PUBLICIDADE

Type Here to Get Search Results !

cabeçalho blog 2025

Túnel do Tempo: Novas eleições, velhos sobrenomes: disputa em Pernambuco tem força do DNA e famílias tradicionais na política

Os cinco candidatos majoritários mais bem colocados em pesquisa têm parentesco com políticos famosos. Entre sobrenomes históricos estão Arraes, Lyra, Coelho, Ferreira, Oliveira e Krause

Por Ricardo Novelino, g1 PE


Palácio do Campo das Princesas, no Centro do Recife, é a sede do governo de Pernambuco — Foto: Pedro Alves/g1

As eleições de 2022 em Pernambuco carregam um traço “familiar” nas disputas para o governo e o Senado: a presença de sobrenomes históricos, repassados de geração em geração. São filhos, netos e parentes de ex-gestores ou ex-parlamentares, que mostram a força do DNA na política local.

Quem olha a lista de candidatos ao governo do estado e ao Senado, este ano, focando nos sobrenomes, pode até pensar que pegou o túnel do tempo. Estão lá Arraes, Lyra, Ferreira, Coelho, Krause e Oliveira.

Em cada uma das chapas, a hereditariedade está presente. O tema chamou a atenção no cenário nacional e gerou debate em “O Assunto”, podcast publicado g1, num no bate papo entre a apresentadora Renata Lo Prete e o comentarista político da Globo News, o pernambucano Gerson Camarotti.

Líder na primeira pesquisa do Ipec, divulgada na segunda (15), Marília Arraes (Solidariedade) leva para o pleito o nome do avô, o ex-governador Miguel Arraes de Alencar (1916-2005).

Ele é considerado por historiadores um dos mais importantes políticos da história do estado, que governou por três vezes. Ex-PSB e ex-PT, Marília aparece isolada na dianteira, com 33% no levantamento.


Marília Arraes, candidata do Solidariedade ao governo de Pernambuco — Foto: Reprodução/TV Globo

Além de carregar o nome Arraes, Marília está em um novo embate familiar. Desta vez, no entanto, não será de forma direta, como em 2022, para a prefeitura do Recife, quando disputou pelo PT e perdeu para o primo em segundo grau João Campos (PSB).

João é filho do ex-governador Eduardo Campos, líder do mesmo partido, que morreu em 2014 às vésperas da eleição presidencial, em um acidente aéreo. O ex-gestor sempre teve como uma das marcas ser neto de Arraes, assim como Marília.

Em 2022, Marília, que é deputada federal, confronta o PSB e todo o legado de administrações do partido, que comanda Pernambuco desde 2007, justamente na primeira vitória de Eduardo Campos.

Na chapa, ao lado de Marília, foi escolhido o médico e deputado federal Sebastião Oliveira (Avante). Com base eleitoral em Serra Talhada, no Sertão pernambucano, ele é sobrinho do ex-deputado federal Inocêncio Oliveira, que esteve na Câmara Federal por dez mandatos.

Assim como Marília, Sebastião Oliveira tem ligação com a administração do PSB. Em 2014, no primeiro mandato do atual governado Paulo Câmara, foi indicado para comandar a Secretaria Estadual de Transportes.


Raquel Lyra (PSDB) foi confirmada como candidata ao governo de Pernambuco — Foto: Priscilla Aguiar/g1

Em segundo lugar na pesquisa do Ipec, com 11%, Raquel Lyra (PSDB) carrega o DNA de uma família de políticos com origem em Caruaru, no Agreste, cidade que foi governada até o início deste ano pela candidata.

O pai dela, João Lyra Neto, foi prefeito da cidade por dois mandatos e ocupou a vive-governadoria na gestão de Eduardo Campos.

Quando o ex-governador se licenciou para disputar a eleição presidencial, Lyra assumiu o governo até o fim de 2014. Outro político tradicional da família é o ex-ministro da Justiça do governo Sarney Fernando Lyra, que também foi deputado federal.

A vice de Raquel também carrega sobrenome famoso na política. Deputada estadual, Priscila Krause (Cidadania) é filha do ex-governador e ex-ministro Gustavo Krause.


Miguel Coelho é candidato ao governo — Foto: Reprodução / TV Grande Rio

A chapa fica completa com um representante do clã dos Coelho, de Petrolina, no Sertão. Ex-deputado federal, Guilherme Coelho (PSDB) é candidato ao Senado. Ele vem de um grupo político repleto de ex-prefeitos e ex-parlamentares.

