A Justiça Eleitoral surgiu em 1932, num Brasil que migrava do campo para a cidade. Tempos cantados por Luiz Gonzaga e contados, principalmente, por Raymundo Faoro, em Os Donos do Poder, e Victor Nunes Leal, em Coronelismo, Enxada e Voto. A televisão mal chegara ao país na década de 1950 e não estava disponível a todos os lares. As campanhas políticas mais sofisticadas aconteciam através dos jornais, rádios, cinemas e em discos que tocavam na vitrola da classe média. Campanha, campanha mesmo para o povão, acontecia nos comícios de rua, em cima dos palanques instalados nas praças dos bairros ou no centro da cidade.
O ensaio acima do Jornalista Marques Fernandes do Diário de Pernambuco, relata o que em verdade aconteciam mais nos grandes centros urbanos, e o próprio profissional da imprensa relata (de forma sintética) que no interior o precário sistema de fios que eram ligados por um “gato” na rede elétrica e nela eram fixadas lâmpadas incandescentes (aquelas que queimavam com a maior facilidade), o carro de som que avisava todos os moradores da redondezas circulando em todos os arredores cumprindo uma liturgia da prévia do comício no local, era o mesmo que no horário divulgado, um veraneio com um potente instrumento sonoro, utilizado pelos políticos que ficavam em cima de um caminhão, ladeado pelos eleitores, cabos eleitorais, radialistas, familiares, curiosos, ainda atraíam um multidão.
Os comícios na zona rural, pelo menos trazendo para a realidade das cidades do interior de Pernambuco, principalmente em Araripina, no semiárido nordestino, dos quais alguns registros de 1988 nos trazem essa realidade.
Os políticos, antes de acontecer o evento de apresentações das propostas que muitas vezes se transformavam em ataques verbais aos adversários nos palanques improvisados, circulavam pela comunidade para angariar votos, o que chamamos por aqui de porta a porta, corpo a corpo, em que pessoas são contratadas ou induzidas a pedir votos para seus candidatos.
Um locutor contratado pelo candidato tratava de empolgar a massa. Geralmente um radialista que criou um empatia com o grupo, mas que era odiado por outro. Tudo continua quase o mesmo enredo.
O palanque era aquecido com os discursos dos candidatos, enquanto eram distribuídas as chapinhas escrita manualmente ou confeccionadas por um gráfica. A cachaça era um dos aperitivos distribuídos pelos candidatos e o improviso de barracas, também competiam com o espetáculo promovido pelos políticos.
Os eleitores da cidade também se aventuravam em cima desses transportes (geralmente caminhões, caminhonetes) para assistir o evento ou a “convite” do candidato, ou porque participar do comício fazia parte também de uma estratégia de sempre colocar mais gente nesses movimentos na zona rural. Os mais abastados eram transportados em carros fechados e com mais segurança. Era uma disputa dos adversários para na mesma comunidade trazer mais gente para no outro dia afirmar com toda pompa que no comício deles não tinha um “pé de gente”.
O forró com sanfoneiro era praxe e a poeira misturada com pinga de vez em quando terminava em briga.
Se o comício fosse no centro da cidade tudo era mais organizado. Um som eletrônico alocado com aquelas caixas pesadas com um emaranhado de fios, as ruas parecendo festa de padroeira, um palanque mais sofisticado, mesmo sendo com um caminhão de grande porte, com escadas para a travessia dos políticos, porque geralmente um deputado ou um senador seria convidado ilustre para participar do grande comício de encerramento de campanha ou comício da vitória que nunca saiu de moda, ainda trazia como atração um cantor para animar a festa.
O comício ou showmício como era chamado, atraía gente de toda zona rural que chegavam de bicicletas, caminhões, caminhonetes, todos enfeitados com as bandeiras dos candidatos.
E a nossa história sobre os comícios e as travessias dos políticos e seus aliados para chegar ao poder não termina aqui. Outras histórias e fatos marcantes que também nos envolveu muito, vamos contando por aqui.
Na próxima vamos saber como era feito o porta a porta dos candidatos.
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