D. Pedro I é conhecido por outro nome no país de origem. Monarca viveu 35 anos, se casou duas vezes e lutou em uma guerra pra defender o reinado da filha.
Por G1
D. Pedro I era filho de Dom João 6º e Carlota Joaquina. A viagem da família real para o Brasil, na verdade, foi forçada: eles fugiram da invasão do exército do francês Napoleão Bonaparte.
O 1º imperador brasileiro viveu 35 anos, teve dois casamentos, várias amantes e 13 filhos.
O imperador tinha fama de mulherengo e é lembrado por contrariar as ordens do pai (Rei de Portugal) no famoso "Dia do Fico", e ainda declarar a independência do país no mesmo ano.
Em Portugal, Dom Pedro I também é conhecido, mas por outro nome.
Entenda na cronologia:
- · 1808: aos 9 anos de idade, D. Pedro I veio para o Brasil junto com a família real. Eles estavam fugindo do exército de Napoleão Bonaparte;
- · Em 1817 se casou com a princesa Leopoldina, com quem teve 7 filhos;
- · Era amante da Marquesa de Santos e teve 5 filhos com ela;
- · Tinha fama de mulherengo;
- · Em 1821, com o retorno de Dom João 6º a Portugal, foi nomeado príncipe regente do Brasil;
- · É o autor da famosa frase: "Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, diga ao povo que fico". O motivo é que Portugal mandou que ele retornasse ao país de origem, mas ele decidiu permanecer por aqui;
- · Em 1822 declarou a independência do país, às margens do Rio Ipiranga, e se tornou o 1º imperador do Brasil;
- · Em 1826 ficou viúvo e se casou três anos depois com D. Amélia de Leuchtenburg, princesa da Baviera. Teve uma filha com ela;
- · Renunciou ao trono brasileiro em 1831 e foi pra Portugal, pra lutar na Guerra Civil Portuguesa contra o próprio irmão, Dom Miguel. Dom Pedro I estava defendendo o direito de sua filha (Maria 2ª) governar;
- · Venceu a guerra, mas ficou doente e morreu em 1834, de tuberculose, aos 35 anos de idade.
Dom Pedro I é lembrado por outro nome em Portugal
Em Portugal, D. Pedro I é conhecido como D. Pedro 4º e também como "Rei Soldado".
Ele foi declarado Rei de Portugal em 1826, depois da morte do pai, mas ocupou o posto por apenas dois meses, de março a maio daquele ano.
Nessa época, D. Pedro I ainda era imperador no Brasil e decidiu abdicar o trono português em favor da filha, Maria da Glória (Maria 2ª). Para assumir o reinado ela foi obrigada a se casar com o tio, Dom Miguel.
Mas tempos depois, D. Miguel se autoproclamou rei absoluto de Portugal, e começou uma guerra com D. Pedro I.
Por isso, em 1831, o imperador do Brasil deixou o trono para o filho, D. Pedro 2º (então com 5 anos de idade) e voltou a Portugal, para lutar na Guerra Civil Portuguesa.
D. Pedro I venceu a guerra. A filha dele, Maria 2ª, reinou até 1853.
Por que o coração de D. Pedro I fica na cidade do Porto?
Quando o monarca morreu, em 1834, o coração dele foi entregue à cidade portuguesa do Porto, onde o D. Pedro I lutou durante a guerra civil.
Ele liderou o "Exército Libertador" e ficou na cidade durante o Cerco do Porto, quando as tropas liberais de D. Pedro I ficaram cercadas pelo exército de D. Miguel. O cerco durou mais de um ano, de julho de 1832 a agosto de 1833.
No período em que esteve no Porto, D. Pedro I assistia à missa na Igreja da Lapa, local em que fica guardado o coração dele até hoje.
No sábado (20) e domingo (21), a relíquia foi exposta pela primeira vez ao público no salão nobre da igreja e recebeu milhares de visitantes.
Os restos mortais de D. Pedro I foram trazidos de Portugal para o Brasil em 1972, nas comemorações dos 150 anos da Independência do país, e atualmente estão guardados no Monumento do Ipiranga, em São Paulo.
