A Igreja Matriz, templo dos católicos cristãos em Araripina, completará 80 anos de sua edificação este ano. Lembrando que a Paróquia Nossa Senhora Imaculada Conceição já se prepara para comemorar o seu centenário para celebrar o ano jubilar, isto é, um aniversário solene, e que nós aqui neste espaço, nos antecipamos para lembrar que a nossa “importante e majestosa Igreja, com sua arquitetura sóbria de linhas basicamente góticas, sem quebra de harmonia, ornamentadas com vitrais de rara beleza, doadas por ilustres personalidades de todo Brasil”, como bem descreveu o nosso escritor, historiador e poeta, Fernando Muniz Arraes, também entra no ano de festividades por se tornar uma octogenária.
Pensando nisso, separamos alguns registros (pedimos licença àqueles que não mencionamos os créditos) e ilustraremos alguns momentos importantes em que a nossa Igreja Matriz, símbolo e cartão postal da cidade aparece sempre majestosa e suntuosa (redundei de propósito).
31.05.42. Igreja Matriz de Araripina 0 a Igreja Nova. Vê-se ao fundo o Instituto Educativo São Gonçalo e a Casa Paraquial.
Em 1923, chegou a São Gonçalo Pe. Luiz Gonzaga Kehrle, alemão, que edificou a majestosa Igreja-matriz; na década de 40. Araripina exportou muita farinha, produzida na Serra, para todo o País e para o exterior, o que motivou o padre a cumprir a profecia de virtuoso missionário.
Pe. Luiz encontrou um ambiente propício ao desenvolvimento de seu trabalho apostólico. Além da celebração da missa e da administração dos sacramentos, cuidou da orientação cristã da comunidade, atuando através de instituições religiosas por ele criadas: o Apostolado da Oração, a Pia União das Filhas de Maria, a Congregação Mariana, a Congregação da Doutrina Cristã, a Pia União dos Santos Anjos, a Sociedade de São Vicente de Paula, além de incentivar a devoção ao Sagrado Coração de Jesus.
O povo de Araripina sempre foi de muita fé e muito religioso. Antes da chegada do Pe. Luiz, o povo de São Gonçalo tinha uma religiosidade edificante. Mesmo fora dos tempos de desobriga do Vigário de Ouricuri, duas ou três vezes por ano, os habitantes da Vila se reuniam na capela para rezar o terço, diariamente, e, aos sábados, cantar o Ofício de Nossa Senhora, pela manhã. Faziam-se as novenas preparatórias das festas dos santos de maior veneração. A capela era cuidada com muito zelo. Praticava-se uma religião de piedade, com fervor e devoção.
Todas as cerimônias religiosas eram muito concorridas e não faltava a participação e a ajuda dos mais influentes do lugar, nas grandes festas do ano, principalmente, a da padroeira, Nossa Senhora da Conceição. Durante toda a quaresma, celebra-se a Via-Sacra, às quartas e sextas-feiras, à tarde, na preparação da Semana Santa, que começava com a missa de bênçãos dos ramos, no domingo e durante a semana, os atos da liturgia própria do tempo, culminando com a celebração da Missa de Aleluia, na noite do sábado para o domingo. No mês de maio, havia a celebração das noites festivas; em junho era o mês de se homenagear o Coração de Jesus; no Natal, era celebrada a Missa do Galo, à meia-noite; os primeiros sábados eram reservados às práticas de devoções à Virgem Maria, pela Pia União; as primeiras sextas-feiras de cada mês eram dedicadas ao Sagrado Coração de Jesus. Era assim que se praticava a religião em Araripina, uma religiosidade mística e contemplativa, mais do céu do que da terra, mais de santos do que de pecadores.
Após a missa da 1ª. Sexta-feira do mês, o Padre expunha o Santíssimo e o Apostolado da Oração se revezava na adoração até a hora da procissão, no interior da Igreja. O Padre fazia as orações de desagravo ao Coração de Jesus e formava-se o cortejo: a fila das congregações religiosas; atrás, o Padre devidamente paramentado de capa, conduzia o Santíssimo, no ostensório dourado, sob um pálio segurado nas quatro extremidades por piedosos zeladores; dois coroinhas, de batina vermelha, roquete e gola seguravam as abas da capa paramental do Padre; dois outros, conduziam grandes castiçais, com as velas acesas; um navetário e um turibulário, antecediam o padre; repicavam os sinos e tilintavam as campainhas; o cheiro agradável de incenso que ardia nas brasas do turíbulo, tomava conta do ambiente e a fumaça ocupava os espaço do alto, misturando-se com as vozes de todos, no cântico do arrependimento:
Perdão, Senhor, por piedade!
Perdoa a nossa maldade, Senhor!
Antes de morrer, antes de morrer.
Do que vos ofender!
Quem ensinava as “respostas” da missa era o sacristão. Primeiro, Seu Dércio e, depois Zé Cordeiro. Para ficar à direita do padre durante a missa, a fim de mudar o missal, servir ao padre vinho e a água das galhetas e segurar a patena durante a comunhão, o coroinha devia saber todas as “respostas”, desde o “introibo” até o “confiteor”, a mais comprida e mais difícil. Quando o candidato estava apto, era examinado pelo Pe. Luiz. Aquele que não “respondia tudo, não ajudava na missa sozinho. Muitos não passaram de coroinha de segunda categoria, porque não conseguiram decorar o latinório do “quia tu es, Deus, foritudo meã: quare me repulist et quare tristis incedo, dum affligit me inimicos”. Consegui passar no teste. Zé meu irmão, não passou do “ad DEum qui laetificat juventutem meam”.
A IGREJA NOVA.
