Ele esteve entre a vida e a morte, tratado como se fosse um inválido. Mas sua vontade de jogar valeu mais que tudo
Por Michel Laurence
Esse não é mais Roberto Dias, o ídolo de andar bamboleante, que passava pelo saguão do Morumbi e quase fazia os dirigentes e torcedores inclinarem as cabeças num cumprimento respeitoso. Hoje essa figura trabalhada, cuidada, quase desapareceu. Em seu lugar está um homem humilde, que torce os dedos e procurar estar sempre com alguma coisa nas mãos para disfarçar o nervosismo com que espera a sua volta. Dias é apenas um jogador, que fica muito alegre quando Gérson passa por ele e pergunta:
- Como é, Dias? Esse tique-taque aí como é que tá?
- Agora está tudo bem, Gérson. Muito obrigado.
(Há dois anos, quando Gérson foi contratado, os jornais anunciavam uma briga entre personalidades: Dias x Gérson. Hoje isso nem passa pela cabeça de Dias).
Espírito Forte
Muita coisa aconteceu com Dias para que ele mudasse tanto. Coisas que realmente baqueiam um homem, mesmo que seu espírito seja forte e preparado para tudo. E Dias estava preparado. Com ele mesmo afirma, é muito mais espiritualista do que materialista. Primeiro foi o afundamento do frontal, num choque com Artime. Depois a morte do filho, de poucos meses. Finalmente problemas entre seus pais, os quais ele não pode solucionar.
Aí começou a queda de Dias. Para um atleta, bebeu além da conta. O nervosismo que o fazia fumar demais – três maços por dia – acabava em briga com os companheiros. Uma vez com Jurandir, quase no final do Campeonato Paulista do ano passado. Então a dor apareceu. O fôlego foi sumindo. Até falar ficou difícil. Quanto mais doía, mas Dias procurava superar a dor, na base do esforço.
- Eu não queria sair do time. O pior é que a dor aumentava a cada jogo. O médico explicou-me depois: o homem tem uma reserva de energia que ele mesmo desconhece e só a utiliza quando está no desespero. Só que, num determinado instante, a dor impedia Dias até de andar. Não se tratava mais de jogar, mas de salvar a vida.
- Dias não sabe, mas o que ele teve é muito grave. Ele só se salvou porque é um atleta. Foi tão grave que até hoje nunca lhe dissemos o que ele teve. Ele diz que foi entupimento das coronárias. Mas foi mais sério do que isso (Dalzel Freitas Gaspar, Médico do São Paulo).
Roberto Dias parou de jogar. Exames foram feitos sem que o mal fosse diagnosticado. Ele foi encaminhado ao Instituto de Cardiologia do Ibirapuera, para uma consulta com o Dr. Michel Batloni. Imediatamente Dias foi submetido a uma série de testes os mais modernos. O Dr. Batloni não desiludiu Dias de pronto. Apenas disse-lhe que “primeiro cuidaria do homem, e depois se preocuparia com o jogador de futebol”. Dias teve que ficar dois meses em casa, sem fazer qualquer esforço. De dia ficava na cama para não se emocionar com as crianças. Levantava-se apenas à noite, quando as filhas já estavam dormindo, apenas para uma caminhada.
- Sinceramente, tive medo de morrer. Não propriamente medo da morte, porque sou espírita, mas por causa de minha mulher e filhas. Fiquei o tempo tomando um cuidado danado.
Assim que teve alta do primeiro período, Dias ia todos os dias ao São Paulo, tentando treinar, jogar, concentrar-se, a vida que levava os matava aos poucos. O São Paulo lhe deu todo o apoio de que precisava, pagando os seus ordenados e até os bichos que o time recebia pelas vitórias e empates no campeonato passado. Os remédios – contas astronômicas – também eram pagos pelo clube. Mas Dias fazia questão de voltar.
Os dirigentes do São Paulo desconversavam, procuravam deixar passar o tempo sem que Dias percebesse. Poucos acreditavam em sua volta.
O apoio: a religião
Dias se desesperou. O único apoio que era sua religião: o espiritismo. A religião que o tinha avisado de todas as coisas ruins que lhe iam acontecer.
Em pé: Valdir Peres. Getulio. Oscar. Dario Pereyra. Almir e Marinho Chagas.
Agachados: Paulo Cesar. Renato. Serginho. Everton e Mario Sergio.
Blog do Paixão