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Centenário de Thales Ramalho, o articulador da redemocratização do Brasil, é documentado em livro


Por Blog da Folha


Capa do Livro "Thales Ramalho: Política, Diálogo e Moderação - 100 anos - Divulgação

Em tempos nos quais o livre pensar era vigiado, a habilidade de um político brasileiro foi peça fundamental na redemocratização do País. Com sua postura conciliadora, firme, mas moderada, o então deputado federal Thales Ramalho, nascido na Paraíba, mas enraizado em Pernambuco, foi um grande articulador entre oposição e governo ao longo das difíceis décadas da ditadura militar no Brasil. O seu senso de justiça, a sua empatia e o seu respeito a todas as pessoas foram características documentadas pela imprensa e reconhecidas pela classe política da época, que consagrou Thales Ramalho como um dos principais articuladores do resgate da democracia, ao lado de Tancredo Neves e Ulysses Guimarães.


Nascido em João Pessoa, em 1923, o deputado federal por cinco mandatos morreu em 2004, no Recife. O livro “Thales Ramalho: Política, Diálogo e Moderação – 100 anos”, cuja pesquisa minuciosa e detalhada é de autoria do escritor e jornalista pernambucano Cícero Belmar. Era um sonho que fazia parte dos planos do deputado, que nunca conseguiu realizar. Por anos Thales colecionou memórias, recortes de jornais e arquivos pessoais numa espécie de dossiê da própria atuação durante sua jornada política. Agora, em celebração à data em que completaria 100 anos, o livro se materializou em sua homenagem, como uma forma que sua filha Ana Clara encontrou para realizar o antigo desejo do pai.

Com revisão de conteúdo do jornalista Ítalo Rocha e de Ana Clara, projeto gráfico assinado pelo designer Luiz Arrais, o livro conta com documentos do Congresso Nacional, do Tribunal de Contas da União, da Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco, da Fundação Getúlio Vargas e da Biblioteca Nacional. Foram analisados cerca de 90 mil documentos o que resultou nas 300 páginas deste trabalho de resgate da história brasileira, a partir da biografia de um homem essencial no jogo político entre os anos de 1964 e 1985.

De forma não linear, o livro faz uma viagem de idas e vindas por entre a vida de Thales Ramalho, revisitando momentos que foram cruciais para a abertura política no País. A história começa a ser contada pelo casamento da sua filha, Ana Clara, prestigiado evento que reuniu a Nova República no dia 1° de março de 1985, no Recife, com a presença de importantes figuras políticas, como o governador de Pernambuco, Roberto Magalhães; o banqueiro e cotado a futuro ministro, Olavo Setúbal; o presidente do PMDB de Pernambuco, Marcos Freire; o sociólogo Gilberto Freyre; o governador de Minas Gerais, Hélio Garcia; e o próprio Tancredo Neves, que foi eleito pelo Colégio Eleitoral e cuja posse como primeiro presidente civil desde o golpe militar de 1964 estava marcada para dali a 14 dias. Ou seja, os principais representantes da nova fase política brasileira.

Rebobinando a linha do tempo, diversos foram os fatos políticos que marcaram a vida do ex-deputado federal. O que une todos os pontos dessa costura é a inaceitação por parte de Thales ao regime militar e a todas as graves opressões características de um governo autoritário. Conciliador e diplomata nato, a arma do ex-deputado não feria, era na base do diálogo e da articulação entre as duas partes: oposição e situação. No livro, há um depoimento do ex-presidente José Sarney atestando que Thales foi um dos grandes mentores da redemocratização no Brasil. Sarney assumiu a presidência em março de 1985 enquanto ainda aguardava o restabelecimento de Tancredo Neves, eleito, mas que na véspera da posse apresentou um quadro de diverticulite e não tomou assumiu, falecendo no dia 21 de abril de 1985.

