- Zaria Gorvett
- BBC Future
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Em um momento, o
vale era um pântano tranquilo. Gramíneas e palmeiras lançavam sombras difusas
na água abaixo. Os peixes espreitavam cautelosamente nas margens dos
manguezais. Os orangotangos procuravam frutas com os dedos. Daí um gigante
adormecido acordou de seu sono.
I |
sso aconteceu por
volta de 72 mil a.C., na ilha de Sumatra, na Indonésia. O supervulcão Toba
entrou em erupção, no que se acredita ter sido o maior evento desse tipo nos
últimos 100 mil anos. Uma série de explosões estrondosas explodiu 9,5
quatrilhões de quilos de cinzas, que se espalharam em nuvens que escureceram o
céu e se arrastaram por cerca de 47 km na atmosfera.
Na sequência, uma
vasta área em toda a Ásia foi coberta por uma camada de poeira maciça de 3 a 10
centímetros de espessura. Ela sufocou as fontes de água e grudou na vegetação
como cimento —depósitos da erupção foram encontrados tão longe quanto a África
Oriental, a 7,3 mil km de distância.
Mas, crucialmente,
alguns cientistas acreditam que o evento extremo mergulhou o mundo em um
inverno vulcânico que durou décadas — e quase extinguiu nossa espécie.
Em 1993, uma
equipe de pesquisadores americanos estudou o genoma humano em busca de pistas
sobre o passado profundo e descobriu uma assinatura reveladora de um grande
"gargalo populacional" — um momento em que a humanidade encolheu tão
drasticamente que todas as gerações subsequentes que surgiram fora da África se
tornaram significativamente mais próximas.
Estudos
posteriores revelaram que nesta era precária, que pode ter ocorrido entre 50
mil e 100 mil anos atrás, a população pode ter se reduzido a apenas 10 mil
pessoas — o equivalente aos habitantes do sonolento assentamento de Elkhorn em
Wisconsin, nos Estados Unidos, ou o número de indivíduos que participaram de um
único casamento coletivo na Malásia, em 2020.
A parte menos
afetada do mundo pelo vulcão foi a África, onde a diversidade genética
permanece alta até hoje — neste único continente, existem diferenças genéticas
maiores entre certos grupos locais do que entre africanos e europeus.
Alguns acham que
esse momento não é uma coincidência — eles acreditam que foi a erupção
vulcânica que fez isso. A ideia é muito contestada, mas não há dúvida de que
grande parte da humanidade descende de um número relativamente modesto de
ancestrais super-resistentes.
Um avanço rápido
de 74 mil anos na história e nossa espécie, outrora um obscuro primata sem
pelos corporais, sofreu uma explosão populacional, colonizando quase todos os
habitats do planeta e exercendo uma influência até nos cantos mais remotos — em
2018, os cientistas encontraram um saco plástico a 10,8 mil metros abaixo da
superfície do oceano no fundo da Fossa das Marianas, enquanto outra equipe
descobriu recentemente "produtos químicos eternos" feitos pelo homem
no Monte Everest.
Nenhuma parte do mundo é intocada — todos os lagos, florestas e cânions já tiveram algum tipo de contato com a atividade humana.
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Legenda da foto,
As maiores faixas
de floresta remanescentes do mundo estão desaparecendo rapidamente
Ao mesmo tempo,
nossos números e engenhosidade permitiram à humanidade realizar feitos que
nenhum outro animal poderia sonhar — dividir átomos, enviar equipamentos
complexos a quase 1,6 milhão de km para observar planetas se formando em
galáxias distantes e contribuir para uma impressionante diversidade de arte e
cultura.
Todos os dias,
coletivamente tiramos 4,1 bilhões de fotografias e trocamos entre 80 e 127
trilhões de palavras.
Na data
estranhamente específica de 15 de novembro de 2022, as Nações Unidas preveem
que haverá oito bilhões de humanos vivos ao mesmo tempo — até 800 mil vezes
mais do que os sobreviventes da catástrofe daquela erupção vulcânica.
Hoje, nossa
população é tão enorme, com tão pouca diversidade genética fora da África, que
um pesquisador observou recentemente que não é tão surpreendente que algumas
pessoas pareçam semelhantes a perfeitos estranhos — há um pool genético
limitado que está sendo constantemente reciclado, e acontecem cerca de 370 mil
novas oportunidades (na forma de bebês nascidos) para que essas coincidências
"apareçam" todos os dias.
Mas com a
população em expansão, veio um grande cisma. Alguns veem os números em alta
como uma história de sucesso sem precedentes — na verdade, há uma escola
emergente de pensamento de que defende precisarmos de mais pessoas.
Em 2018, o
bilionário da tecnologia Jeff Bezos previu um futuro em que nossa população
atingirá um novo marco decimal, na forma de 1 trilhão de humanos espalhados
pelo Sistema Solar — e anunciou que está planejando maneiras de tornar isso
realidade.
