Luiz Gonzaga à cavalo. Foto: Reprodução
Não fossem algumas oportunas intervenções do acaso, teria sido Luiz Gonzaga mais um itinerante tocador de fole, sucessor do talento de um habilidoso consertador de sanfona, o “velho Januário”, nas paragens de Exu e redondezas.
Essa expectativa absolutamente natural iria, contudo, ganhar novos rumos a partir de 1930. É que Luiz Gonzagga enamora-se de Nazarena, filha de Raymundo Delgado, de prestigiada família do tronco dos Saraiva.
Em vista d arraigados preconceitos de parte da família da moça, o namoro – que se manifesta quando ainda eram crianças – praticamente se sustenta à distância. Todavia, Luiz Gonzaga está verdadeiramente apaixonado e quer casar. Quem sabe, seja recebido de braços abertos pelos pais da jovem? Ledo engano. Assim Raymundo Delgado imediatamente reage ao que considera autêntica insolência:
“Eu não tenho filha para se casar com um sanfoneiro de meia-tigela. Vou-me entender com esse molequinho “fulejo”.
Luiz Gonzaga sente-se magoado pelas preconceituosas ofensas. No entanto, apenas uma quicé, “Arma fuleja, pequena e sem futuro”, é do que dispõe para materializar as imagens que o açoitam: uma contenda de homem para homem com o pai da namorada. Claro! Também algumas doses de aguardente pura, “pra criar mais coragem”, justifica. Nas calçadas da feira, em plena Exu, frente a frente com Raymundo, o tom grave nas palavras e formalidade inquisitória ajudam-no a dissimular o corado rosto, mas de repulsa de que medo:
“O sinhô tá dizendo por aí que ei não presto pra se casar com sua filha? Que eu sou um molequinho “fulejo”?
Gonzaga, porém, não consegue disfarçar as faíscas de incontidos ressentimentos logo pressentidos pela rusticidade do calejado Raymundo.
“Mas o quê?! Isso tudo não passa de invenção dessa canalha. Não acredite nessas histórias. Logo você, que vi nascer, filho de Januário e Santana, que é quase uma pessoa da minha família?”
Luiz Gonzaga supõe-se o senhor de todas as coragens, euforia que o leva a fanfarronar.
Continua...
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