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Miguel de Lira: Homem calado e valente - Parte II

HOMEM CALADO E VALENTE


Entre os municípios de Ouricuri e Araripina (PE), às margens do açude público do Julião, ao pé da Serra do Inácio, há uma pequena propriedade onde quem por ali passar poderá ver os indícios de antiga existência de uma casinha do campo, tendo ao lado um pequeno barreiro e o início de uma “broca” para fundação de roça, um pouco mais adiante, no rumo da Serra, em uma casa de tijolos, reside um homem solitário, é dele o terreno onde se encontra a broca e o barreiro, era dele a casinha que ali existia. Sua simplicidade, sua camisa grudada ao corpo por efeito do suor, tudo nele indica o homem do campo que é, tudo, menos os olhos. Seu olhar é o mesmo olhar do animal perseguido, que espera a qualquer momento se defrontar com o caçador, é um olhar formado em constante vigília, treinado no observar a todo estranho que dali se aproximar, para poder disntinguir um amigo de um inimigo, pois isso poderá significar a vida ou morte; o nome desse home é Miguel de Lira. Nome temido e admirado no interior dos dois municípios as estórias que se contam a seu respeito já o transformam em um novo herói caboclo.


A irmã de o cunhado – D. Olinda e Antônio J. Pinheiro (Tôtô)

A VIAGEM PERIGOSA

A esse homem REGIÃO foi visitar, conhecer o seu refúgio, e ouvir dele a versão correta dos fatos, a fim de poder entrega-lo ao grande júri da opinião pública, para que se responda se Miguel de Lira é inocente ou culpado.

Saímos de Araripina em um domingo pela madrugada, para o Distrito de Nascente, nesse município, dinstante 42 quilômetros da sede, esperando encontrar ali alguém que nos orientasse na viagem que pretendíamos fazer. A maioria das pessoas a quem nos dirigimos classificaram de impossível a nossa chegada até a casa de Miguel de Lira, pois, dado à maneira como ele vinha sendo tratado, ele não iria facilitar com os estranhos e podia-se esperar um tiro, pois ele atiraria com certeza, ou então não se deixaria ver, fugiria à nossa aproximação; outras informações diziam o contrário, que não haveria perigo, que ele jamais daria o primeiro tiro: que ele era homem tão somente do trabalho que apenas se defendia dos que os atacavam. 

Bem, de qualquer maneira a viagem iniciada teria que chegar a um resultado, e foi considerando mais as informações que indicavam Miguel de Lira como um bom elemento, e tendo a ajuda, que se tornaria preciosa, do Sr. José Cordeiro e Silva, conhecido por Joseli, que se dispôs a nos servir de guia, que continuamos na meta de realizar a tarefa, adicionando à nossa caravana o guia Joseli, e à nossa bagagem informações dignas de crédito, prestadas sobre tudo pelos senhores, Manoel Cordeiro (Nequinho) e Antônio Gomes Cordeiro (Toinzinho). 

Seguimos de Nascente ao Sítio Bonito, onde residem uma irmã e um cunhado de Miguel de Lira, Dona Olinda e seu esposo Antônio Jorge Pinheiro de Souza (Totô), ali, à sombra da hospitalidade desse casal, muita coisa que iria servir de subsídio para a conclusão dessa reportagem, pois como pudemos constatar depois, o simples entendimento com ele, Miguel, não seria suficiente, pois ele é antes de tudo um homem calado. A nossa presença na residência do Sr. Tôtô atraiu muita gente, como sempre ocorre no campo, quando há presença de estranhos, e foi assim que ficamos sabendo da maioria dos fatos que aqui relataremos, também ouvimos palavras desencorajantes, o que viria aumentar a nossa tensão e dar mais sabor à viagem. 

Partindo de Bonito, agora uma nova presença, a do “seu Tôtô”, fomos até o Julião, onde deixamos o carro, e dali, munidos apenas da máquina fotográfica, fizemos a pés a caminhada final que nos poria defronte com Miguel de Lira. Após 6 quilômetros do local onde deixamos o carro, nos encontramos no ponto objetivado, chegamos a uma casa de tijolos, onde, calmamente, no cômodo da frente, um homem servia um caneco d’água. Era Miguel de Lira. Na sala onde ele estava podia-se ver um embornal de caça dependurado na parede, uma rede armada, um pote de barro para água, uma cuia com um punhado de feijão cru, um punhado de sal em papel, um pouco de farinha, algumas rapaduras agresteiras, uma panela, um prato, uma colher, mais nada, nenhuma cadeira, nem mesmo um caixão onde pudesse sentar: no que acabamos de descrever consistira toda mobília e provisão do camponês e refúgio temido de Miguel de Lira, o proscrito.

Miguel de Lira e o Repórter Francisco Rocha

Calmo, ou aparentemente calmo, ele nos atendeu a considerável distância, hesitando um pouco em nos convidar a entrar, o que só após as apresentações por Joseli e seu “Tôtô”, então Miguel de Lira nos ofereceu a sombra de sua casa, a sua rede, a sua água. Homem de poucas palavras quase nada nos contou, apenas confirmou aquilo que ouvíamos de terceiros, e que já sabíamos de cor. Fora de casa o sol torrava.

Fonte: Revista Região - Fevereiro de 1972

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