Outros, na
contramão — incluindo o apresentador e historiador natural Sir David
Attenborough — rotularam as massas humanas de "praga na Terra".
Segundo essa
visão, quase todos os problemas ambientais que enfrentamos atualmente, desde
mudanças climáticas até perda de biodiversidade, estresse hídrico e conflitos
por terra, podem ser ligados com a nossa reprodução desenfreada nos últimos
séculos.
Em 1994 — quando a
população global era de apenas 5,5 bilhões — uma equipe de pesquisadores da
Universidade Stanford, nos EUA, calculou que o tamanho ideal de nossa espécie
variaria entre 1,5 e 2 bilhões de pessoas.
Será que o mundo
está superpovoado atualmente? E o que o futuro reserva para o domínio global da
humanidade? O debate sobre o número ideal de pessoas no planeta está desde
sempre fragmentado e emocionalmente carregado — mas o tempo está se esgotando
para decidir qual é a melhor direção.
Uma
preocupação antiga
No final da década
de 1980, na região central do Iraque, uma equipe de arqueólogos da Universidade
de Bagdá estava escavando uma biblioteca em ruínas na antiga cidade de Sippar.
Em meio à areia, poeira e paredes antigas, eles encontraram 400 tábuas de argila pequenas — registros que estavam esquecidos num túmulo acadêmico por mais de 3.500 anos, ainda nas mesmas prateleiras onde haviam sido organizados por mãos babilônicas.
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Legenda da foto,
As migrações de
muitos animais são agora impossíveis sem que eles precisem vagar por
assentamentos humanos ou construções
Mas quatro dessas
tábuas em particular eram especiais. Elas continham as seções que faltavam de
uma história encontrada em fragmentos em tabuletas separadas espalhadas pela
Mesopotâmia, o que intriga os historiadores até hoje.
"Ainda não
haviam se passado 1.200 anos [desde a criação da humanidade], quando a terra se
estendia e as pessoas se multiplicavam...", diz o Atra-hasis —
o poema épico estampado no barro por um escriba anônimo por volta do século 17
a.C.
É a versão
mesopotâmica da onipresente história do Grande Dilúvio, encontrada em inúmeras
formas em várias culturas ao redor do mundo, na qual a civilização é destruída
por uma divindade — e pode conter uma das primeiras menções de superpopulação
no registro histórico.
No conto antigo,
os deuses se aborrecem com todo o "barulho" criado pelas hordas
humanas, bem como com as "terras que rugem feito um touro" devido ao
estresse a que foram submetidos pelas demandas de nossa espécie.
O deus da
atmosfera, Enlil, decide desencadear alguns perigos para reduzir os números
novamente — ele planeja pragas, fomes e secas em intervalos regulares a cada
1.200 anos. Felizmente, outro deus salva o dia. Mas então Enlil planeja uma
grande inundação... E o conto clássico da construção de barcos e arcas segue em
frente.
Na época em que
o Atra-hasis foi escrito, estima-se que a população global
tinha entre 27 e 50 milhões de pessoas, o equivalente ao número que atualmente
habita países como Camarões ou Coréia do Sul — ou de 0,3% a 0,6% do total de
indivíduos vivos hoje.
Durante o milênio
que se seguiu, os estudiosos parecem ter ficado relativamente quietos sobre
qualquer preocupação populacional. Até que, na Grécia Antiga, eles começaram a
refletir sobre o assunto novamente.
O filósofo Platão
tinha algumas opiniões fortes sobre o tema.
Após um período de
rápido crescimento, em que a população de Atenas duplicou, ele lamentou:
"O que resta agora é como o esqueleto de um corpo devastado pela doença; o
solo rico foi levado e resta apenas a estrutura nua do distrito."
Ele não apenas
acreditava no controle estrito da população, administrado pelo Estado, como
também acabou concluindo que a cidade ideal não deveria ter mais de 5.040
cidadãos. O filósofo ainda achava que a instalação de colônias era uma boa
maneira de "descarregar" qualquer excesso.
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Legenda da foto,
Pode ser difícil
entender a escala impressionante da população humana
Na obra-prima de
Platão, A República, escrita por volta de 375 a.C., ele descreve
duas cidades-estado imaginárias — regiões administrativas governadas quase como
pequenos países. Uma é saudável e a outra é "luxuosa" e
"febril".
Nesta última, a
população gasta e devora excessivamente, entregando-se ao consumismo até
"ultrapassar o limite de suas necessidades".
Infelizmente, esta
cidade-estado moralmente decrépita eventualmente recorre à tomada de terras
vizinhas, o que naturalmente se transforma numa guerra — o local simplesmente
não consegue sustentar a grande e gananciosa população sem obter recursos
extras.
Platão se deparou
com um debate que ainda hoje é intenso: a população humana é o problema? Ou a
questão está nos recursos que ela consome?
