Paisagens paradisíacas contrastam com a realidade da maioria da população local, que enfrenta problemas crônicos como crescimento desordenado e falta de saneamento básico. Inundações e deslizamentos neste fim de semana deixaram pelo menos 48 mortos até agora.
Por g1 Vale do Paraíba e região
Praias da cosa sul de São Sebastião são muito frequentadas por paulistanos. Na imagem, a Praia de Maresias, uma das mais famosas da região — Foto: Luciano Vieira/ PMSS
A mistura de pé na areia com praias paradisíacas e Mata Atlântica são o principal atrativo para turistas que viajam quase 200 quilômetros da capital paulista até o Litoral Norte de São Paulo.
Na outra ponta da faixa litorânea paulista, os municípios do litoral norte são menos acessíveis para quem sai da capital do que a Baixada Santista, por exemplo, mas têm como recompensa lindas praias. Em um percurso que dura, em média, 2 horas e 30 minutos até Caraguatatuba – a maior cidade dessa região –, o visitante gasta uma hora e meia a mais do que se fosse para Santos, no litoral sul.
A região conta com quatro cidades - São Sebastião, Ubatuba, Caraguatatuba e Ilhabela- e convive com problemas causados pelo crescimento desordenado, que ficam bem visíveis em épocas como carnaval, quando os turistas triplicam a população.
No último fim de semana, fortes chuvas causaram deslizamentos e alagamentos que deixaram até agora 48 mortos e 38 desaparecidos.
Juntos, os quatro municípios somam mais de 400 km de costa litorânea, conforme estima a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística.
A característica de natureza ainda preservada faz com que as quatro cidades tenham praias sem qualquer construção na orla. Na região, Ubatuba é a cidade com maior volume de área de mata: são 60 mil hectares de floresta, segundo o MapBiomas.
São Sebastião está entre as cidades mais procuradas pelo turismo, favorita pelo acesso mais fácil, sendo a mais próxima para quem vem de São Paulo. Na cidade, as praias da costa sul são as mais procuradas pelos turistas pelas belezas naturais e badalação. A região sul da cidade também é o ponto do surfe, principalmente em Maresias – "quintal de casa" do tricampeão mundial Gabriel Medina – e em Paúba.
Além de ser conhecida pelo esporte náutico, quem escolhe o município e passa pelos seus 100 km de extensão nota a característica do bioma de Mata Atlântica e construções originais caiçaras, nas praias de Barra do Sahy, Maresias, Toque Toque Grande e Pequeno.
Turismo faz população triplicar
Juntas, as quatro cidades do litoral norte têm pouco mais de 300 mil habitantes e levam um ritmo interiorano fora de temporada. Esse número, porém, mais do que triplica em épocas de férias e feriados, quando turistas chegam em massa à região.
O turismo é a principal atividade econômica na região e abriga comunidades inteiras. Em 2023, de acordo com as prefeituras, eram esperadas cerca de um milhão de pessoas para os quatro dias de carnaval, o que se repete na abertura do verão e fim de ano, por exemplo.
Luxo nas praias e construções precárias nos morros
Um dos problemas crônicos do litoral norte é o crescimento urbano desordenado: são mais de 50 áreas de risco com moradias na região. São Sebastião, por exemplo, há tempos tem sido alvo de fiscalização pelo Estado, que tenta identificar construções irregulares próximas de rios e riachos, que são protegidos por lei.
Nesses bairros, além do risco em épocas de chuva, há ainda falta de estrutura como ausência de saneamento, asfalto e serviços básicos. O tratamento de esgoto, que influencia diretamente na qualidade da água e, consequentemente, na balneabilidade das praias e na preservação ambiental, é um dos grandes impasses no litoral.
Mapa de São Sebastião onde moradores seriam transferidos para outra área — Foto: Reprodução/Google Maps
Somente em Maresias, bairro de São Sebastião conhecido internacionalmente no circuito do surfe, investimentos em saneamento foram anunciados apenas em 2022 - até então, a área não contava com tratamento de esgoto.
O problema urbanístico de São Sebastião causa controvérsia entre moradores de alto padrão com a construção de imóveis de um conjunto habitacional proposto pela prefeitura. Há dois anos, um grupo de moradores de Maresias organizou um abaixo-assinado contra a construção de 220 casas para moradia popular, argumentando que moradias populares desvalorizariam a área e causariam problemas de segurança pública.
Chuvas intensas causaram mortes
São Sebastião vive uma tragédia depois de uma das maiores chuvas da história da cidade. Até a tarde desta terça-feira (21), ao menos 45 pessoas morreram no município, segundo balanço das prefeituras. Em Ubatuba, uma criança de 7 anos morreu após uma pedra que se soltou de uma encosta atingir a casa em que ela vivia.
Os dados são atualizados a cada momento, já que as equipes de resgate trabalham ininterruptamente na busca por sobreviventes e feridos. Em São Sebastião, a maior parte das mortes foi no bairro Vila do Sahy, área de moradias simples e erguidas próximas à serra, às margens da Rio-Santos.
A Vila surgiu na década de 1990 como uma ocupação que se chamava Vila Baiana, por ser formada por imigrantes que vieram da Bahia e de demais estados do Nordeste em busca de oportunidades de trabalho no Litoral Norte de São Paulo.
Blog do Paixão