“A música brasileira tá uma merda. As letras, então? Meu Deus do céu! Uma porcaria. […] Não sei se o pessoal ficou mais burro, se não tem vontade (de cantar) sobre amizade ou algo que seja: só sabem falar de bebida e a namorada que traiu”. Com essas palavras, Milton Nascimento descreveu o que considera ser um dos motivos da decadência da música brasileira.
Ele disse isso ao comentar sobre músicas feitas com foco em lucro, vender ao máximo e atingir uma grande massa, mas além do conteúdo das músicas, outros fatores podem apontar sinais de pobreza musical.
Quando se faz críticas aos estilos musicais ou às músicas propriamente ditas, quando não ao próprio artista, as primeiras acusações que se ouve são a de que o crítico é elitista ou preconceituoso: aqueles que falam da decadência da música brasileira podem ser tachados de arcaicos ou saudosistas.
De fato, as músicas de péssima qualidade tomaram conta dos espaços midiáticos: e essa afirmação não de nenhum modo se relaciona com a uma oposição entre música popular e música erudita.
Um dos mais utilizados é o palavrão: ele desperta curiosidade e humor; soma-se a ele o uso da sensualidade. Uma grande parte das músicas brasileiras foca no tema da violência e do erotismo, fato.
Platão considerava a música como fundamental para a educação e formação da alma, em ordem a desenvolver o senso de harmonia; ela é uma das modalidades, uma espécie de concordância, coerência ou integridade.
Por essa razão, ao aprender música, entende-se mais como a coerência rege o universo e o homem, compreende-se melhor a noção de totalidade.
Aristóteles, seu discípulo, seguiu a mesma ideia: ele viu a arte como uma forma de tentar exteriorizar o que é íntimo ao ser, ou seja, tornar universal o que é individual.
O problema é que atualmente muitas músicas não têm a intenção de tocar a alma de ninguém.
Simplicidade das letras
Em relação às composições de artistas renomados do passado, as letras das músicas estão cada vez mais simples: algumas parecem escritas por um estudante recém- alfabetizado.
O que disso se conclui é que a proposta mercadológica consiste em não exigir esforço intelectual. A quantidade de trabalho usado para fazer uma composição mudou, porque a intenção é produzir em escala, com velocidade: músicas há que se fazem apertando botões de sintetizadores.
Mas o que se pode aprender com a música?
As que são chamadas clássicas têm esse nome porque vencem o tempo: possuem uma qualidade tão excelente, várias no nível da genialidade, que se tornam parâmetros atemporais. Em relação às composições atuais, o que há por trás das emoções primárias, literais e diretas das músicas?
A indústria fonológica se preocupa em criar músicas que se fixem na mente, como chicletes: devem ser facilmente memorizáveis, não muito longas ou difíceis de entender. Muitos nem se preocupam mais em ouvir a música inteira. O intuito passou a ser lançar mais faixas, ter milhões de visualizações em pouco tempo e partir para a próxima.
Muitas apresentações musicais, tais quais vistas com frequência, possuem um sistema de divulgação e agendamento de shows, o qual parece um cartel de empresários em busca de monopólio nas TVs e rádios do Brasil.
A isso somam-se dançarinas sensuais na maior parte das apresentações em programas de auditório e em shows ao vivo: abusa-se dos recursos visuais para aumentar a qualidade da experiência do espectador com a música.
O problema é que muitas delas são a expressão de obviedades físicas imediatas: simplesmente descrevem sexo, traição, paixão, crime…
Música Popular
A música popular é, literalmente, a música do povo. Ela surgiu vinculada à dança, ao trabalho e ao ritual religioso. Nos termos de hoje, a música popular é chamada de folclórica, não é industrializada, nem vende milhões de cópias: trata-se da música cantada pelo povo em seu local, festas e tradições.
É a cultura de um grupo que se manifesta: a música cria um ritmo no trabalho, como os plantadores e colhedores que agem ritmicamente, sendo levados por uma melodia.
Música industrial
Muito do que se chama de música popular contemporaneamente, é, na verdade, música industrial. São aquelas feitas por certos músicos para a comercialização em grande escala. Normalmente se atribui a elas a causa da decadência da música brasileira.
Ela é um fenômeno do século XX, diferente da popular e da clássica: busca sucesso comercial sem trabalhar com a inteligência.
Idolatria dos artistas
Com a televisão, tudo piorou. Nem todo bom artista é bonito, mas essa se tornou uma característica necessária para aparecer na TV: ninguém queria um artista horrendo cantando as músicas preferidas.
Assim começou a seleção pela beleza, não pela música; a juventude começou a ter vantagens sobre os velhos.
Além disso, os empresários notaram que os jovens são um público que tende a idolatrar o artista preferido: vender para eles era mais fácil, bastando formar ídolos. A consequência foi o surgimento de cantores mais preocupados com a aparência e com a movimentação do mercado do que com a música.
Hoje, artistas há que não vendem músicas, mas a si próprios: o visual, número de seguidores, as fotos, as declarações polêmicas e a presença em shows se tornaram mais importantes.
Como nem todos cantam realmente bem, mesmo que tenham boa performance em palco e atratividade, cada vez mais foi necessário buscar as habilidades de engenheiros de áudio para modificar as vozes.
As músicas cujo artista é um ícone mais importante que a própria música, criam uma idolatria, principalmente entre os mais jovens.
O lobby da música embala dezenas de pessoas e as deixa iguais; depois são colocadas no mercado, já na espera do sucesso, uma vez que a receita de bolo foi seguida.
O papel da assessoria de imprensa, nesses casos, é forjar um sucesso antecipado, além de maquiar um desenvolvimento internacional que pode até mesmo ser falso.
Por isso, o número de cantores desafinados que “bombam” por aí cresceram, sem considerar os que têm suas vozes alteradas eletronicamente.
Esse conteúdo que é um fragmento do “Brasil Paralelo” nos serviu para nortear uma busca nas redes sociais das “músicas popularescas” que fazem o maior sucesso e rendem milhões de seguidores, além de claro, milhões de reais nas contas desses senhores que do piseiro, ao funk debochado, do forró eletrônico ao sertanejo universitário têm atraído uma geração que gosta da música de dupla sentido, da música que fala de sexo, chifre, traição, bebidas e até continua usando a figura feminina como objeto pejorativo do prazer, do desejo e da violência.
Na próxima publicação, vamos mostrar para vocês alguns desses elementos musicais que são seguidos por milhões e que cantarolam as músicas mais horríveis e imbecis e são as estrelas do momento.
Antes que alguém fala aqui alguma asneira, e diga que eu sou ultrapassado, saudosista e velho, apenas comprova a verdade.
“A música é o meio mais poderoso do que qualquer outro porque o ritmo e a harmonia têm sua sede na alma. Ela enriquece esta última, confere- lhe a graça e ilumina aquele que recebe uma verdadeira educação.”Platão
Blog do Paixão