Demorou mais de
cinco séculos depois de Platão para que a escala global de nossa explosão
populacional se tornasse clara.
O autor
Tertuliano, que viveu na cidade romana de Cártago, antecipou-se às observações
modernas sobre nossas multidões destrutivas.
Em 200 d.C.,
quando a população humana total atingiu entre 190 e 256 milhões — algo próximo
do número de indivíduos que atualmente habita a Nigéria ou a Indonésia — ele
acreditava que o mundo inteiro já havia sido explorado e as pessoas se tornaram
um fardo para o planeta.
"A natureza
não pode mais nos sustentar", escreveu.
Nos próximos 1.500
anos, a população humana global mais que triplicou. Eventualmente, essa
preocupação isolada de alguns se transformou em pânico generalizado.
É justamente aí
que entra Thomas Malthus, um clérigo inglês com tendência ao pessimismo. Em seu
famoso trabalho, Um Ensaio sobre o Princípio da População,
publicado em 1798, ele começou com duas observações importantes: todas as
pessoas precisam comer e gostam de fazer sexo.
Quando levados à
sua conclusão lógica, explicou, as demandas da humanidade levariam à superação
dos suprimentos do planeta.
"A população,
quando não controlada, aumenta em uma proporção geométrica. A subsistência
aumenta apenas em uma proporção aritmética. Um leve conhecimento dos números
mostrará a imensidão da primeira potência em comparação com a segunda",
escreveu Malthus.
Em outras
palavras, um grande número de pessoas leva a um número ainda maior de
descendentes, em uma espécie de ciclo de feedback positivo —
mas nossa capacidade de produzir alimentos não necessariamente se acelera da
mesma maneira.
Essas palavras
simples tiveram um efeito imediato, acendendo um medo apaixonado em alguns e
raiva em outros, que continuariam a reverberar esses conceitos na sociedade por
décadas.
O primeiro grupo
achava que algo precisava ser feito para impedir que nossos números saíssem do
controle. O segundo, por sua vez, defendia que limitar o número de pessoas era
absurdo ou antiético, e todos os esforços deveriam ser feitos para aumentar a
oferta de alimentos.
O campo que adotou
a ideia de menos pessoas foi particularmente crítico às Leis dos Pobres feitas
na Inglaterra, introduzidas centenas de anos antes, que envolviam pagamentos a
pessoas que viviam na pobreza para ajudá-las a cuidar dos filhos. Especulou-se
que estes aportes financeiros encorajavam as pessoas a ter famílias maiores.
Na época em que o ensaio de Malthus foi publicado, havia 800 milhões de pessoas no planeta.
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Legenda da foto,
Há uma demanda
global sem precedentes pelos produtos da mineração, mas essa indústria pode ter
consequências devastadoras para o meio ambiente
Não foi até 1968,
no entanto, que as preocupações modernas sobre a superpopulação global ganharam
terreno, quando um professor da Universidade Stanford, Paul Ehrlich, e sua
esposa, Anne Ehrlich, foram coautores do livro The Population Bomb ("A
Bomba Populacional", em tradução livre).
A cidade indiana de
Delhi foi a inspiração. O casal estava voltando para o hotel em um táxi e
passou por uma favela, onde ficou assustado com a quantidade de atividade
humana nas ruas. Eles escreveram sobre a experiência de uma forma que foi
fortemente criticada, especialmente porque a população de Londres à época era
mais que o dobro da de Delhi.
O casal escreveu o
livro por causa de preocupações com a fome em massa que eles acreditavam que
estava chegando, principalmente nos países em desenvolvimento, mas também em
lugares como os Estados Unidos, onde muitos começavam a perceber o impacto no
meio ambiente.
O trabalho foi
amplamente creditado — ou acusado, a depender do ponto de vista — de
desencadear muitas das ansiedades atuais sobre a superpopulação.
É claro que as
discussões sobre quantas pessoas deveriam existir nunca foram puramente
acadêmicas. Às vezes, elas foram sequestradas para justificar perseguição,
limpeza étnica e genocídio.
Em cada caso, os
perpetradores pretendiam diminuir as populações de grupos específicos de
pessoas, como aqueles de uma determinada classe social, religião ou etnia — em
vez da humanidade como um todo. Mas, mesmo assim, às vezes esses episódios são
vistos como exemplos dos perigos que o próprio conceito de superpopulação pode
representar.
Já em 1834, apenas
três décadas e meia após a publicação do ensaio de Malthus, as Leis dos Pobres
foram descartadas e substituídas por outras regras mais rígidas.
Isso foi em parte
devido às preocupações malthusianas de que essa classe social (que ele chamava
de "camponeses") estava se reproduzindo demais e tinha o resultado de
levar crianças órfãs a asilos sombrios e insalubres, como o retratado no
romance de Charles Dickens, Oliver Twist.
