Pais de Beatriz Angélica, assassinada em 2015, chegaram ao Recife, nesta terça (28), após 23 dias de caminhada que começou em Petrolina, no Sertão, onde ocorreu o crime.
Por g1 PE e TV Globo
Lúcia Mota comemora ao entrar no Palácio do Campos das Princesas após caminhada de mais de 700 quilômetros — Foto: Antônio Coelho/TV Globo
Os pais da garota Beatriz Angélica Mota, assassinada com 42 facadas, em uma escola particular de Petrolina no Sertão de Pernambuco, em 2015, encerraram, nesta terça (28), uma caminhada de mais de 700 quilômetros para pedir justiça. Eles chegaram ao Recife para realizar uma séria de cobranças ao governo. "Não toleramos mais impunidade", afirmou a mãe de Beatriz, Lúcia Mota (veja vídeo acima).
Beatriz Angélica tinha 7 anos de idade quando foi morta, em 10 de dezembro de 2015. Desde então, a polícia fez várias investigações, mas não chegou a uma conclusão que permitisse a prisão de um suspeito.
A caminhada começou no dia 5 de dezembro, em Petrolina, distante 712 quilômetros do Recife. Lúcia e o pai da menina, Sandro Romilton, cruzaram todo o estado para pedir providências ao governador Paulo Câmara (PSB).
Os dois foram recebidos, por volta das 16h, pelo governador no Palácio do Campo das Princesas junto com outras seis pessoas que caminharam com eles. O encontro também foi acompanhado por três deputadas estaduais, uma vereadora e um representante da Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco (OAB-PE).
Antes, foi preciso passar um tempo negociando a entrada na sede do governo junto com o grupo que acompanhou caminhada até o Recife. Inicialmente, o governo não queria autorizar a entrada de ninguém além dos pais de Beatriz. "Se o povo não entrar eu não entro", afirmou Lúcia Mota.
Após a negociação sobre a entrada e sobre um termo pedindo a federalização do caso, ela comemorou ao entrar na sede do executivo estadual.
“São seis anos esperando, aguardando as promessas que não foram cumpridas. Por isso, nós caminhamos. Caminhamos por amor a Beatriz, caminhamos para que o governador se sensibilize como filho, como pai, como esposo, e que atenda nosso pedido que é tão simples e é uma obrigação do estado”, afirmou Lúcia Mota.
Caminhada
Ao longo do trajeto, o grupo foi crescendo. Oito pessoas saíram de Petrolina. Mais de 50 chegaram ao Recife com os pais de beatriz. Motoristas buzinavam em apoio. Perto das 12h, o protesto estava no centro do Recife (VEJA VÍDEO AQUI!).
Na Avenida Conde da Boa Vista, os pais de Beatriz receberam mais carinho. No carro de som, explicaram o que esperam do governo.
Exausta dos 23 dias andando e de seis anos esperando por resposta, ela recebeu o apoio de Mirtes Renata, mãe de Miguel, que morreu aos 5 anos após cair de um prédio de luxo no Recife.
Queixas
Em seis anos, a investigação passou pelas mãos de oito delegados, tem 24 volumes de inquérito, centenas de horas de gravações de imagens e mais de 400 pessoas ouvidas. A família afirma que houve sabotagem dentro da própria Polícia Civil durante os trabalhos.
“A falha, na verdade, são as sabotagens que a própria polícia [fez], que o perito chefe de departamento de perícia do estado de Pernambuco fez. Uma semana depois do crime, ele estava trabalhando para o colégio [de forma particular]. Ele é um funcionário público. Primeiro, ele não deveria estar ali, mas segundo ele participou de sabotagem das perícias”, declarou a mãe.
Família da menina Beatriz caminhou de Petrolina, no Sertão do estado, até o Recife — Foto: Reprodução/TV Globo
No dia 20 de dezembro deste ano, a Corregedoria Geral da Secretaria de Defesa Social (SDS) demitiu o perito criminal Diego Henrique Leonel de Oliveira Costa, que atuou no caso e prestou consultoria de segurança, através de uma empresa da qual é sócio, ao colégio Nossa Senhora Auxiliadora, local onde Beatriz foi assassinada (VEJA VÍDEO AQUI!).
Ele vendeu um plano de segurança para a escola. Para a família de Beatriz, o fato de um dos investigadores ter relação comercial com o estabelecimento que foi local do crime é "imoral".
“Foram perícias inconclusas, pericias com dois resultados e não se chegou a quem articulou, quem planejou. Tudo aquilo foi planejado com antecedência, a gente sabe disso. O colégio Auxiliadora era uma escola muito difícil de entrar, para ter acesso até as salas tinha que ser alguém que conhecesse, então foi planejado, a gente não tem dúvida em relação a isso”, disse Lúcia.
De acordo com o pai de Beatriz, a família tem atuado com um trabalho de investigação particular. A luta agora é pela federalização do caso, ou seja, para que a investigação saia das mãos da polícia local e possa ser acompanhada pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
“Tudo que se sabe hoje sobre o caso de Beatriz, o que a imprensa divulga, vem justamente desse trabalho da nossa família. Somos nós que temos uma investigação paralela, somos nós que divulgamos os eventos que acontecem. A Polícia Civil se resume simplesmente a dizer em notas que estão empenhados e o inquérito segue sob sigilo”, declarou Sandro.