Guilherme é primo de Miguel Coelho (União Brasil), também candidato ao governo em 2022. Na pesquisa do Ipec ele apareceu com 9%, no quarto lugar.

Ex-prefeito de Petrolina por duas vezes, Miguel, por sua vez, é filho do senador Fernando Bezerra Coelho, ex-líder do governo de Bolsonaro no Congresso Nacional, e que se elegeu na chapa de Paulo Câmara, em 2014.

A família de Miguel tem, ainda, um deputado federal, Fernando Filho, e um deputado estadual, Antônio Coelho. A candidata a vice na coligação comandada pelo União Brasil é Alessandra Vieira, mulher do ex-prefeito de Santa Cruz no Capibaribe, Edson Vieira.


Anderson ferreira é candidato ao governo — Foto: Reprodução/TV Globo

Outra chapa composta por representantes de clãs políticos é liderada por Anderson Ferreira (PL), ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife. Ele ficou com 10% na pesquisa do Ipec, alcançando o terceiro lugar na disputa para o governo.

Anderson é filho do deputado estadual Manoel Ferreira, um dos representantes da Assembleia de Deus na política local. Tem um irmão que é deputado federal, André Ferreira, e um primo, Fred Ferreira, que é vereador do Recife.

Nessa chapa, a candidata a vice-governadora é Isabel Urquiza (PL). Ela é filha da ex-prefeita de Olinda Jacilda Urquiza e do ex-deputado estadual Hélio Urquiza.

Para o Senado Federal, o candidato de Anderson é o ex-ministro do Turismo no governo Bolsonaro Gilson Machado Neto. Ele é sobrinho do ex-deputado Gilson Machado Filho, que participou da Assembleia Nacional Constituinte, nos anos 1980.

Além de Marília, Anderson, Raquel e Miguel, e Danilo, Pernambuco tem outros seis candidatos ao governo, em 2022. São eles: Cláudia Ribeiro (PSTU), Jadilson Bombeiro (PMB) , João Arnaldo (PSOL), Jones Manoel (PCB), Wellington Carneiro (PTB) e Ubiracy Olímpio (PCO).

Para o Senado, são mais sete candidatos, além de Gilson e Guilherme. São eles: André de Paula (PSD), Esteves Jacinto (PRTB), Carlos Andrade Lima (União Brasil), Dayse Medeiros (PSTU), Eugênia Lima (PSOL), Roberta Rita (PCO) e Teresa Leitão (PT).

Análise

Autor da tese “A primazia dos clãs: a família na política nordestina”, o professor Vanuccio Medeiros Pimentel disse, em entrevista ao g1, nesta quarta (17), que o repasse de poder de geração em geração não é exclusivo de Pernambuco.

Segundo ele, a manutenção dos clãs na política é um fenômeno nacional, embora seja mais acentuado no Nordeste. “Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Rio Grande do Norte têm um histórico muito forte da presença das famílias na política”, comentou.

O professor Vanuccio volta até o tempo da colonização do Brasil e das Capitanias Hereditárias - quando terras foram divididas pode decisão do Império - para mostrar a origem do fenômeno.

“Não havia instituições de solidariedade social na época. As pessoas se organizavam no entorno dos senhores de engenho”, observou.

Os núcleos de poder ganharam novos contornos no Império Brasileiro, a partir da Constituição de 1824. Nessa época, para votar e ser votado era preciso ter dinheiro e cumprir outras exigências.

“Novas famílias começaram a entrar na disputa pelo poder a partir da Revolução de 1930”, comentou o professor.

Hoje, segundo Vanuccio, no Brasil há clãs políticos com origem na colônia, como os Andrada, em Minas Gerais.

Em Pernambuco, afirma o professor, a cada eleição fica mais visível que “não é fácil vender se não tiver um sobrenome conhecido”.

“Para ganhar espaço político em Pernambuco tem que ter um sobrenome. É mais fácil com um legado familiar”, declarou.

Vanuccio lembra que até Miguel Arraes, ao sair do Ceará para entrar na política pernambucana, teve uma 'força" da política tradicional familiar.

"Ele se casou com uma irmã da mulher do ex-governado Cid Sampaio, que tinha terras e era de uma família tradicional do estado. Arraes e Cid foram concunhados", afirmou.