Ao longo dos
séculos seguintes, a eugenia foi continuamente disfarçada de controle
populacional — ou recebeu apoio do movimento — como durante as esterilizações
forçadas de pessoas de grupos étnicos minoritários na América dos anos 1970.
O conceito também foi usado para restringir as liberdades individuais. Em 1980, a China introduziu a controversa política do filho único, que foi amplamente vista como uma violação invasiva dos direitos sexuais e reprodutivos da população.
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A primeira
palmeira de óleo foi plantada na Malásia em 1870. Hoje as plantas cobrem cerca
de 5,9 milhões de hectares de terra no país
Um
futuro controverso
Como resultado de
toda essa história , a engenharia populacional é uma área profundamente
dividida.
Hoje, quaisquer
políticas que envolvam cotas ou metas para aumentar ou diminuir a população
humana são quase universalmente condenadas, exceto por um punhado de
organizações extremistas.
O risco desses
incentivos levarem à coerção ou outras atrocidades é visto como muito alto. Mas
há pouco acordo além disso.
As
baixas taxas de natalidade
Em uma extremidade
do espectro estão aqueles que veem as taxas de fertilidade mais baixas em
algumas áreas como uma crise. Um demógrafo está tão preocupado com a queda na
taxa de natalidade no Reino Unido que sugeriu taxar as famílias sem filhos.
Em 2019, havia
1,65 crianças nascidas no país por mulher em média. Isso está abaixo do nível
de reposição — o número de nascimentos necessários para manter o mesmo tamanho
populacional — de 2,07, embora a população ainda esteja crescendo em geral
devido aos imigrantes que chegam de outros países.
A visão oposta é
que desacelerar e eventualmente interromper o crescimento populacional global
não é apenas eminentemente gerenciável e desejável, mas pode ser alcançado por
meios inteiramente voluntários — métodos como simplesmente fornecer
contracepção para aqueles que gostariam e educar as mulheres.
Dessa forma, os
defensores dessa posição acreditam que poderíamos não apenas beneficiar o
planeta, mas melhorar a qualidade de vida dos cidadãos mais pobres do mundo.
Uma organização
que acredita nessa abordagem é a instituição de caridade Population
Matters, com sede no Reino Unido, que faz campanha para alcançar uma
população global sustentável.
Eles defendem o
enfrentamento das pressões que o consumismo está colocando no planeta, ao mesmo
tempo em que destacam o papel que o tamanho da população tem que desempenhar
nisso.
"Deploramos
qualquer forma de controle populacional ou coerção, restrição de escolha",
diz o diretor, Robin Maynard. "Trata-se então de permitir o acesso, garantir
a escolha e cumprir os direitos. E essa é realmente a maneira mais eficaz de as
pessoas tomarem decisões que são boas para elas e para o planeta."
Por outro lado,
alguns apostam numa mudança do foco: a ideia passa de ajustar o número de
pessoas no mundo para refletir sobre nossas atividades.
Os defensores
argumentam que a quantidade de recursos que cada pessoa usa tem mais impacto em
nossa influência coletiva e apontam que o consumo é significativamente maior em
países mais ricos e com menores taxas de natalidade.
Reduzir nossas
demandas individuais no planeta poderia diminuir a "pegada" da
humanidade sem sufocar o crescimento nos países mais pobres.
De fato, o interesse em reduzir o crescimento populacional em partes menos desenvolvidas do mundo foi acusado de ter conotações racistas, quando a Europa e a América do Norte são mais densamente povoadas em geral.
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Legenda da foto,
Após a última
Idade do Gelo, a Grã-Bretanha estava envolta em densa floresta — a floresta
selvagem. Mas depois de milhares de anos de colonização, hoje elas cobrem
apenas 13% do território
Finalmente, há a
"solução" fatalista para a perene questão da população: simplesmente
não faça nada. Essa visão se baseia na dinâmica altamente instável de nossa
população global — ela deve crescer significativamente, mas depois encolherá.
Cada um pode conseguir o que quer no final, embora isso não seja garantido para
sempre.
As estimativas
variam, mas espera-se que cheguemos o "pico populacional" por volta
de 2070 ou 2080, quando haverá entre 9,4 bilhões e 10,4 bilhões de pessoas no
planeta. Pode ser um processo lento — se chegarmos a 10,4 bilhões, a
Organização das Nações Unidas (ONU) espera que a população permaneça nesse
nível por duas décadas — mas, eventualmente, depois disso, a previsão é de que
esse número comece a diminuir.
No livro Empty
Planet: The Shock of Global Population Decline ("Planeta Vazio: o
Choque do Declínio da População Global, em tradução livre), os autores
apresentam uma visão de futuro muito diferente daquela a que estamos
acostumados, em que o mundo lida com os novos desafios e oportunidades que o
despovoamento pode apresentar.
Em meio a toda a
controvérsia e incerteza, pode ser difícil saber o que pensar. Mas como o
número de pessoas no planeta pode afetar alguns aspectos-chave de nossas vidas
no futuro — o meio ambiente, a economia e nosso bem-estar coletivo?