Caminhada da família em direção à área central do Recife na manhã desta terça-feira (28) — Foto: Reprodução/TV Globo
Outro pedido feito pela família durante a caminhada é a inclusão de peritos particulares americanos, especializados em casos como o de Beatriz.
Eles pedem pela assinatura de um termo de cooperação técnica com uma empresa americana para que essa entidade tenha acesso integral aos autos do processo.
“Não é algo diferente nem novo, na verdade a própria Polícia Civil realizou um trabalho com uma empresa particular que foi financiada pelo colégio. Então nós não estamos pedindo nada demais. O secretário diz que a legislação não permite, mas que legislação é essa, porque ele não apresentou, e tem precedente dentro do próprio inquérito”, afirmou Lúcia.
Apoio
Mãe do menino Miguel, morto após cair de prédio de luxo, Mirtes Renata caminhou ao lado dos pais de Beatriz — Foto: Reprodução/TV Globo
Mais oito pessoas acompanharam os pais de Beatriz durante a caminhada entre Petrolina e o Recife. Sem contar com o apoio que eles disseram ter recebido ao longo da viagem.
“Nós vínhamos preparados para dormir em barracas, nós tínhamos tudo, mas [houve] a solidariedade das pessoas, de muitas prefeituras também ao longo do percurso. Nos ofereceram uma estadia mais confortável. Médicos, fisioterapeutas, a sociedade civil no todo nos apoiaram, nos abraçaram, em nenhum momento nos faltou absolutamente nada”, declarou Lúcia.
Quando já estavam na Região Metropolitana do Recife, a mãe do menino Miguel, Mirtes Renata, se juntou ao grupo.
Miguel morreu após cair do 9° andar de um prédio de luxo na área central do Recife, após a mãe, empregada doméstica, ter deixado o filho sob os cuidados da patroa para passear com o cachorro da família.
“Eu sou mãe, eu sinto a dor que ela está sentindo hoje, e estou aqui dando o apoio, o apoio que ela também me deu quando aconteceu o caso de Miguel. Estou retribuindo aqui nesse momento quando ela chegar em Recife e que o pedido dela seja cumprido. Pedimos justiça pelos nossos filhos. Uma mãe por um filho ela move céus e terras e isso é mover céus e terras por um filho. Todo esse sacrifício não vai ser em vão”, afirmou Mirtes.
Respostas
Por meio de nota, a Associação de Polícia Científica se pronunciou sobre o caso e afirmou que “considerando as graves acusações que vêm sendo recorrentemente feitas por membros da família da vítima, tanto contra Peritos Criminais quanto, de modo geral, contra integrantes da Polícia Civil de Pernambuco, [...] está atenta a todos os desdobramentos do caso, para adotar todas as providências voltadas para a defesa dos interesses do Perito Criminal Diego e de toda categoria”.
De acordo com o órgão, “o trabalho realizado pela Polícia Científica contribui para a produção da prova técnica, auxiliando, de modo relevante, a investigação policial”.
Ainda no texto, eles afirmaram que seguem “na defesa incansável dos interesses dos Peritos Criminais que estejam sendo vítimas de decisões administrativas desarrazoadas e desproporcionais". Por fim, a associação afirmou que “também não permitirá que seja maculada a reputação de profissionais responsáveis e probos”.
Também por meio de nota, o Colégio Nossa Senhora Auxiliadora informou que as imagens divulgadas integram o inquérito policial e que as pessoas que aparecem nelas não fazem parte da instituição e foram identificadas e ouvidas pela Polícia Civil.
"Não houve manipulação ou exclusão de imagens das câmeras pelo Colégio. As gravações foram entregues de forma completa e em originais à autoridade policial, inclusive devidamente documentado no inquérito policial, cabendo aqui esclarecer que foi o colégio que financiou a recuperação das imagens à pedido da Polícia Civil", disse, no documento.
O Colégio Nossa Senhora Auxiliadora também informou, na nota, que é de total interesse da instituição que o crime seja elucidado e "que confia plenamente na Justiça e na Polícia Civil para a solução do caso".
Entenda o caso
Beatriz Angélica Mota foi assassinada em 2015, em Petrolina, no Sertão — Foto: Arquivo pessoal / Família
Beatriz Angélica foi assassinada a facadas dentro da escola onde estudava, durante uma solenidade de formatura que aconteceu na noite do dia 10 de dezembro de 2015. O pai dela era professor de inglês da instituição.
A última imagem que a polícia tem de Beatriz foi registrada às 21h59 do dia 10 de dezembro de 2015, quando ela se afasta da mãe e vai até o bebedouro do colégio, localizado na parte inferior da quadra.
Ela foi encontrada já morta, com 42 marcas de facadas em um depósito de material esportivo desativado, ao lado da quadra de esportes onde acontecia a formatura.
Ela tinha ferimentos no tórax, membros superiores e inferiores. A faca usada no crime, de tipo peixeira, foi encontrada cravada na região do abdômen da criança.
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