As negociações para a vinda do coração de Dom Pedro I ao Brasil
Coração de D. Pedro I está guardado a cinco chaves em mausoléu que fica na cidade do Porto, em Portugal
Reconstituição mostra verdadeiro rosto de D. Pedro 1º com fratura no nariz
Edison Veiga
De Milão para a BBC Brasil
Inédita reconstituição facial mostra homem com nariz deformado em decorrência de suposta fratura não tratada e nunca antes descrita na literatura especializada | Crédito: Cícero Moraes
A despeito de sua imagem de sedutor e galã, o primeiro imperador do Brasil, Dom Pedro 1º, não era tão garboso quanto ilustram as pinturas oficiais daquele tempo, que estampam livros escolares e povoam o imaginário do brasileiro. Uma inédita reconstituição facial feita em 3D a partir de fotografia do crânio do monarca mostra um homem com o nariz com uma deformidade em decorrência de uma suposta fratura ocorrida em vida, que não teria sido tratada de maneira adequada e nunca descrita na literatura especializada.
A reconstrução realista da face do imperador é resultado de um projeto idealizado pelo advogado José Luís Lira, professor da Universidade Estadual Vale do Aracaú, do Ceará. Ele adquiriu os direitos sobre uma fotografia realizada em 2012, quando os restos mortais do imperador foram exumados da cripta localizada no bairro do Ipiranga, zona sul de São Paulo, para um estudo científico realizado pela Universidade de São Paulo (USP). Devidamente autorizado pela Casa Imperial do Brasil - cujos representantes, herdeiros de Dom Pedro 1º, zelam por sua memória -, convidou o designer Cícero Moraes para realizar o trabalho de reconstituição.
As imagens foram encaminhadas ao perito legista Marcos Paulo Salles Machado, chefe do Serviço de Antropologia Forense do Instituto Médico Legal (IML) do Rio de Janeiro e ex-presidente da Associação Brasileira de Antropologia Forense (ABRAF). Sem saber que se tratava do crânio de D. Pedro, ele estimou a idade como sendo de um adulto jovem - o primeiro imperador do Brasil morreu em 1834, pouco antes de completar 36 anos - de origem europeia. E cravou que o mesmo havia sofrido uma fratura no nariz. "O crânio dele tem uma deformação nos ossos nasais que sugere uma lesão, fruto de ação contundente da esquerda para a direita. Ele pode ter batido com o nariz e sofrido uma pequena fratura nessa região", disse o perito, à BBC Brasil.
De acordo com o escritor e pesquisador Paulo Rezzutti, autor da biografia D. Pedro: a História Não Contada - o Homem Revelado por Cartas e Documentos Inéditos, não há nenhum registro de que o monarca tenha quebrado o nariz em vida. Mas quedas de cavalo eram comuns na vida atribulada do imperador. "Ele teve uma queda feia em 1824. E, alguns anos depois, teve um acidente ainda mais grave de carruagem na Rua do Lavradio, no Rio de Janeiro", pontua o biógrafo.
Reconstrução feita em 3D a partir de fotografia do crânio do monarca | Crédito: © MAURICIO DE PAIVA/National Geographic Brasil, cedida por José Luís Lira.
Reconstrução
Lira conta que tomou a iniciativa de conduzir a reconstrução facial do imperador por admirar sua biografia, de "um liberal para sua época, defensor do pensamento constitucional em detrimento ao absolutismo então reinante".
Ele conta que desde 2015 vinha conversando com o tetraneto de Pedro 1º, Bertrand de Orleans e Bragança, de quem obteve a autorização para realizar o procedimento a partir de imagens coletadas durante a exumação do imperador, em 2012. Lira, então, adquiriu uma imagem realizada na época e contou com os trabalhos do designer Cicero Moraes. "É uma alegria poder fazer com que todos os brasileiros conheçam a verdadeira face do homem que proclamou a Independência do Brasil e foi nosso primeiro imperador", afirmou Lira.