Um
desafio ambiental
Uma câmera percorre
a floresta de Madagascar. O local é cheio de árvores e traz o mistério
emocionante de um ambiente desconhecido.
Então, de repente,
lá está: um borrão branco salta pela lente e desaparece. O animal é um sifaka —
um lêmure tímido e indescritível com membros longos, pele clara e um rosto
preto, como um ursinho de pelúcia esguio.
O breve encontro
faz parte de um documentário da BBC, Oceano Índico com Simon Reeve,
e o apresentador logo revela uma advertência surpreendente sobre o achado da
equipe.
Afinal, esta não é
a natureza selvagem — eles estão na reserva Berenty no sul de Madagascar, um
pequeno pedaço de floresta cercado de plantações comerciais, um dos últimos
lugares que essa criatura rara pode chamar de lar.
No centro de
visitantes, Reeve diz que foi informado de forma confiável que quase todos os
cinegrafistas da vida selvagem que filmam na área instalam os equipamentos num
local exato, onde os lêmures são mais abundantes.
Os equipamentos ficam de costas para a floresta, para não capturar nenhum edifício atrás. Embora os espectadores possam pensar que estão vislumbrando o desconhecido selvagem, dá para argumentar que o que eles realmente estão recebendo é uma ilusão cuidadosamente selecionada de uma natureza pretensamente indomável.
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À medida que a
população cresceu, a demanda por água aumentou na mesma proporção — e agora
lagos anteriormente vastos estão começando a desaparecer
O documentário
destaca o "mito da natureza intocada" — um mal-entendido que pode
ocorrer quando as pessoas são apresentadas a imagens majestosas do mundo
natural que excluem os seres humanos inteiramente, ou minimizam drasticamente a
nossa onipresença, sugerindo que ainda existem vastas extensões de terra
intocadas por aí.
As imagens de
satélite são uma ferramenta particularmente poderosa para quebrar essa noção:
do ar, muitos países revelam-se fortemente adaptados para o uso humano.
Até onde a vista
alcança, a terra é uma colcha de retalhos de campos agrícolas, entremeados de
estradas e fileiras e mais fileiras de prédios. Algumas paisagens foram tão
transformadas em apenas algumas décadas, por obras de engenharia ou
desmatamento, que quase não são reconhecíveis.
Essas mudanças vêm
com algumas estatísticas surpreendentes. De acordo com a Organização das Nações
Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), 38% da superfície terrestre do
planeta é usada para cultivar alimentos e outros produtos (como combustível)
para humanos ou o gado — são cinco bilhões de hectares no total.
E, embora nossos
ancestrais vivessem entre gigantes, caçando mamutes e pássaros elefantes de 450
kg, hoje somos a espécie de vertebrados dominante em terra — um grupo que
inclui tudo, de lagartixas a lêmures. Em peso, os humanos representam 32% dos
vertebrados terrestres, enquanto os animais selvagens são apenas 1% do total. A
pecuária responde pelo resto.
A organização de
preservação da natureza selvagem WWF descobriu que as populações de animais
selvagens diminuíram em dois terços entre 1970 e 2020 — nesse período, a
população global mais que dobrou.
De fato, à medida
que nosso domínio aumenta, muitas mudanças ambientais vêm ocorrendo em paralelo
— e vários ambientalistas proeminentes, desde a primatologista Jane Goodall,
famosa por seu estudo sobre chimpanzés, até o naturalista e apresentador de TV
Chris Packham, expressaram preocupações.
Em 2013, Sir David
Attenborough explicou seus pontos de vista em uma entrevista ao Radio Times:
"Todos os nossos problemas ambientais se tornam mais fáceis de resolver
com menos pessoas e mais difíceis — e, em última análise, impossíveis — de
solucionar com cada vez mais pessoas."
Para alguns, o
alarme sobre a pegada ambiental da humanidade os levou a decidir ter menos ou
nenhum filho — incluindo o duque e a duquesa de Sussex, que anunciaram em 2019
que não teriam mais do que dois herdeiros pelo bem do planeta. No mesmo ano,
Miley Cyrus também declarou que ainda não teria filhos porque a Terra está
"com raiva".
Um número
crescente de mulheres está se juntando ao movimento antinatalista e aderindo
ao BirthStrike (ou greve da gestação, em tradução livre), até
que a emergência climática e a crise da extinção de espécies sejam tratadas.
A tendência foi impulsionada por uma pesquisa de 2017, que calculou que simplesmente ter um filho a menos no mundo desenvolvido poderia reduzir as emissões anuais de carbono de uma pessoa em 58,6 toneladas — um valor 24 vezes superior a economia de não ter um carro.
