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Heroína da Independência do Brasil: conheça história e legado de Maria Quitéria, a 1ª militar do país

Maria Quitéria entrou para os livros de História e deixou a transgressão como marca e legado para mulheres e homens, mas morreu sob anonimato, em Salvador.

Por Itana Alencar, g1 BA


Maria Quitéria - especial 2 de Julho — Foto: Redes sociais

Figura marcante na Bahia, Maria Quitéria é, sem dúvidas, uma das heroínas da Independência do Brasil, concretizada em 2 de Julho de 1823, no maior estado do Nordeste. A primeira militar do país entrou para os livros de História e deixou a transgressão como marca e legado para mulheres e homens.

Nascida em Feira de Santana, a 100 km de Salvador, hoje Maria Quitéria é nome de distrito: o então povoado de São José Itapororoca foi rebatizado em homenagem à filha ilustre. Primogênita de três filhos, a heroína da Independência era filha da baiana Quitéria Maria de Jesus e do português Gonçalo Alves de Almeida.


Memorial de Maria Quitéria, heroína da Independência do Brasil, fica em Feira de Santana, na Bahia — Foto: TV Bahia

Maria Quitéria se viu tomada de responsabilidades ainda na infância, em um século em que mulheres eram obrigadas a assumir trabalhos domésticos desde novas, como explica Cleane Oliveira, diretora-presidente da Fundação Egberto Costa, que administra o memorial da heroína em Feira de Santana.

"Aos 10 anos de idade, ela testemunhou a morte da mãe. Então ela assumiu, muito precocemente, a gestão da casa, tomando conta dos irmãos. Ela caçava, pescava, também fazia os afazeres da casa, e assim ela foi tomando essa noção de responsabilidade".

Com a morte da mãe de Maria Quitéria, o Gonçalo se casou outras duas vezes. A primeira madrasta morreu de forma prematura, e a má relação com a segunda companheira do pai foi o estopim para o início trajetória independente da jovem heroína.


Caramanchão que guarda carros dos caboclo e cabocla, símbolos da festa do 2 de Julho, permaneceu fechado — Foto: Betto Jr./Secom

"Rosa Maria ela é uma mulher de temperamento forte, tanto quanto a própria Maria Quitéria. Então, as duas elas duelaram entre si na questão da gestão da casa. Ela era a irmã mais velha, tinha a questão de tomar conta dos irmãos e chegou essa outra que não tornou a vida de Maria Quitéria muito fácil. Esse é um motivos também que a gente deve entender que também levou ela a sair para a guerra".

A pesquisadora Lélia Fernandes destaca que a jornada de Maria Quitéria para se tornar Soldado Medeiros passou por roupas emprestadas e entrosamento com equipes de batalha, começando em Cachoeira, berço da Independência do Brasil no Recôncavo Baiano, até chegar em Salvador.

"Ela recebeu esse epíteto de Soldado Medeiros visto que ela, além de tomar as roupas emprestadas do cunhado, que era José Medeiros, ela também tomou o sobrenome. A partir daí ela entrou no Batalhão dos Periquitos, lá em Cachoeira. Ela se entrosou mesmo com a tropa e participou de várias batalhas, ela atravessou o Rio Paraguaçu com a água quase no pescoço, e teve grande vitória", narrou Lélia.

Bravura e reconhecimento


Maria Quitéria é tradicionalmente homenageada em atos simbólicos de comemoração da Independência do Brasil na Bahia — Foto: Betto Jr./Secom

A coragem e destreza de Maria Quitéria foram reconhecidas pelos próprios colegas e também pelo então imperador Dom Pedro I. Após ter o disfarce reconhecido, a heroína escolheu continuar nos combates, a contragosto do pai, como explica Cleane.

"Ela lutou e conseguiu se destacar no no batalhão dela. Em três batalhas específicas ela se destacou: na de Pirajá, na defesa de Ilha da Maré e na de Piatã, onde ela entrou em uma trincheira, rendeu os portugueses e os levou, sozinha, para o acampamento. A partir desse feito ela foi condecorada a cadete. Rapidamente o pai dela descobriu onde ela estava, e foi chamá-la de volta, muito chateado".

"Por causa da bravura desempenhada por ela em combates, o supervisor deixou livre a escolha dela, e ela ficou no exército".

Se por um lado Maria Quitéria recebeu várias honras, incluindo um convite para ir pessoalmente ao Rio de Janeiro, visitar o imperador e ganhar a insígnia de "cavaleiro" da Ordem Imperial do Cruzeiro, por outro lado a relação familiar foi bastante estremecida.

"O pai dela a amaldiçoou. Ela então pediu uma carta de conciliação a Dom Pedro, quando ela foi ao Rio de Janeiro para ser condecorada. Dom Pedro escreveu uma carta de próprio punho falando da bravura e da importância da participação de Maria Quitéria nos combates na Independência da Bahia".


Insígnia de "cavaleiro" da Ordem Imperial do Cruzeiro foi dada a Maria Quitéria pelo então imperador Dom Pedro I — Foto: TV Bahia

Com a carta imperial, o perdão. Depois da reconciliação com o pai, Maria Quitéria passou a viver em Feira de Santana e depois morou por algum tempo na cidade de Coração de Maria, vizinha à terra natal. Só depois da morte do pai é que ela casou com o companheiro, Gabriel de Brito.

"Aí ela foi pra Salvador e casou com Gabriel de Brito, com quem teve uma filha, Luísa Maria da Conceição. A partir daí ela passou a viver em Salvador no anonimato, infelizmente", destacou a pesquisadora Lélia.

Já no início da velhice, Maria Quitéria enfrentou outra batalha: uma inflamação no fígado. A doença deixou a heroína quase cega. Em agosto de 1853, aos 61 anos, Maria Quitéria morreu na capital baiana.

"Ela foi enterrada em um cemitério que era contíguo à Igreja de Santana, foi enterrada em uma cova rasa, como indigente. Quando completou 150 anos, nós fizemos uma comissão para ver se encontrávamos algum vestígio de onde ela foi enterrada, mas não encontramos. Isso nos desgasta, saber que uma mulher tão importante ficou no anonimato na sua morte", ponderou Lélia.

Para Cleane, a ausência dos restos mortais de Maria Quitéria não torna seu legado menos importante.

"O que a gente tem realmente de registro é a bravura. Um exemplo da mulher que ela foi, à frente do seu tempo. Então tem esse legado também, mas infelizmente Maria Quitéria morreu em Salvador sem nenhum reconhecimento. Os restos mortais se perderam no tempo. E só ficou a lembrança e a história que nessa semana completa duzentos anos".

Memorial em Feira de Santana



Memorial de Maria Quitéria, heroína da Independência do Brasil, fica em Feira de Santana, na Bahia — Foto: TV Bahia

Se em Salvador a guerreira não teve o destino merecido, em Feira de Santana o legado de Maria Quitéria ficará disponível em um memorial no Casarão Olhos D'Água, a sede da Casa da Cultura do município, sob administração de Cleane.

"O impacto da participação de Maria Quitéria na Independência não é um legado apenas para Feira de Santana. Eu diria que se alarga, é um legado para todas as mulheres, o legado de uma mulher à frente do seu tempo, com muitas expertises, extremamente estrategista. Ela foi uma pessoa que se diferenciava pela sua sapiência".

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