O processo de reconstrução foi um pouco diferente do convencional, já que Moraes contava com apenas uma imagem. "Entretanto, a superfície que sustenta o crânio é reflexiva, então é como se tivéssemos duas imagens. Com duas imagens podemos fazer triangulações tridimensionais e obter pontos importantes do crânio", explica ele.
"O que fiz foi utilizar um doador virtual, ou seja, um crânio tridimensional de outro indivíduo, e adaptar a estrutura deste doador ao crânio de Dom Pedro I. Ao final do processo consegui fazer um 'match' entre a foto e o modelo 3D."
O designer avalia que o imperador "era um homem de aparência agradável". Mas ressalta o "nariz assimétrico". "Essa assimetria é bastante atenuada quando a captura da face é feita levemente pela lateral", sugere.
Da esq. para a dir., o designer Cicero Moraes, o tetraneto de d. Pedro I e o advogado José Lira, idealizador do projeto | Crédito: Cícero Moraes
Gente como a gente
De certa forma, a face realista de D. Pedro 1º pode corroborar mais ainda a noção popular que ele era um homem muito mais próximo do povo do que da nobreza.
Segundo seu biógrafo Paulo Rezzutti, é essa característica popular que faz de D. Pedro um personagem tão simpático ao imaginário brasileiro.
"Porque ele foi, como o caipira diz, 'gente como a gente, de bunda atrás e nariz na frente'", afirma. "D. Pedro foi tão escrachado em tudo o que fez que não tem como deixar ao menos de gostar de sua autenticidade. Ele foi criado nas ruas do Rio de Janeiro, com o povo, gostava de música e de farra, como qualquer adolescente até hoje. O problema é que ele foi mulherengo a vida toda e isso deixou marcas profundas na forma como as pessoas passaram a vê-lo."
Pesquisadores costumam concordar que o grande legado de D. Pedro 1º ao Brasil - além, é claro, da própria independência - foi a Constituição de 1824, a primeira do País.
"Nela, são vistos os ideais liberais de D. Pedro 1º. E ela durou até a queda da monarquia, em 1889 - é a Constituição mais longeva que o Brasil já teve", conta Rezzutti.
"A Constituição de 1824 mostra, de forma explícita, o seu interesse pela educação no Brasil, em que determinava que ela deveria ser dada para todos, independente de cor, religião, credo ou posição social. A criação dos cursos Jurídicos no Brasil, em 1827, foi obra de sua gestão como imperador do Brasil."
"O maior legado de D. Pedro 1º para o Brasil foi a Constituição de 1824", concorda a historiadora Isabel Lustosa, autora de D. Pedro 1º - Um Herói Sem Nenhum Caráter.
"Apesar de ter sido uma constituição outorgada, quer dizer, dada pelo imperador à nação, depois dele ter dissolvido a Assembleia Constituinte em novembro de 1823, adotar uma forma de governo constitucionalista em um ambiente internacional dominado pela Santa Aliança foi uma atitude revolucionária. Foi uma constitucional liberal e avançada para o tempo, incluindo direitos e garantias individuais."
Cícero Moraes também foi responsável por reconstituir rosto de São Valentim | Crédito: Cícero Moraes/ Divulgação
Orleans e Bragança, o tetraneto do imperador, é de opinião semelhante. "D. Pedro 1º é o responsável pela nossa unidade territorial - e também política, psicológica e social. Além da Independência, também nos legou a Constituição de 1824, que não era casuística como a atual Constituição Brasileira", diz ele.
Enquanto fazia a imagem de D. Pedro, o designer Moraes pensava na proximidade que um personagem de tal dimensão tem na vida do brasileiro. "É como um amigo, um parente, alguém que conviveu com a gente em parte considerável da vida", comenta, lembrando que imagens do imperador são mostradas na escola e em produções da cultura pop.
Recentemente, Moraes também reconstruiu em 3D o que se supõe ser a verdadeira face de São Valentim, o santo padroeiro dos namorados.
Blog do Paixão