Um contratempo na vida de Thales foi quando em 1972 ele sofreu um AVC que paralisou todo o seu lado esquerdo. Em 1976, ao sofrer um acidente de trânsito Thales teve sua mobilidade comprometida. Por experiência própria, Thales sentiu a necessidade do desenvolvimento de políticas públicas voltadas para o acolhimento e para a assistência a deficientes físicos. Em seus mandatos como deputado federal, fez história na vida de muitas pessoas que estavam desassistidas e excluídas por imposição das barreiras sociais causadas pela deficiência física. Um exemplo foi a apresentação da Emenda Constitucional número 12, a qual assegurou aos deficientes a melhoria das condições social e econômica, com aprovação rápida no Congresso Nacional e aplaudida por toda a imprensa.

Além da emenda constitucional número 12, Thales apresentou e aprovou projetos de lei que melhoraram a qualidade de vida dessas pessoas. Um fato emblemático que mostra a importância simbólica e efetiva do ex-deputado para esse público foi quando ele recebeu o título de Cidadão do Recife, na Câmara dos Vereadores. A jovem Sônia Maria Cavalcante, com deficiência física no braço, entregou a Thales uma toalha que ela mesma confeccionou, emocionando a todos os presentes no plenário.

Entre as várias fases e dinâmicas que marcaram aquele período, o livro também revela que o apartamento de Thales Ramalho em Brasília era o lugar onde os políticos de oposição se encontravam para traçar os planos estratégicos de luta contra a ditadura. Participavam desses encontros, Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, quem Thales considerava um grande amigo, entre outras lideranças políticas.

A eleição indireta para presidente em 1974, entre Geisel, da Arena, e Ulysses Guimarães, do MDB, partido o qual Thales Ramalho ajudou a fundar, foi uma importante linha de combate à ditadura. Durante a campanha, o MDB defendia bandeiras relevantes como a luta pela anistia e por futuras eleições diretas para presidente.

Thales sempre foi um dos principais incentivadores da anistia, em uma fase em que muitos brasileiros contrários ao regime militar estavam no exílio, como Luís Carlos Prestes, Leonel Brizola, Miguel Arraes e Gregório Bezerra. O deputado federal em suas viagens a Nova York, onde fazia exames e tratava da sua saúde, recebia Brizola, que o visitava no hospital para falar das estratégias políticas. Em 22 de agosto de 1979, foi votada a Lei da Anistia, permitindo parcialmente que os exilados voltassem ao Brasil desde que não fossem da luta armada. Em um segundo momento, todos que estavam fora do país foram anistiados por meio de outros recursos jurídicos.

Peça-chave também no movimento contra o bipartidarismo, que se concentrava na Arena e no MDB, Thales Ramalho foi um entusiasta do projeto de lei da reforma partidária, que virou lei em 20 de dezembro de 1979. O marco é considerado por muitos como o fim da ditadura militar no Brasil, que de fato só foi extinta seis anos depois. Com o fim do bipartidarismo e com o ressurgimento do pluripartidarismo, Thales Ramalho, Tancredo Neves, um grupo de arenistas de tendência liberal e um grupo de emedebistas moderados fundaram um novo partido, o Partido Popular (PP), definido por Thales como “reformista, nacionalista e democrata, adepto da livre iniciativa”. Uma das principais bandeiras do PP era a realização de eleições diretas em todos os níveis.

Após dez anos de luta para ver o amigo Tancredo Neves na presidência, o que não aconteceu devido à fatalidade da sua morte, Thales Ramalho, em 1986, com 62 anos, encerrou a sua carreira parlamentar. O político aceitou o novo desafio de ser ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), tomando posse no dia 19 de fevereiro. Com Sarney já na presidência, Thales aceitou o convite para ser seu assessor especial.

Em 2001, Thales sofreu um novo AVC que afetou a sua capacidade de falar e o confinou em sua residência no Recife, lúcido, mas com dificuldade de se expressar. No dia 15 de agosto de 2004, faleceu em decorrência de uma parada cardiorrespiratória, deixando a esposa, uma filha e duas netas.

O livro é uma obra-prima de resgate e registro histórico, e uma importante fonte de consulta para as diversas áreas - social, política, histórica, antropológica, da comunicação. Atenderá interesses de políticos, jornalistas, intelectuais, artistas, acadêmicos e pesquisadores de forma geral. 

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