Author,Vinícius Lemos
Role,Da BBC News Brasil em São Paulo
A rede social BlueSky ganhou um milhão de novos usuários brasileiros nos últimos três dias, em meio ao impasse que culminou na suspensão do X (antigo Twitter) no Brasil na sexta-feira (30/8).
A plataforma informou, em nota à BBC News Brasil, que está com uma alta taxa de crescimento de novos usuários ao longo dos últimos dias.
"Brasil, você está estabelecendo novos recordes de atividade no Bluesky!", anunciou a plataforma na sexta.
A Bluesky (céu azul, em tradução direta) foi idealizada pelo mesmo criador do Twitter, Jack Dorsey, em 2019. Na época, era um projeto interno do Twitter, mas em 2021 se tornou uma plataforma independente.
Atualmente, a responsável pela empresa é a executiva Jay Graber e a "equipe Bluesky", segundo detalha o perfil oficial da rede.
A plataforma é semelhante ao antigo Twitter, porque permite que os usuários façam publicações curtas (até 300 caracteres). Na rede também é possível compartilhar, fotos, textos e republicar postagens de outros usuários.
Desde o seu lançamento, a Bluesky considerou o Brasil como um país importante para a rede.
Quando o X foi vendido para o bilionário Elon Musk, em outubro de 2022, muitos usuários começaram a deixar a plataforma e migrar para outras redes semelhantes, como a Bluesky.
Em abril, quando teve início o imbróglio entre Musk e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), cerca de 100 mil brasileiros criaram contas no Bluesky, segundo divulgado pela plataforma. Na época já era cogitada a suspensão do X no país, diante dos frequentes ataques de Musk a Moraes e as recusas em atender aos pedidos judiciais no país.
Mas o recorde de novos usuários brasileiros na Bluesky ocorreu entre sexta-feira e sábado (31/8), após Moraes determinar a suspensão do X no Brasil.
Na quarta-feira (28/8), o ministro havia intimado Musk a indicar um representante legal no Brasil no prazo de 24 horas. Caso não cumprisse, a rede social seria suspensa no país.
Na decisão de sexta, Moraes argumentou que a postura adotada por Musk na rede social incentiva discursos extremistas e antidemocráticos. Além disso, o bilionário estaria obstruindo a Justiça ao não seguir determinações como bloqueio de perfis na rede social e ao deixar de apontar um representante legal no país.
O ministro do STF determinou que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) bloqueasse o X em todo o Brasil. No sábado (31/08), usuários de internet no Brasil já não conseguiam acessar a rede. Moraes fixou um prazo de até cinco dias para que todos os envolvidos na operação, incluindo empresas de telefonia e servidores, cumpram com o bloqueio da plataforma.
Logo após a decisão, Musk reagiu em sua conta no X. Disse que “a liberdade de expressão é a base da democracia e um pseudo-juiz não eleito no Brasil está a destruindo para fins políticos”.
O Brasil é o sexto maior mercado do X no mundo, com 21,5 milhões de usuários, segundo a plataforma global de dados e estatísticas Statista. O país só fica atrás de EUA, Japão, Índia, Indonésia e Reino Unido.
Sem o X, usuários brasileiras buscaram novas plataformas que se assemelham à rede de Musk.
Políticos, como o presidente Lula, e outras autoridades anunciaram suas contas em duas novas plataformas: a Bluesky e o Threads, da Meta.
Legenda da foto,Threads também se tornou alternativa após suspensão do X no Brasil
A Bluesky
Em nota à BBC News Brasil, a Bluesky informou que o número de novos usuários brasileiros "cresce a cada minuto" nas últimas horas e a plataforma bateu recorde de interações.
"O fluxo brasileiro também está estabelecendo novos recordes de atividade na rede, como o número de seguidores, curtidas etc. Estamos muito entusiasmados em recebê-los", disse a rede social, por meio de nota.
Atualmente, a Bluesky tem 7,3 milhões de usuários em todo o mundo.
A plataforma afirmou em nota que não possui dados detalhados das localizações de todos os usuários. Em razão disso, não divulga levantamento sobre quantos usuários da rede são brasileiros.
"Mas os brasileiros foram uma das primeiras comunidades a se juntar a nós", disse em nota.
A Bluesky afirma que modera ativamente as postagens com conteúdos indevidos, como assédio, discurso de ódio e fake news.
A plataforma afirma que conta com uma equipe global de moderadores e um time local se responsabiliza pela avaliação de postagens brasileiras.
No site oficial da Bluesky, uma das características que a plataforma menciona é o objetivo de oferecer autonomia aos usuários para que possam ter acesso a conteúdos baseados em assuntos que os interessem.