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As costas
marítimas do mundo estão entre as áreas mais densamente povoadas do planeta
Um estudo de 2019,
liderado por Jennifer Sciubba, professora associada de Estudos Internacionais
do Rhodes College, nos EUA, analisou os níveis de crescimento populacional em
mais de 1.000 regiões em 22 países europeus entre 1990 e 2006 e os comparou com
as mudanças nos padrões de uso do solo urbano e das emissões de dióxido de
carbono.
A equipe concluiu
que um grande número de pessoas teve um "efeito considerável" sobre
esses parâmetros ambientais na Europa Ocidental, mas esses não foram os fatores
mais importantes no lado oriental do continente.
Esse suporte sutil
para a ideia de que o crescimento populacional leva à degradação ambiental é
apoiado por muitos outros estudos — como também o impacto da demanda crescente
por recursos naturais, especialmente entre os países mais ricos.
De fato, muitos
ambientalistas agora acreditam que os problemas que enfrentamos atualmente têm
a ver em grande parte com o consumo, e não com a superpopulação. Dessa
perspectiva, as preocupações com o número de habitantes do planeta transferem
injustamente a culpa para os países mais pobres.
Em 2021, um estudo
descobriu que nos EUA, o crescimento populacional e o uso de fontes de energia
não renováveis estão degradando o meio ambiente, enquanto outro revelou que o
crescimento econômico e o uso de recursos naturais na China de 1980 a 2017 levou
a um aumento nas emissões de dióxido de carbono.
Curiosamente,
outras pesquisas descobriram que, embora o uso de recursos naturais e a
urbanização na China aumentem a taxa de destruição ambiental, estes são
parcialmente compensados pela disponibilidade de "capital humano" —
essencialmente, o conhecimento e a habilidade da população humana.
Hoje em dia, é
amplamente aceito o conceito que as pessoas estão colocando uma pressão
insustentável sobre os recursos finitos do mundo — um fenômeno que é destacado
pelo "Dia da superação da Terra", a data em que se estima que a
humanidade tenha usado todos os recursos biológicos que o planeta pode
sustentar naquele ano. Em 2010, essa data era 8 de agosto. Este ano, ela foi
reduzida para 28 de julho.
Quer o problema seja
o excesso de humanos, os recursos que usamos ou ambos, "não consigo nem
imaginar como mais humanos poderiam ser melhores para o meio ambiente",
diz Jennifer Sciubba, autora do livro 8 Billion and Counting: How
Sex, Death, and Migration Shape our World ("8 Bilhões e Contando:
Como Sexo, Morte e Migração Moldam Nosso Mundo", em tradução livre).
Ela sugere que uma maneira de se argumentar envolve o exercício de encarar os humanos e o meio ambiente como a mesma entidade, "embora esse seja um argumento muito difícil".
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À medida que a
terra se torna mais valiosa do que nunca, algumas partes do mundo estão se
tornando inabitáveis
No entanto,
Sciubba faz questão de salientar que a ideia de uma iminente "bomba
populacional" vindo para destruir o planeta está ultrapassada.
"No passado,
havia cerca de 127 países no mundo onde as mulheres tinham em média cinco ou
mais filhos ao longo da vida", calcula. Naquela época, as tendências
populacionais realmente pareciam exponenciais — e ela sugere que isso incutiu
um pânico populacional em certas gerações que estão vivas até hoje.
"Mas
atualmente existem apenas oito [países com taxas de fecundidade acima de
cinco]", diz Sciubba. "Então, acho importante percebermos que essas
tendências mudaram."
Uma
oportunidade econômica
Em 2012, o governo
de Singapura criou uma maneira incomum para os cidadãos comemorarem sua
independência — e divulgou as instruções importantes por meio de um novo rap.
O hit pretendia
incentivar os jovens casais a terem mais filhos e misturava insinuações
animadas com referências patrióticas à cultura e aos pontos turísticos que o
país abriga.
"Vamos fazer
um pequeno humano que se pareça com você e eu. Explorando seu corpo como um
safári noturno, eu sou um marido patriota, você é uma esposa patriota. Deixe-me
entrar em seu acampamento e fabricar uma vida...", dizia um trecho da
letra.
A música foi
lançada em meio a temores sobre a taxa de fertilidade superbaixa de Singapura,
que era de apenas 1,1 nascimento por mulher em 2020.
Trata-se de um
exemplo extremo do que se tornou uma tendência comum em países ricos, onde as
pessoas se casam mais tarde e optam por ter menos filhos. Nesta nação asiática,
os números provocaram preocupações sobre quais poderiam ser as consequências
para a economia do país, levando o governo de lá a pedir aos cidadãos que
fizessem a parte deles.
Esse é um
conceito-chave em economia: quanto mais pessoas você tem, mais bens ou serviços
elas podem produzir e mais podem consumir. Logo, o crescimento populacional é o
melhor amigo do crescimento econômico.
