Durante todo esse tempo, os olhas atentos de Luiz Gonzaga viram muita coisa acontecer: sua música saindo e voltando ciclicamente à moda, Asa Branca esquecida e depois convertida em hino, jovens talentos surgindo (a geração de Caetano, Gil, Alceu, Moraes, baianos e pernambucanos novos mirando-se nele para reabilitar a nordestinidade e reinventá-la mais adiante). Incluía-se na mesma geração seu próprio filho, Luiz Gonzaga Jr, algo renegado em menino (nasceu nos morros de São Carlos, foi criado por amigos da mãe e só aos 16 anos se aproximou do velho), mas que logo cresceria para se escalar no primeiro time da música popular e acabar se unindo ao pai entre as estrelas de uma mesma constelação, Gonzaguinha um, Gonzagão outro.
Nesse meio século, o Gonzaga pai jamais perdeu o prestígio. Teve praticamente uma única gravadora, a RCA Victor, hoje BMG, e nela perpetuou mais de mil canções, suas ou de outros. Pode ter saído do palco por momentos, mas sem perder o prestígio, nunca.
- Sim, aí pelos anos sessenta, achei melhor me afastar – contaria ele. – a garotada estava crescendo muito. Era a época das guitarras, dos cabeludos. O rádio ia virando coisa do passado. E a imagem que a televisão queria mostrar ao seu público era de coisa mais sofisticada, nunca de um cangaceiro de chapéu, esquisito, empunhando uma sanfona.
Foi mais voltou logo. Para compor, tocar e cantar o quanto a saúde lhe permitiu. Andou alternando a música com atividades outras, com a de apaziguador de briga entre as famílias rivais do sertão pernambucano (selou-lhes a paz tocando por elas em praça pública), visitas nostálgicas ou diplomáticas a Exu e um namoro com a política que não deu em casamento. Chegou a pensar em seguir as pegadas do parceiro Humberto, candidatando-se a deputado federal pelo PDS.
- Mas vi que entrar na política com aquela idade (70 anos) era a mesma coisa que velho se casando com moça nova.
Ficou com a sanfona de oito baixos e a voz soando a sertão. Sua música – que acabou triunfando sobre os altos e baixos das novidades do momento – continuou sendo o que sempre foi: autêntica, rica, poderosa, de espírito agreste e cheiro de terra. Uma música difícil de descrever, como acontece com as melhores artes populares, e de cuja grandeza o próprio Luiz Gonzaga parecia não ter muita consciência.
Do Livro - 50 anos de Chão - de João Máximo
Blog do Paixão