O Threads
Outra plataforma que também se tornou alternativa após a suspensão do X é o Threads.
O aplicativo parece quase idêntico ao Twitter: o limite de caracteres, a repostagem, o feed. É tudo bastante familiar.
Criado em julho passado, o Threads foi desenvolvido pela Meta, dona do Facebook e do Instagram, para concorrer com o X.
Em suas primeiras sete horas de funcionamento em julho passado, o aplicativo conseguiu dez milhões de usuários em todo o mundo.
Isso ocorreu em parte porque ele está conectado ao Instagram.
Uma funcionalidade do Instagram permite ao usuário, logo que ele se inscreve no Threads, a opção de "seguir todos" aqueles que ele já segue no aplicativo de fotos e vídeos.
Essa opção oferece uma lista de seguidores pronta — mas essa lista pode crescer à medida que os seguidores que você tiver no Instagram se inscreverem no Threads.
Como mostrou reportagem da BBC em julho passado, a Meta não estava criando um aplicativo do zero. A gigante de tecnologia se beneficiou de seus mais de 1 bilhão de seguidores no Instagram, que deram uma grande injeção de ânimo à nova empreitada.
E diante do bloqueio do X, muitas pessoas criaram ou voltaram a usar seus perfis no Threads.
A BBC News Brasil procurou a Meta para questionar sobre os números de novos usuários e interações nos últimos dias, a empresa porém não respondeu até a conclusão deste texto.
Bloqueio do X: 'Criminalizar acesso' e 'inclusão do Brasil no grupo de nações autocráticas'; o que a imprensa internacional disse
Legenda da foto,Artigo do Wall Street Journal repercute proibição do X no Brasil
Os dois principais jornais financeiros do mundo — o Wall Street Journal, de Nova York, e o Financial Times, de Londres — repercutiram a notícia do bloqueio da plataforma X (ex-Twitter) ordenada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, como parte de um inquérito sobre fake news no Brasil.
O Wall Street Journal publicou um texto no seu site neste sábado (31/8) com o título: "Brasil proíbe X, criminalizando o acesso ao aplicativo para milhões".
"Grandes camadas da direita política do Brasil ficaram do lado de Musk, acusando a Suprema Corte e o governo de esquerda do país de tentar silenciar os conservadores antes das eleições de outubro", escreveu o jornal.
"Musk depois suavizou sua posição, mas a batalha continuou crescendo com Moraes abrindo uma investigação sobre o bilionário por possível obstrução da justiça. Então veio o anúncio de X sobre o fechamento das operações no Brasil, o que não impediu as pessoas no país de acessar a plataforma."
O Financial Times, de Londres, também publicou uma reportagem sobre o assunto.
"A proibição do X colocaria o Brasil entre um grupo de nações autocráticas, como Coreia do Norte e Venezuela, que também proíbem a plataforma", diz o texto do jornal britânico.
"Moraes liderou uma repressão judicial contra a desinformação online, mas é uma figura controversa que divide opiniões no Brasil", diz o texto.
"Apoiadores dizem que ele ajudou a garantir a democracia diante dos ataques à confiabilidade do sistema de votação eletrônica do país pelo ex-presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2022. No entanto, os seguidores de direita de Bolsonaro alegam que o juiz restringe a liberdade de expressão e visa injustamente os conservadores."
Repercussões
A determinação de Moraes ocorreu após o X, empresa do bilionário Elon Musk, não atender à solicitação de Moraes de indicar um representante legal no Brasil.
No último dia 17 de agosto, Musk decidiu fechar o escritório do X no Brasil, em meio a pedidos de Moraes para suspender perfis de investigados em inquéritos no STF, com possibilidade de multa em caso de descumprimento.
Musk, que passou ele próprio a ser investigado no Supremo, tem rejeitado cumprir as decisões judiciais de Moraes por acusá-las de censura.
A notícia também foi repercutida na sexta-feira por outros veículos.
O jornal The New York Times destacou que "a plataforma ficará indisponível no país de 200 milhões de habitantes, resultado de uma briga crescente entre Elon Musk e um juiz sobre o que pode ser dito online".
O New York Times afirmou que a situação é "o maior teste até agora para os esforços do bilionário em transformar o local em uma praça digital onde quase tudo é possível".
A proibição do uso de VPN por usuários brasileiros que tentem acessar o Twitter, violação que pode acarretar em multa de R$ 50 mil segundo decisão de Moraes, foi caracterizada pelo jornal como "uma atitude bastante incomum".
O jornal argentino La Nación classificou Moraes como "um poderoso juiz" no título.
Já o jornal americano Washington Post destacou que a medida acontece após Musk se recusar a nomear um representante legal no Brasil.
Blog do Paixão