Lixões deveriam ter sido extintos em
agosto de 2014, conforme prazo do governo federal. Até o dia 30 de março de
2023, todas as cidades do estado devem destinar resíduos para aterros
sanitários.
Por Pedro Alves, g1 PE
Lixão em Brejo da Madre de Deus, no Agreste de Pernambuco — Foto: Reprodução/TV Asa Branca
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ernambuco ainda tem
dez cidades com lixões, fazendo descarte irregular de resíduos sólidos urbanos,
segundo levantamento divulgado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) nesta
terça-feira (29). O órgão de controle deu um prazo de quatro meses, até 30 de
março de 2023, para que as cidades parem de cometer esse crime ambiental.
Os lixões não deveriam mais existir desde agosto de 2014, prazo estabelecido pela Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS), sancionada em 2010, na segunda gestão do então presidente Lula (PT).
De acordo com a PNRS,
os resíduos devem ser depositados em aterros sanitários, e não jogados em
lixões a céu aberto, sem medidas para reduzir o impacto no meio ambiente. Os
aterros compactam o lixo, cobrem com areia e fazem a impermeabilização do solo,
para evitar que o chorume contamine lençóis freáticos.
Após o fim do prazo
dado aos municípios, o TCE começou a fazer o levantamento dos municípios que
depositam os resíduos em lixões. Em 2014, eram 155 das 184 cidades do estado em
situação irregular, o que representa 84% do total.
Doze anos depois, os
municípios pernambucanos que ainda fazem o descarte irregular do lixo são os
seguintes (por ordem decrescente de volume diário de resíduos descartados em
lixões):
·
Araripina,
no Sertão: 36,73 toneladas;
·
Timbaúba,
na Zona da Mata: 36,26 toneladas;
·
Ouricuri,
no Sertão: 25,47 toneladas;
·
Brejo da
Madre de Deus, no Agreste: 23,53 toneladas;
·
Bom
Conselho, no Agreste: 19,94 toneladas;
·
Nazaré da
Mata, na Zona da Mata: 18,2 toneladas;
·
Floresta,
no Sertão: 13,37 toneladas;
·
Ipubi,
no Sertão: 11,57 toneladas;
·
Maraial,
na Zona da Mata: 5,26 toneladas;
·
Itacuruba,
no Sertão: 1,9 tonelada.
Os gestores dessas
cidades podem ser multados e condenados por duas irregularidades: crime
ambiental e improbidade administrativa. Essa última por estarem rejeitando
receita devido ao ICMS Socioambiental, o Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços que as cidades recebem por descartar lixo em local
regular.
O g1 e a TV Globo tentam contato com as prefeituras desses
municípios.
Irregularidades
onde se usa aterro
Em 2021, havia 27
cidades pernambucanas na lista das que ainda depositavam o lixo em locais
irregulares. Entre os dois anos, a redução foi de 63%.
Entretanto, mesmo
entre as que, em teoria, fazem uso de aterros, o TCE identificou
irregularidades. Nos municípios de Moreilândia, Trindade e Parnamirim,
no Sertão; e em Salgadinho,
no Agreste, o tribunal detectou o depósito de menos de 60% do lixo produzido.
Essas cidades chegam
até mesmo a receber uma parcela do ICMS Socioambiental por parte do governo
estadual. Essa medida é um incentivo para distribuir a arrecadação do estado
entre os municípios que cumprem determinados requisitos, um deles sendo o
descarte correto de resíduos.
Segundo Pedro
Teixeira, auditor de controle externo do TCE e um dos responsáveis pelo
levantamento, esse tipo de situação indica que há manipulação de dados e,
ainda, possíveis crimes. O pior caso é o de Salgadinho, que só deposita 11,5%
do lixo que produz.
“Já foram 30, hoje são apenas quatro
municípios que depositam menos do que a produção [de resíduos] prevista para o
seu município. Ou seja, o município que deposita apenas 15% do que deve estar
sendo produzido pela população está mantendo um lixão em algum lugar, porque
ele está botando esse lixo em algum lugar”, afirmou Pedro Teixeira.
Se for comprovado que
esses municípios estão mantendo lixões, eles poderão ser penalizados com multa
ou até mesmo com ações judiciais, de acordo com o TCE.
Aterros
sanitários no estado
Central de Tratamento de Resíduos (CTR) Candeias fica em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife — Foto: Alepe/Divulgação
Há, atualmente, 22
aterros sanitários licenciados em Pernambuco, além de sete em processo de
licenciamento e outro em processo de implantação. Dos que já funcionam, oito
são privados e 14 são públicos. Dos oito que estão sendo implementados, cinco
são privados; e três, públicos.
A maioria dos
municípios não tem aterros dentro da cidade e, por isso, encaminha para os
municípios que têm. Os que recebem mais lixo são, respectivamente, a Central de
Tratamento de Resíduos (CTR) Candeias, em Jaboatão
dos Guararapes, com 2,1 mil toneladas por dia; CTR Pernambuco,
em Igarassu,
com 1,1 mil toneladas diárias; e o CTR Caruaru,
com 811,5 toneladas por dia.
O TCE também
identificou que as cidades pernambucanas têm uma dívida de mais de R$ 14
milhões com os aterros privados. O maior débito é com a CTR situada em
Igarassu. São R$ 8,5 milhões devidos somente nesse local.
Central de Tratamento de Resíduos (CTR) de Igarassu, no Grande Recife — Foto: Divulgação
Por isso, segundo
Pedro Teixeira, o próximo passo, assim que os lixões forem extintos em
Pernambuco, é reduzir o volume de lixo produzido, para aumentar a vida útil
desses aterros.
“A gente não pode
conceber que, em 2022, há 12 anos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, a
grande maioria dos municípios não investe na separação de resíduos. Tem que
diminuir a quantidade de resíduos depositados, para aumentar a vida útil
daqueles aterros", afirmou o auditor de controle externo.
O presidente do TCE,
Ranilson Ramos, chamou de “tolerância zero” para os lixões a postura a ser
adotada pelo tribunal em 2023.
O presidente do TCE,
Ranilson Ramos, chamou de “tolerância zero” para os lixões a postura a ser
adotada pelo tribunal em 2023.
“Para que a gente
tenha eliminados, de uma vez por todas, os diversos lixões nos municípios de
Pernambuco. É um dos primeiros [estados] do Brasil que alcança isso, inclusive
com determinações aos prefeitos dos municípios, de que eles podem ser
penalizados não somente administrativamente, mas também como crime ambiental”,
afirmou Ranilson Ramos.
Blog do Paixão