correios
Funcionário do Correio Mor, primeiro serviço postal do Brasil em 1663
Referências:
Reflexões sobre a História dos Correios e as comemorações do dia 25 de janeiro
Correios 350 Anos: uma história em selos
Blog do Paixão