Cidade tem mais de nove quilômetros de praia e é a capital brasileira mais ameaçada pelas mudanças climáticas.
Por Pedro Alves, g1 PE
Fotografia de 1940 mostra a Praia de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife — Foto: Fundaj
Com mais de nove quilômetros de praia, o Recife é a capital brasileira mais ameaçada pelo avanço do mar, de acordo com o Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) da Organização das Nações Unidas (ONU). Desde o século 20, com a ocupação das regiões costeiras, é possível ver o quanto tem diminuído a faixa de areia na cidade.
O g1 reuniu fotos antigas, que mostram as mudanças pelas quais passou a Praia de Boa Viagem, na Zona Sul.
De acordo com o professor Marcus Silva, do departamento de oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), apesar de o avanço do mar ser uma ameaça, o avanço humano em direção ao litoral é ainda mais crítico.
"A estimativa é de que, globalmente, o nível do mar aumentou 20 centímetros entre 1900 e 2018. Tem lugares em que o mar avançou mais e outros menos. Estamos num dos lugares mais críticos por ser a borda oeste do Atlântico. Mas existe um problema muito sério de intervenção humana. Nós avançamos muito mais para dentro da praia do que o mar subiu", explicou.
Em 2019, a prefeitura publicou um decreto reconhecendo a emergência climática na capital e anunciou que incluiria o tema no currículo das escolas.
O professor Roberto Montezuma, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFPE, mora em Boa Viagem e viu de perto as mudanças na orla. A região, que costumava ser utilizada para veraneio, foi tomada pela desordenada ocupação urbana e se tornou o bairro mais populoso da cidade, com mais de 100 mil habitantes.
Fotografia de 1965 mostra o Hotel Boa Viagem, que ficava nas imediações da Pracinha de Boa Viagem, na Zona Sul — Foto: Fundaj
"Moro na frente da Pracinha de Boa Viagem e aquilo era um grande areial. Hoje, você tem pedras colocadas pela prefeitura para conter o mar. Era um espaço grande como era perto do Edifício Acaiaca, mas a água foi 'comendo' tudo", afirmou.
A Pracinha de Boa Viagem, à qual se refere Montezuma, fica entre as ruas Barão de Souza Leão e Doutor Nilo Câmara. Perto dela ficava o antigo Hotel Boa Viagem, demolido em 2007.
Atualmente, onde antes havia uma faixa de areia, quiosques e algumas pequenas edificações, restou somente as pedras instaladas pela prefeitura para evitar a erosão.
Para o professor Marcus Silva, Boa Viagem não é a única preocupação. Ele afirma que, com o avanço do mar, toda a bacia dos rios que cortam a cidade deve ser afetada, a exemplo do Capibaribe, Beberibe e Tejipió. Com isso, habitação, saneamento e transporte serão impactados.
"Temos um patrimônio histórico muito grande aqui, e vamos ter que proteger tudo isso. Mas o grande problema, realmente, é a ocupação urbana. Lembro que, moleque, ia veranear na Praia de Candeias [em Jaboatão dos Guararapes]. Era preciso cruzar uma duna, um morro, para chegar à praia. Hoje tem uma série de hotéis. Aquilo não é fruto da elevação do mar, mas sim da intervenção humana", declarou.
Imagem aérea mostra imediações da Pracinha de Boa Viagem, Zona Sul do Recife — Foto: Reprodução/TV Globo
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