Quando a política é um assunto de família

Por Branca Alves13/09/15


Novembro de 1987 - Eduardo Campos (esq.) deixa a casa do deputado Ulysses Guimarães em São Paulo ao lado de seu avô, o então governador do Pernambuco, Miguel Arraes (centro) (Foto: Newton Aguiar/Estadão Conteúdo/Arquivo)


Os Campos/Arraes: O Clã Político que manobra o poder em Pernambuco. Foto: Reprodução

Os relacionamentos familiares nem sempre ficam restritos dentro de casa. Muitas vezes, ganham as ruas, podem ser vistos no ambiente de trabalho e, em diversos casos, nos palanques (ou ambientes) políticos. E, no poder, há famílias e famílias. Umas adotam a estratégia de seguirem unidas; outras, por disputa, acabam se separando. Há, ainda, aquelas que se separam em partidos diferentes, as mantém um projeto comum. Em Pernambuco, assim como em alguns estados do Nordeste, há famílias tradicionais e outras que começam a dar seus passos na política do Estado.

Para o cientista político e professor da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Leon Victor de Querioz, a questão não é famílias o poder, mas quais interesses essas famílias representam. Se observarmos os Estados Unidos, a taxa de renovação do Congresso é baixíssima, ou seja, os mesmos parlamentares estão no poder há anos, como os Kennedy, Bush, Clinton. A questão não é a permanência do mesmo grupo/família no poder, mas o que esse grupo ou família construiu enquanto esteve no poder”, avaliou.

Queiroz citou o exemplo da família Sarney, no Maranhão: “É um dos piores estados da Federação, com péssimos índices em quase tudo. Em Pernambuco, Petrolina vem há tempos se desenvolvendo fortemente com a exportação de hortifruti. Diante dos Sarneys, os Coelhos são um exemplo virtuoso de desenvolvimento. Não significa que Petrolina não passe por problemas sociais, mas está longe de ser algo próximo ao Maranhão”.

Em Pernambuco, há famílias mais tradicionais na política – caso dos Lyra, dos Coelho, dos Campos, dos Arraes, dos Queiroz, dos Mendonça, dos Costa, dentre outros. Alguns já governaram o Estado, comandaram prefeituras e ocuparam e ocupam cargos no Legislativo. Outras, a exemplo dos Ferreira, começam a ganhar mais destaque, galgando seus espaços no plano local. E as ramificações dos clãs podem acontecer de pais para filhos, de irmão para irmão, marido e mulher, cunhados, primos e tios, entre as diversas possibilidades.

Fenômeno regional

Apesar de encontradas em algumas partes do País, esse fenômeno das famílias na política é algo mais regional, muito característico das regiões Norte e Nordeste do Brasil. A explicação é do doutor em Ciência Política e professor de Ciência Política do curso de Administração da Faculdade Asces, em Caruaru, Vanuccio Pimentel, cuja tese de doutorado – A primazia dos clãs: a família na política nordestina – foi apresentada em agosto de 2014.

“Obviamente que existe esse mesmo tipo de organização familiar, que é uma organização informal, em alguns estados do Sul e do Sudeste. A gente vai encontrar em Santa Catarina, Minas Gerais, por exemplo. Mas a grande concentração deles está no Nordeste, com especial ênfase para alguns estados: Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Sergipe. Pernambuco é um Estado intermediário, vamos dizer assim, porque ele possui um pouco de al ternância de poder maior e que essa alternância de poder necessariamente não está vinculada a algumas famílias. Ela está vinculada a alguns grupos políticos mesmo, ideológicos até, possuem diferenças significativas, que agora com a volta de Eduardo Campos é que isso, vamos dizer, s apossou do Estado de Pernambuco, no Governo do Estado”, avaliou.

Para ele, quan do se olha para os município de Pernambuco, se vê um série desses clãs, citando como exemplo, os Gouveia d Amaraji, Escada e Primavera Para estimular a renovação dos quadros que não seja po meio dessas famílias tradicionais ou por esses pequeno clãs, Pimentel afirma que chave de tudo está na reforma política, com o fim de coligação partidária, fim de financiamento privado e empresarial e candidatura avulsa.

Postar um comentário

0 Comentários
* Por favor, não faça spam aqui. Todos os comentários são revisados ​​pelo Admin.

Publicidade Topo

Publicidade abaixo do anúncio