Decisão liminar do Tribunal de Contas do
Estado (TCE-PE) foi divulgada nesta quinta (2). Equipamentos seriam adquiridos
para estudantes usarem durante pandemia.
Por g1 PE
Sede do Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE-PE) fica no Centro do Recife — Foto: TCE-PE/Divulgação
A |
licitação aberta pela prefeitura do Recife para a
compra de 67 mil tablets para uso de alunos da rede municipal, durante a
pandemia, foi suspensa pelo Tribunal de Contas de Pernambuco (TCE-PE). O custo
previsto era de R$ 93 milhões. Na decisão, o tribunal apontou supostas
irregularidades no certame e favorecimento a uma das empresas.
O TCE informou, por
nota, que a Secretaria de Educação do Recife terá um prazo de cinco dias para
apresentar a defesa. Essa documentação será analisada pela Segunda Câmara do
tribunal.
Segundo o tribunal, a medida cautelar foi expedida na quarta (1º). Nesta quinta (2), o TCE disse que os auditores detectaram vários problemas desde o início dos procedimentos. De acordo com o TCE, “houve falhas na pesquisa de preços empreendida pela prefeitura para fins de orçamento estimativo do processo licitatório 021/2021”.
Ainda segundo o
tribunal, o município não apresentou “amplitude suficiente” para atingir o
valor de mercado do objeto a ser adquirido”. Além disso, não foi realizada uma
”análise crítica” a respeito dos preços cotados junto aos fornecedores.
O Tribunal de Contas
apontou também que uma cláusula na convocação das empresas para entrar na
concorrência restringiu a participação de um consórcio no certame “sem
justificativa técnica robusta para a vedação”.
Isso significa,
segundo os auditores, que houve “violação ao princípio da isonomia na condução
do procedimento licitatório”.
"Omitir-se do
dever de realizar detalhada análise técnica a respeito da proposta apresentada
pela empresa Kona Indústria e Comércio LTDA, sobretudo quanto à exigência
editalícia de certificação do produto na Anatel, bem como de apresentação de
capa protetora, a prefeitura do Recife incorre em irregularidade grave, tendo
em vista que tal atitude fere os princípios da isonomia, vinculação ao instrumento
convocatório e do julgamento objetivo", informou o texto divulgado pelo
TCE.
Também foi apontado pelos auditores do TCE um suposto "favorecimento" de uma das empresas. Mesmo prevista no edital, não foi exigida da empresa declarada vencedora a certificação do tablet na Agência Nacional de telecomunicações (Anatel). “Todo tablet ou celular, para ser comprado pelo poder público, precisa do registro prévio na Anatel, segundo os auditores do TCE.
"As exigências
do edital que deixaram de ser analisadas no procedimento licitatório são de
suma importância para a finalidade da contratação, haja vista que, a título de
exemplo, a certificação/homologação da Anatel é pré-requisito obrigatório para
fins de comercialização e utilização de produtos para telecomunicações no
Brasil", apontaram os auditores, segundo a nota do tribunal.
Advertência
A medida cautelar que suspendeu a licitação foi assinada pela
conselheira Teresa Duere. Ela fez uma advertência sobre o prejuízo dos
estudantes com a falta dos tablets.
Na decisão, a
conselheira do TCE afirmou que “os tablets só não se encontram na posse dos
alunos da rede municipal em razão da decisão da administração pública de
assentir com todo esse cenário, de admissão de produto irregular no processo
licitatório, aguardando que uma empresa, que não observou o edital, que deveria
ser inabilitada, que não cumpriu cronogramas apresentados, buscasse a
regularidade de seu produto, mesmo após sucessivas mudança que lhe foram
permitida.”
No texto divulgado pelo tribunal, a conselheira afirmou que os “gestores do Recife vão ter a responsabilidade pelos fatos apuradas”. Ela determinou a apuração das responsabilidades no âmbito do processo de Auditoria Especial já formalizada (21100798-5), "tanto dos atos relativos ao processamento da licitação, quanto das etapas que o sucederam, e que culminaram no desfecho apresentado, oportunizando o contraditório e a ampla defesa aos responsáveis que vierem a ser relacionados”.
Alertas
A decisão cautelar do TCE determina que a Secretaria de Educação do
Recife e a Secretaria de Planejamento, Gestão e Transformação Digital “não deem
continuidade à contratação da Empresa Kona Indústria e Comércio Ltda.
Diz, ainda, que essa
empresa deve ficar fora do processo licitatório, "por flagrante não
atendimento ao edital, promovendo, por conseguinte, a imediata continuidade do
certame, com a convocação da licitante pela ordem de classificação".
Antes de suspender a
licitação, o TCE informou que “tentou estabelecer um diálogo com a gestão
municipal, para tentar "sanar as supostas irregularidades" na
licitação.
O tribunal expediu
"alertas de responsabilização" com recomendações. Segundo a decisão
do TCE, os avisos não foram acatados.
O primeiro alerta foi enviado em 14 de setembro, segundo o TCE. Na época, uma concorrente apresentou denúncia de que, na licitação, a gestão municipal teria tomado “atitudes totalmente ilegais e estranhamente atípicas para reclassificar e habilitar a primeira colocada que já havia sido excluída da disputa semanas antes”. Segundo os auditores do TCE, a gestão municipal novamente favoreceu a empresa vencedora, que teria descumprido os prazos pactuados.
O segundo alerta do
TCE foi enviado em 7 de outubro. "A Auditoria do TCE anota que o
cronograma apresentado pela Empresa Kona Indústria e Comércio à prefeitura não
fora cumprido. O prazo para apresentação do certificado de conformidade do
produto na Anatel era previsto para o dia 21 de setembro, fixando-se como data
limite o dia seguinte, mas não foi cumprido, e uma nova data teria sido
apresentada à Prefeitura, qual seja, o dia 10 de outubro", apontaram os
auditores.
Para tentar regularizar
a empresa, segundo o texto da decisão do TCE, o secretário de Educação do
Recife apresentou um certificado inválido ao tribunal. O TCE disse que não
aceitou o documento.
Outro alerta foi
enviado em 22 de outubro. Segundo o TCE, mesmo após todos os avisos a empresa
"descumpriu outra vez os prazos estabelecidos com a Secretaria de Educação
do Recife".
O g1 procurou a
assessoria de comunicação da prefeitura do Recife para falar sobre a suspensão
da licitação.
A administração municipal prometeu enviar uma resposta. Até a última atualização desta reportagem, no entanto, o comunicado ainda não tinha chegado. O g1 também tentou contato com a empresa, mas não conseguiu.
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