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A Saga de Gonzagão: 50 anos de Chão – Parte V


Foto de Luiz Gonzaga: Acervo Histórico

De João Máximo

- Ficava por ali, desasnando – lembraria ele. – Na igreja de São João Batista, perto de 16 de junho, juntavam-se os tocadores do lugar, sua música atraías o pessoal para as festas religiosas. Chegada essa época, eu ia pra lá., puxava assunto com o tocador, pedia pra experimentar o instrumento, a zabumba, a caixa, o pífaro, a sanfona. Fui aprendendo.

Por obra do acaso (e do amor) o jovem Lula logo emigrou para o Sul. Tinha dezoito anos quando se apaixonou por Nazarena, moça endinheirada do lugar. O pai dela, um certo Raimundo Deolindo, deixou claro, e fez questão de espalhar por toda Exu, que não queria ver de namoro com aquele “neguinho sem futuro”. Ao saber disso, Lula tomou coragem (ou melhor, uma talagada de cana) e foi tirar satisfações com o pai da moça na feira de domingo, bem diante de todo o povo. Raimundo queixou-se à dona Santana, mãe de Lula: “Outro desrespeito desses, minha senhora, pode acabar em sangue”, ameaçou. Dona Santana, mas temerosa que zangada, não respeitou os dezoito anos do filho e deu-lhe uma surra. Humilhado e ofendido, o rapaz vendeu a sanfona, arrumou a trouxa e partiu.

A primeira escala foi Fortaleza, onde Lula entrou para o Exército e tornou-se cabo corneteiro. Viajou muito. Andou por São Paulo, fez biscates, comprou sanfona nova, até que desembarcou no Rio de Janeiro disposto a ganhar a vida com música. Seu primeiro emprego na cidade foi no Mangue, zona de meretrício que, na época, ao lado de casas de quinta categoria, mantinha botequins iluminados, de razoável aparência, com arrasta-pés vespertinos e música ao vivo. Seu repertório, então, era composto de tangos, boleros, valsas, fox trots. Uma noite, depois de ouvi-lo, um estudante pernambucano de passagem disse-lhe:

- Você toca muito bem, seu moço. Mas por que não ataca uma coisinhas lá da nossa terra pra matar a saudade. Deixa o tango pra lá. Olha, da próxima vez que a gente vier aqui, se você tocar umas músicas nordestinas, não vai ter dinheiro no seu pires.

Pensando em tudo aquilo, especialmente no dinheiro no pires, compôs dois chamegos: Pé de Serra e Vire e Mexe.

Consciente de que o rádio era o principal veículo para música naquele 1941, inscreveu no Programa de Calouros de Ary Barrioso, solou o Vire e Mexe, ganhou o primeiro prêmio, e não muito depois, foi contratado pela Nacional.


Embaixo à esquerda, o cabo corneteiro Luiz Gonzaga


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