Estudo da UFAL levantou possibilidade de aumento de casos de sarna ao uso indiscriminado do medicamento. Causa do surto, registrado em ao menos 13 cidades pernambucanas, ainda é investigada.
Por g1 PE e TV Globo
Casos de lesões de pele foram registrados na capital pernambucana e também em outras 12 cidades — Foto: Reprodução/TV Globo
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do surto de lesões na pele que causam coceira ainda não foram identificadas.
Dois médicos que acompanham os casos no Recife afirmaram,
nesta segunda-feira (29), que ainda não encontraram fatores que levem à
correlação entre o uso de ivermectina e notificações de pessoas com sintomas na
capital.
A hipótese foi levantada por pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), que estudam a possibilidade de o uso indiscriminado do medicamento estar relacionado a um aumento de casos de escabiose, mais conhecida como sarna humana. A sarna é uma das hipóteses investigadas, bem como alergias e fatores ambientais.
A Secretaria de Saúde do Recife informou que, nesta segunda-feira (29), subiu para 185 o número casos de lesões cutâneas a esclarecer. Eles foram registrados em 39 bairros do município, com predominância na Guabiraba e em Dois Irmãos, na Zona Norte.
Ao menos outras 12 cidades notificaram pessoas com sintomas, somando mais de 400 registros desde o começo de outubro, quando foram registrados os primeiros pacientes no Recife.
Uma equipe dermatologistas passou a reforçar as investigações na capital. Entre eles, está a médica do Hospital das Clínicas e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia regional Pernambuco, Cláudia Ferraz. Ela esteve com a equipe da prefeitura na comunidade do Sítio dos Macacos, na Guabiraba.
“A gente ainda não tem absolutamente nenhuma correlação com o que está visualizando aqui. Existem hipóteses de resistência com o uso indiscriminado [da ivermectina], mas a gente não tem nenhum fator relevante que faça a gente pensar que isso poderia estar acontecendo exclusivamente aqui”, declarou a dermatologista.
Equipe que investiga surto de lesões que causam coceira visitou comunidade do Sítio dos Macacos, no Recife, nesta segunda-feira (29) — Foto: Reprodução/TV Globo
A médica também explicou que, dos pacientes que viu, notou lesões bem variadas que podem estar associadas a diferentes causas.
"Podem ser quadros associados a ácaros, podem ser quadros de dermatite de contato a algum fato ambiental, podem ser quadros alérgicos de base que foram exacerbados pelo calor. Então, a gente ainda precisa definir o diagnóstico morfológico para a gente partir para uma etiologia [estudo das causas] real para validar qualquer uma dessas hipóteses", disse.
O infectologista do Hospital Universitário Oswaldo Cruz Demetrius Montenegro acompanha as investigações como especialista e faz parte da comissão que atua junto à prefeitura do Recife. Segundo ele, apesar de ser uma única apuração, os pacientes têm sintomas bem variados.
“Mesmo que a gente chegue à conclusão de que é escabiose, não dá para dizer que é uma superescabiose já resistente à ivermectina porque algumas pessoas que usaram ivermectina melhoraram”, defendeu o infectologista.
Montenegro afirmou que existe um grupo de pessoas cujas lesões se assemelham à sarna, foram tratadas e ficaram boas, mas também há outro em que as manchas não eram características de escabiose.
“Tem um outro grupo, também muito extenso, em que as lesões não eram características de escabiose e não melhoraram. Eram lesões muito parecidas com picadas de inseto mesmo ou de alergia. Então, aí, realmente, não tem como dizer que seja uma escabiose resistente a ivermectina”, disse.
Olinda
Nesta segunda, Olinda informou que foram registradas 36 ocorrências. As notificações foram feitas nos seguintes bairros: Peixinhos (7); Jardim Brasil (5); Água Compridas (4); Ouro Preto (4), Jardim Atlântico (3); Aguazinha (3); Sapucaia (2); Tabajara (2); Bultrins (1); Vila Popular (1); Passarinho (1); Salgadinho (1); Sítio Novo (1); Amaro Branco (1).
Exames
Além de passar a contar com dermatologistas na equipe, nesta segunda-feira (29), as investigações continuaram por meio da aplicação de questionários nos locais de maior incidência, da realização de novos exames clínicos e laboratoriais e da instalação de armadilhas para capturar mosquitos.
“A gente ainda não tem como precisar a causa, é por isso que a gente está fazendo uma ação no território de estar aprofundando nas perguntas para as pessoas que tiveram os sintomas e coletando mais outros exames, bem como mais insetos para que tenhamos mais elementos”, apontou a secretária-executiva de Vigilância em Saúde da capital.
Hemograma, exames para detectar rubéola e outras doenças e sorologia para identificar se as pessoas tiveram dengue, zika e chikungunya fazem parte da investigação por análise laboratorial. As equipes foram a casas onde houve registro de pessoas com sintomas.
O exame laboratorial para sarna é feito a partir de uma pequena raspagem de amostra da pele onde é investigada a presença do ácaro do tipo Sarcoptes scabiei variedade hominis, que causa a doença.
"A raspagem na pele, a gente tem se comunicado com serviços especializados em dermatologia, fizemos na semana passada aqui no território, mas agora mudamos de estratégia. Estamos com parceria com o governo do estado [...] e ao se encontrar casos novos, esses pacientes serão encaminhados para serviço e avaliação do dermatologista e também a coleta", explicou.
A Secretaria de Saúde do Recife informou que o resultado do teste para detectar o ácaro da escabiose realizado em pacientes com sintomas ainda não saiu.
Notificação
No dia 19 de novembro, o Núcleo de Vigilância e Resposta às Emergências em Saúde Pública da SES lançou uma nota técnica que orientou os serviços e profissionais de saúde a notificarem, em até 24 horas, o Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (Cievs) sobre os casos de pessoas com lesões na pele e coceira.
A SES informou em nota que tem dado apoio às investigações através da equipe técnica da secretaria, do Laboratório Central (Lacen) e especialistas.
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