Dois anos após sua chegada a São Gonçalo, Pe. Luiz lançou a pedra fundamental de uma nova matriz. Infelizmente, seus planos não puderam ser concretizados de logo, em virtude das dificuldades financeiras do povo, que se viu obrigado a gastar muito dinheiro, com o pagamento das despesas de custas da demarcação da antiga Fazenda São Gonçalo, levada a efeito pelas autoridades de Ouricuri, no ano de 1926. Pe. Luiz manteve o propósito e a determinação de uma igreja grande. Amealhou os tostões que pode, na paróquia e até no exterior, na Alemanha, e começou os trabalhos de construção da nova matriz.
A obra estava em fase de conclusão, quando, no início do ano de 1937, ocorre o desabamento da torre. O mestre da obra encarregado da construção, anoiteceu e não amanheceu na Cidade. O revés não desestimulou Pe. Luiz, nem o povo. Os serviços foram entregues a João Teles, que deu a igreja pronta para ser inaugurada no dia 31 de maio de 1942.
É uma importante e majestosa igreja. Arquitetura sóbria de linhas basicamente góticas, sem quebra da harmonia, ornamentada com vitrais de rara beleza, doação de ilustres personalidades de todo o Brasil, cujos nomes neles estão gravados: Cel. J. Pereira Queiroz, Dr. Hermiliano e Maria da Glória Assis, Joaquim Bandeira, Dr. Novais Filho, Casa Bernardino dos Santos, Major Gonzaga – Matriz da Glória (Rio de Janeiro), Dr. Manoel Novaes, Dr. Gastão Lobão, Dr. Eurico de Souza Leão, Dr. Mário, Dr. João Cleofas de Oliveira, Dr. Barbosa Lima Sobrinho, Dr. Oscar Barreto e Dr. Assis Chateaubriand.
No ano de 1947, a 17 de outubro, por ocasião da primeira visita pastoral de D. Avelar Brandão Vilela, bispo de Petrolina, procedeu-se a benção solene dos novos sinos da igreja, em número de quatro. De toda a Cidade, agora, podia-se ouvir a badalada de sino, marcando as horas do relógio da torre da igreja. Zé Cordeiro ficava com um encargo a menos, o de ir bater nove horas da noite, no sino da igrejinha.
De certo tempo para cá, os padres não têm cuidado de fazer a conservação da Igreja. Há pouco tempo houve um desabamento do forro, causando vítima.
Padre Gonçalo Pereira Lima. Foto: Acervo Histórico
Os Padres: Pe. Luiz dirigiu a Paróquia de 1923 a 1951, mês de abril. Durante esse tempo, foi auxiliado pelos sacristãos Décio Rodrigues, até 1944 e José Cordeiro da Rocha, a partir de 24 de novembro de 1944. Zé Cordeiro aposentou-se em 1.º de março de 1984, mas continua ajudando na Paróquia, “sem compromisso”, como ele afirma.
Pe. Gonçalo Pereira Lima substituiu o Pe. Luiz. Araripinense desde tenra idade, Pe. Gonçalo conhecia a Paróquia e os seus paroquianos. Viveu os seus problemas e conhecia de perto, também, o trabalho de Pe. Luiz. Deu continuação à obra pastoral e apostólica do seu antecessor. De 1963 a 1971, Pe. Gonçalo teve como vigário cooperador o Pe. Salvador Dimech, natural da Ilha de Malta e, hoje, laicizado. Foi também, durante certo tempo, coadjuvado por Frei Apolônio Matias, filho da Barra de São Pedro, de onde Pe. Gonçalo foi vigário por alguns anos. Distinguindo com o título de Monsenhor, foi deslocado para a sede da Diocese, em Petrolina, em fins de 1978.
O Pe. Tarcísio Palene assumiu a Paróquia de 15 de janeiro de 1979 a 29 de outubro de 1981, quando foi substituído pelo Pe. Adriano de Vasino Ciocea, com a cooperação de Pe. Pedro Paulo Tormena.
Movimento Social acontecendo na Praça da Igreja Matriz. Foto: Arquivo Blog
As reformas operadas na Igreja Católica, a partir do Concílio Vaticano II, imprimiram uma nova filosofia ao seu trabalho de evangelização, que, a princípio, chocou a comunidade católica, principalmente a do interior, sobretudo a modificação no comportamento do clero. Há muita reserva ao padre moderno, sem batina, de bigode, frequentando clubes e boates, etc.
Isso arrefeceu o fervor religioso do povo, estruturado secularmente em parâmetros místicos. Araripina não ficou imune a esses modernismos.
Fotos da ordenação de Padre Francisco José, em fevereiro de 1982. Arquivos: Acervo Histórico
Padre José Nilton, atual pároco da Paróquia Imaculada Conceição. Foto: Arquivo Oficial
Outras padres como Francisco José, sobrinho de Padre Gonçalo, Padre Milton, Padre Malan, Padre Izidoro e atualmente o Padre José Nilton, fazem parte da História da nossa Igreja Católica e da Paróquia Imaculada Conceição. E temos a honra de aqui contando um pouco da História de Araripina, retratada em toda sua grandiosidade pelo Historiador, Poeta e Escritor Francisco Muniz Arraes conduzir um legado deixado para conhecimento das novas gerações. Esperamos que essas gerações se importem, se interessem e busquem compreender que a nossa árvore genealógica é a condução do que precisamos para entender a história dos nossos avós, pais, filhos, netos e todos os nossos antecedentes.
Que aprendamos a dar valor a nossa história , que ainda é pouco valorizada por uma geração que pensa que o presente é o mais importante.
Mais Fotos da Nossa Igreja Matriz
Fotos: Acervo Histórico
Blog do Paixão