Adriana de Paula /Iconografia da História
A freira que ousou dar dignidade a desgraçados no país da desigualdade
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aria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes
nasceu em 26 de maio de 1914, em Salvador. Conhecida como Irmã Dulce, ela se
tornou uma das mais importantes ativistas humanitárias do século XX,
desenvolvendo importantes ações com pessoas em situação de rua e moradores da
favela.
Desde cedo, ela mostrou vocação
religiosa. Em 1934, tornou-se freira e recebeu o nome que a tornou conhecida em
todo o Brasil. A escolha do nome foi uma homenagem à sua mãe, que havia
falecido quando a religiosa ainda era criança.
Ela iniciou sua carreira religiosa ensinando História e Geografia em um colégio religioso e prestando auxílio religioso e serviços de enfermagem no Hospital Espanhol de Salvador.
Em 1936, ela fundou a União Operária
São Francisco e, no ano seguinte, o Círculo Operário da Bahia. Dois anos
depois, criou o Colégio Santo Antônio, no qual atendia operários e suas
famílias, atuando na educação de crianças, jovens e adultos.
Irmã Dulce também foi responsável
pela criação de um albergue que acolhia doentes e que depois daria origem ao
Hospital Santo Antônio.
A precariedade com que viviam as
pessoas em situação de rua e os moradores da comunidade de Alagados fez com que
a freira passasse a atuar em diversas ações de assistência às pessoas carentes.
Para atender a quem vivia na rua, ela desenvolveu um projeto de assistência
social e religiosa nos arcos da Igreja do Bonfim. Sua ação, porém, causou
incômodo ao pároco e aos frequentadores da igreja. Segundo eles, aquelas
pessoas espantavam os turistas e incomodavam quem passava pelo local. Irmã
Dulce transferiu o seu trabalho para o Mercado do Peixe, mas ali também foi mal
recebida e precisou buscar outro local de acolhimento.
As dificuldades que encontrou para
prestar auxílio às pessoas em situação de vulnerabilidade é algo bem comum no
Brasil, em que há uma tendência de expulsar aqueles que são considerados
indesejados, como se ao tirá-los de locais públicos, eles pudessem ser
apagados. Irmã Dulce, no entanto, não desistiu e conseguiu permissão da madre
superiora para acolher 70 pessoas em situação de rua no galinheiro do Convento
das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição.
Em 1960, ela recebeu ajuda do Estado para transformar o local em um albergue com 150 leitos e que, posteriormente, seria transformado no Hospital Santo Antônio. Ela foi responsável ainda pela criação de um centro geriátrico e de um centro educacional que atende crianças em situação de vulnerabilidade, oferecendo-lhes acesso à educação, assistência odontológica, inclusão digital e práticas esportivas.
Suas ações, reconhecidas no mundo
inteiro, fizeram com que ela fosse chamada de “Anjo Bom da Bahia” e a tornaram
um símbolo do amor ao próximo e da caridade, mostrando a importância de atender
aos mais necessitados e oferecer-lhes condições dignas de vida.
De estatura pequena e saúde frágil, ela era gigante em sua luta para atender aos necessitados, cuidando de doentes e de pessoas em situação de extrema miséria até o fim da sua vida. Em uma época em que as religiosas ficavam reclusas, ela saiu do convento e levou a fé e a caridade para as ruas, colocando a espiritualidade a serviço do próximo.
Ela faleceu em 13 de março de 1992. Sua extrema-unção foi dada pelo Papa João Paulo II e seus restos mortais estão enterrados na capela do Hospital Santo Antônio, uma de suas grandes obras.
Em outubro de 2010, o Vaticano
confirmou um milagre a ela atribuído: a recuperação de uma mulher que sofrera
uma intensa hemorragia no parto. Em dezembro de 2010, ela foi beatificada pelo
Papa Bento XVI e passou a ser reconhecida como “Bem-aventurada Dulce dos
Pobres”. Em 2019, o Vaticano reconheceu um segundo milagre a ela atribuído:
suas orações teriam ajudado na cura de um músico que tinha perdido a visão. A
partir disso, o processo de canonização foi concluído e Irmã Dulce se tornou a
primeira santa nascida no Brasil.
Mesmo quem não é católico admira a
bondade de Irmã Dulce e o modo como ela olhou para aqueles que vivem à margem
da sociedade. Ela mostrou que devemos enxergar aqueles que são excluídos e
oferecer-lhe condições para que saiam da invisibilidade que torna ainda mais
dura a vida de quem enfrenta a miséria das ruas.
Referências:
https://www.bbc.com/portuguese/geral-48271990
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/11/politica/1570806807_534982.html
Blog do Paixão