Essa é uma das razões pelas quais as preocupações com o aumento da população nas partes em desenvolvimento do mundo às vezes são vistas como problemáticas — muitos países desenvolvidos já são densamente povoados e, em parte, é assim que eles conquistaram a riqueza. Negar a outros países essa oportunidade é visto como algo injusto e até racista.
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A expansão humana
significa que os eventos culturais e religiosos são maiores do que nunca —
agora, 2,5 milhões de muçulmanos participam da peregrinação do Haje a cada ano
No entanto, o
crescimento populacional mais lento nem sempre é seguido por uma queda
econômica. Veja o Japão, que antecipou as tendências globais de nações ricas e
alcançou taxas de fertilidade abaixo do nível de reposição já em 1966, quando
de repente esse número caiu de cerca de dois para 1,6 por lá.
"Não acho que
a economia do Japão tenha declinado à medida em que as pessoas às vezes a
retratam, se você observar os padrões de vida", diz Andrew Mason,
professor emérito do Departamento de Economia da Universidade do Havaí, nos
EUA. "Eles investiram muito em capital humano — por isso têm menos filhos,
mas enfatizam a educação e têm sistemas de saúde muito bons."
Mason também
aponta que poupança e investimento são comuns no Japão: "Então, houve
aumentos no capital [monetário] e maior produtividade . Se você combinar essas
coisas, acho que o Japão é um bom estudo de caso sobre por que não precisamos
ter pânico [sobre o declínio das taxas de natalidade]."
E há outras formas
de fazer crescer a economia de um país. Mason ressalta que a imigração muitas
vezes fornece uma fonte útil de novos trabalhadores.
Para melhorar, a
chegada de estrangeiros pode ajudar a resolver problemas econômicos sem
adicionar mais pessoas ao total da humanidade. Mas a imigração também continua
sendo um assunto controverso e altamente politizado em alguns países —
portanto, sem mudanças culturais na forma como isso é percebido, alguns países
não terão essa opção.
"Pense
particularmente em países como Japão e Coréia do Sul, que [historicamente] têm
sido muito resistentes à imigração. Eles vão achar cada vez mais vantajoso
[mudar essa política]", acredita Mason.
Da mesma forma, as
vantagens que a imigração pode oferecer são inerentemente desiguais — um país
obtém um impulso em sua economia às custas de outro, cujos trabalhadores
saíram.
Há um sentimento
crescente de que a obsessão global em perseguir o crescimento econômico a todo
custo está ultrapassada e deve ser totalmente abandonada.
"Uma das
coisas que me frustra no debate sobre a superpopulação é que muitos comentários
saem da boca das mesmas pessoas — parece que não queremos que haja muitas
pessoas, e também desejamos ter certeza de que a economia está sempre
crescendo", diz Sciubba.
"Em um mundo
onde há menos indivíduos, realmente precisamos de uma mudança completa de
mentalidade, longe do conceito em que crescimento é igual a progresso",
propõe.
Um
futuro mais feliz
No entanto, a demografia influencia mais do que apenas o meio ambiente e a economia, que também são poderosas forças ocultas na formação da qualidade de vida das pessoas em todo o mundo.
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Legenda da foto,
Os humanos são
mestres em transformar paisagens para atender às próprias necessidades
Segundo Alex Ezeh,
professor de Saúde Global da Universidade Drexel, nos EUA, o número absoluto de
pessoas em um país não é o fator mais importante. Em vez disso, a taxa de
crescimento ou declínio da população é fundamental para as perspectivas futuras
de um país. Na visão dele, é isso que determina a rapidez com que as coisas
estão mudando.
Ezeh explica que,
na África, existem taxas radicalmente diferentes de crescimento populacional
atualmente, dependendo de onde você olha.
"Em vários
países, particularmente na África Austral [uma das cinco regiões definidas
pelas Nações Unidas], as taxas de fecundidade realmente caíram e o uso de
contraceptivos está aumentando — a taxa de crescimento da população está
diminuindo, o que é de certa forma uma boa notícia", aponta.
Ao mesmo tempo,
alguns países da África Central ainda apresentam altas taxas de crescimento
populacional, como resultado da fecundidade elevada e da maior expectativa de
vida.
Em alguns lugares,
ela está bem acima de 2,5% ao ano, "o que é enorme", na visão de
Ezeh. "A população dobrará a cada 20 anos em vários países", estima o
professor.
Mesmo dentro de
uma única região, diferentes países podem estar em caminhos surpreendentemente
diferentes — Ezeh dá o exemplo dos vizinhos Burundi e Ruanda. Enquanto o
primeiro ainda apresenta altos níveis de crescimento — com 5,3 nascimentos por
mulher — no segundo, o aumento está desacelerando, com 3,9 nascimentos por
mulher em 2020, ante 4,5 em 2010.
