Quando você ouve algo como...”Uma semana que pro norte relampea...” até...”é de homem trabalhador”, e separa a letra e fica só a melodia, você tem a impressão que já ouviu, mas não tinha prestado atenção; você tem a impressão – mais no fundo – de que já conhece, porque ouviu aqui e ali acordes parecidos; a impressão de que faltava mesmo era cristalizar assim, numa forma acabada, uns tantos sons e acordes, muitas vezes ouvidos nos cantos e motivos musicais populares; a impressão de que aquela forma acabada é mais anônima, sem autoria individual, porque é muito familiar, é quase memória da infância; a impressão de que essa melodia tem a capacidade de fazer a gente como que recordar de algo ouvido no passado indistinto, algo que faz parte da gente.
É assim a música – não só a letra – de Luiz Gonzaga. ela identifica a geografia física e humana do Nordeste de um modo flagrante e definitivo como um signo, que provoca o reconhecimento tácito por si mesmo evidente. É a evidência do inconsciente coletivo, um padrão arquétipo.
Do Livro: 50 anos de chão
De João Máximo
Blog do Paixão