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pedido de Lula e com R$ 12 bi a mais no orçamento, MEC vai priorizar a expansão
do ensino integral, alfabetização e merenda escolar de qualidade. Trabalho será
de recomposição após prejuízo dos últimos quatro anos
DESAFIO Luta contra analfabetismo: governo vai
priorizar setor abandonado pela gestão anterior (Crédito: Eduardo Anizelli)
ELBA KRISS / isto é
Perspectivas 2023 – Educação
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amilo Santana foi
contundente em seu discurso ao tomar posse como ministro da Educação. “Vivemos
recentemente tempos sombrios, em que o Brasil foi violentamente negligenciado
nas suas mais importantes áreas. E a Educação, sem dúvida, foi uma das mais
atingidas”. Sob seu comando, o MEC terá como ordem uma reestruturação em massa
em 2023. Nos primeiros cem dias da atual gestão, a regra é planejar diretrizes
e programar mudanças. A pedido do presidente Lula, o órgão priorizará a
expansão do ensino integral e alfabetização. E, como consequência do retrocesso
do governo anterior, a merenda escolar de qualidade passou a ser preocupação.
“Conseguimos uma recuperação do orçamento do ministério, com praticamente R$ 12
bilhões a mais do que o previsto”, adiantou ele, ainda em dezembro. O dinheiro
em caixa será útil para o trabalho árduo, com outros pontos urgentes a serem
revistos. “Perdemos tempo nos últimos quatro anos e tivemos uma pandemia no
meio disso. Nos últimos três, mais de 350 mil crianças de até cinco anos
abandonaram as escolas. Dados do Educação para Todos mostram que cresceu em 66%
o número de crianças de seis a sete anos que não aprenderam a ler e escrever na
idade certa. Quando não se alfabetiza a criança, todo o futuro dela fica
comprometido”, pontuou. Assim, a lista de emergências fica evidente.
“Cresceu em 66% o número de crianças de seis a sete anos que não aprenderam a ler e escrever. Quando não se alfabetiza a criança na idade correta, o futuro dela fica comprometido”
Camilo Santana, ministro da Educação (Crédito:JF DIORIO)
Ao seu lado na
empreitada, o ex-governador do Ceará convocou pessoas de confiança: Izolda
Cela, sua vice no Ceará, foi levada para Brasília como secretária-executiva do
MEC, e Fernanda Pacobahyba, ex-secretária de Fazenda do Ceará, agora é
diretora-geral do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Assim, a
equipe se une em forças para enfrentar outros danos, como a evasão. “Temos 14%
de evasão ou abandono escolar na sexta série do Ensino Fundamental. No Ensino
Médio, isso aumenta: no primeiro ano, 21% abandonam ou reprovam”, detalha o
ministro. “É preciso criar uma escola atrativa para o jovem e garantir a
permanência dele. Há também a busca ativa desse estudante que não está indo
para as aulas.” No Ensino Superior, os objetivos são igualmente pontuais:
rediscutir o Fies e ProUni. “E devemos recuperar o orçamento das universidades,
que foram sucateadas”, aponta Santana. Da creche à pós-graduação, os desafios
são muitos.
Especialistas
concordam com as prioridades anunciadas pelo ministro. Daniel Cara, professor
da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, consente que o Governo
Federal tenha que focar na recuperação orçamentária. E acrescenta: “Estados e
municípios, em parceria, precisam resgatar os alunos e o aprendizado perdido na
pandemia”. Olavo Nogueira Filho, diretor do Todos Pela Educação, sugere que a
agenda se concentre na Lei do Sistema Nacional de Educação. “Uma espécie de SUS
da Educação. Pode ser, inclusive, um grande impulso para inaugurar uma nova
governança federativa no ensino básico. A lei já foi aprovada no Senado, e o
texto é bom. Dá para avançar rápido”, descreve.
A professora
Janette Brunstein, pró-reitora de graduação da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, cita outro setor a ser minuciosamente trabalhado após a experiência
no período da Covid-19. “A desigualdade ficou nítida com a pandemia. As pessoas
não tinham acesso à tecnologia”, relembra. “Temos que pensar nos avanços
tecnológicos, em uma instrução que responda a isso. Precisamos de três tipos de
educação: a presencial, à distância e a híbrida.”
A população, por sua vez, deve acompanhar a recomposição do MEC com bom senso. Mariah Sampaio, docente do curso de Ciências Políticas da Universidade do Distrito Federal, diz qual precisa ser o pensamento do brasileiro acerca do governo Lula: “A reestruturação não será instantânea. Seria inocência da nossa parte esperar uma reorganização imediata. Vamos acompanhar essa remodelação em longo prazo”.
Blog do Paixão