"Acho que a
conversa sobre tamanhos e números é equivocada", entende. "Pense em
uma cidade que está dobrando a cada 10 anos — e isso é o que acontece em
algumas partes da África — cujo governo realmente tem recursos para melhorar
toda a infraestrutura que existe atualmente a cada década, a fim de manter o
nível correto de cobertura desses serviços?", questiona.
Ezeh explica que é
difícil apoiar o desenvolvimento do capital humano em condições de crescimento
extremo — pesquisas recentes descobriram que isso desempenha um papel
importante na felicidade das pessoas, superior à quantidade de dinheiro que
elas ganham.
Esses fatores
também são considerados como um importante mecanismo de predizer crescimento
econômico, além do grande número de moradores de um país.
"Quando os
economistas pensam sobre isso, uma grande população é ótima para muitos
resultados diferentes. Mas você alcançará essa grande população em 10, 100 anos
ou mil anos? E qual sistema dará suporte a essa população?", pergunta
Ezeh.
Um fator com um
papel bem documentado na desaceleração dessa taxa de crescimento é a educação
das mulheres, que tem o efeito colateral de aumentar a idade média em que elas
dão à luz.
"Com o tempo,
as mulheres têm acesso à educação, ocupam empregos e possuem tarefas fora da
família, elementos que competem com a maternidade", diz Ezeh.
No entanto, o
professor faz questão de enfatizar os méritos da educação independentemente do
impacto que a escolaridade tem no tamanho da população — falamos aqui em um dos
17 objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU.
Isso chega ao
cerne de uma visão moderna sobre engenharia populacional: as políticas precisam
ser implementadas em benefício da sociedade e, se por acaso levarem a mudanças
demográficas benéficas, devem ser encaradas apenas como um bônus.
"Acho que uma
das coisas que não queremos fazer é instrumentalizar a educação feminina. Não
queremos que elas frequentem a escola porque desejamos que elas tenham menos
filhos…", pondera Ezeh.
De fato, os
efeitos colaterais em cascata das políticas implementadas por outras razões
destacam uma realidade impressionante da ciência populacional: o quão
imprecisas são as previsões.
Em todo o mundo, as decisões tomadas pelos governos nas próximas décadas serão extremamente decisivas para determinar quantas pessoas habitarão o planeta — com o poder de nos levar para um futuro em que haverá 10 ou 15 bilhões de pessoas.
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Legenda da foto,
Hoje, 38% da
superfície terrestre da Terra é usada para cultivar alimentos ou outros
produtos para humanos
"Acho que uma
das coisas que sabemos com certeza é que, [quando as pessoas dizem que] a
população da África é projetada para ser X no ano Y, [isso] não é um
destino", destaca Ezeh.
"Se você
olhar para a região da África Austral, a população pode ser três a quatro vezes
maior do que é hoje em 2100, mas também pode ser 50% maior. Ou seja, falamos de
uma faixa tão grande de possibilidades e precisamos fazer os investimentos
necessários para chegar a uma taxa de crescimento consistente com o objetivo
dos países. Essa é a magnitude da oportunidade que existe."
Uma
presença em expansão
Embora o grau em
que a humanidade continuará a se expandir pelo planeta ainda não tenha sido
decidido, algumas trajetórias já foram definidas.
Uma delas envolve
o conceito que a população humana provavelmente continuará a crescer por algum
tempo, independentemente de quaisquer possíveis esforços para diminuí-la.
Esse futuro se
deve a um fenômeno conhecido como momentum demográfico, em que
uma população jovem com taxa de fecundidade abaixo do nível de reposição
continuará a crescer, enquanto a taxa de mortalidade e os níveis de migração
permanecerem os mesmos.
Isso ocorre porque
a mudança populacional não diz respeito apenas às taxas de natalidade — a
estrutura de uma população também tem impacto, principalmente o número total de
mulheres em idade fértil. Tudo isso significa que, em países onde as taxas de
fecundidade são altas, o impacto total desse crescimento não é sentido até que
as mulheres dessa população atinjam a idade reprodutiva décadas depois.
Um estudo de 2014
descobriu que, mesmo no caso de uma grande tragédia global, como uma pandemia
mortal, uma guerra mundial catastrófica ou uma política draconiana de filho
único implementada em todos os países do planeta — nenhuma delas desejável,
claro — nossa população ainda crescerá para até 10 bilhões de pessoas em 2100.
Mesmo um desastre
em tal escala que deixe dois bilhões de pessoas mortas em um período de cinco
anos no meio do século ainda permitiria que a população crescesse para 8,5
bilhões de pessoas nas próximas oito décadas. Aconteça o que acontecer,
concluem os autores, é provável que haja muitas, muitas pessoas por aí até pelo
menos o próximo século.
Com a humanidade
prestes a se tornar ainda mais dominante nos próximos anos, encontrar uma
maneira de viver em sociedade e proteger o meio ambiente pode ser o maior
desafio que a nossa espécie enfrentou até agora.
Leia a versão original desta
reportagem (em inglês) no site BBC Future.
- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-62807711
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