Governo do estado confirmou a informação, mas não divulgou o nome da pessoa por questão de segurança. Oito pessoas foram mortas em menos de 24 horas.
Por g1 PE
Informação foi divulgada após reunião na Secretaria da Controladoria Geral do Estado (SCGE) fica na Zona Norte do Recife — Foto: Reprodução/Google Street View
Uma pessoa que é parente de vítimas da sequência de oito assassinatos em menos de 24 horas em Pernambuco entrou no programa de proteção a testemunhas. O governo do estado confirmou a informação nesta quarta-feira (20), mas não divulgou o nome nem qual é o parentesco com as vítimas, por questão de segurança.
No primeiro tiroteio, na noite de 14 de setembro, uma grávida de 19 anos e um primo dela, de 14 anos, também foram baleados. A troca de tiros que iniciou a sequência de mortes aconteceu no bairro de Tabatinga, em Camaragibe, no Grande Recife (confira detalhes do caso no final desta reportagem).
Nesse bairro, foram mortos, em ordem cronológica, dois PMs, três irmãos do atirador e o próprio criminoso, na noite de 14 de setembro e na madrugada e na manhã de 15 de setembro, respectivamente (veja vídeo abaixo). Além disso, a mãe e a esposa dele foram encontradas mortas num canavial em Paudalho, na Zona da Mata de Pernambuco, também no dia 15.
A informação sobre o programa de proteção foi divulgada pelo secretário executivo de Direitos Humanos do estado, Jayme Asfora. Ele se reuniu com a família da grávida, Ana Letícia, e com autoridades que prestam auxílio jurídico à família. O encontro aconteceu na Secretaria da Controladoria-Geral do Estado, no bairro do Espinheiro, na Zona Norte do Recife.
"Já temos uma pessoa protegida. Não podemos divulgar o nome por questão de segurança, isso é proibido por lei. A segurança exige, inclusive, que a sede dos programas de proteção não funcione na sede da secretaria, e estamos à disposição para todos aqueles que, porventura, queiram receber a proteção", afirmou Jayme Asfora.
Ele explicou que, inicialmente, toda pessoa protegida fica isolada num programa temporário de proteção. Depois, é acolhida num programa de proteção definitivo. Por causa do isolamento, outra pessoa que também procurou o estado por causa do programa desistiu de pedir o auxílio.
"O serviço de proteção exige, pelo menos num período inicial, que a pessoa fique isolada, tal qual nós ficamos numa quarentena, sem contato com o mundo exterior, com a família, com o local de residência, com o trabalho, e isso, às vezes, a gente não quer aceitar. E a gente não pode acolher ninguém compulsoriamente, só voluntariamente", declarou.
Questionado sobre a possível participação de policiais militares na execução dos parentes do atirador e a atuação da PM na proteção das famílias das vítimas, ele disse que há mecanismos próprios no programa de proteção a testemunhas.
"Embora possa haver policiais envolvidos, e eu acredito que a Corregedoria vai apurar isso bem, a partir da determinação da governadora Raquel Lyra (PSDB), a polícia faz a segurança ostensiva da sociedade. E a gente não pode negar que ela, na sua maioria, pelo menos na minha opinião, faz isso bem e é composta por pessoas honestas. Pessoas más na polícia, pessoas criminosas nas polícias, vão ser punidas, como são punidas em qualquer corporação", disse.
Também participou da reunião com Jayme Asfora a advogada e integrante da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Maria Julia Leonel. Ela disse que é preciso que o estado também preste auxílio financeiro à família.
"O que a gente veio fazer hoje foi cobrar medidas efetivas do estado com relação ao caso. Algumas demandas foram apresentadas pela família, e a gente precisa que o estado ele se responsabilize de forma concreta com essas demandas, para atender essas demandas. [...] Não só medidas de proteção, mas, por exemplo, de custo. Uma pessoa está internada, por exemplo, e existe um custo de deslocamento. São coisas que extrapolam a proteção. São coisas básicas", declarou.
Entenda o caso
- Na noite de 14 de setembro, os PMs Eduardo Roque Barbosa de Santana, de 33 anos, e o cabo Rodolfo José da Silva, de 38 anos, foram até Tabatinga verificar uma denúncia de que um homem estava em cima de uma laje "dando tiros para cima em uma comemoração";
- Alex da Silva Barbosa não tinha antecedentes criminais e tinha uma arma de mira a laser que era registrada, pois ele era Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC);
- Ao ver os policiais se aproximando, ele teria atirado na cabeça dos dois PMs. No tiroteio, ficaram feridos Ana Letícia, jovem de 19 anos que está grávida de sete meses e perdeu parte da visão do olho esquerdo e massa encefálica, e o primo dela, um adolescente de 14 anos;
- O irmão de Ana Letícia, Carlos Augusto, disse que foi torturado por policiais depois que a irmã foi baleada. A família também disse que o carro que estava levando a jovem a uma unidade de saúde, foi alvo de tiros dados pela polícia;
- No mesmo bairro, por volta das 2h da sexta-feira (15), três irmãos de Alex foram baleados por homens encapuzados: Ágata Ayanne da Silva, de 30 anos; Amerson Juliano da Silva e Apuynã Lucas da Silva, ambos de 25 anos;
- O crime foi transmitido ao vivo no Instagram: Ágata e Amerson morreram no local; Apuynã foi levado ao Hospital da Restauração, no Recife, mas não resistiu aos ferimentos;
- Na manhã da sexta, os corpos da mãe de Alex, Maria José Pereira da Silva, e de Maria Nathalia Campelo do Nascimento, 27 anos, esposa dele, foram encontrados num canavial em Paudalho, na Zona da Mata Norte;
- Horas depois, por volta das 11h, durante buscas da Polícia Militar, Alex Silva foi localizado em Tabatinga, trocou tiros com o efetivo e foi morto.
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