Ainda conforme o delegado Vinicius Araújo, as chamas estavam a cerca de 7 km da residência por volta das 12h. Após 40 minutos, o fogo chegou até as proximidades da casa e matou os quatro moradores.
Por Andrê Nascimento, g1 PI
Quatro pessoas da mesma família morrem queimadas em grande incêndio em Canto do Buriti, no Piauí — Foto: Reprodução
A tragédia que deixou quatro mortos em Canto do Buriti no domingo (13) foi ainda mais triste para Lucilene da Silva. Ela perdeu a mãe, o padrasto, um de seus irmãos e sua avó materna no incêndio que destruiu quilômetros de lavouras na comunidade Santa Clara, zona rural da cidade do Sul do Piauí. Lucilene contou ao g1 na segunda (14) que, há pouco mais de um mês, também perdeu o filho, de 23 anos, num acidente de motocicleta.
"Ainda nem melhorei do que passei, do meu menino, e já aconteceu isso em seguida", lamentou Lucilene.
O casal Ilda e Aido, mãe e seu padrasto de Lucilene, moravam com o filho, Erisvaldo, e estavam recebendo a visita da mãe de Ilda, Raimunda Nonata, desde sábado (12). Além de Lucilene e Erisvaldo, Ilda tinha ainda outros dois filhos: uma mulher que mora em São Paulo e um homem que vive em Teresina.
Ainda processando as perdas, Lucilene só pede que os culpados pelo incêndio sejam encontrados.
"Todos os anos, na seca, é desse jeito. Quando não é uma bagana de cigarro jogada na estrada é gente que começa o fogo de propósito, sabe? Tem que ir atrás desses que tocam fogo, para dar um ponto final nisso", disse Lucilene.
O casal Ilda e Aido e o filho Erisvaldo foram sepultados na noite de segunda-feira (14) em Canto do Buriti . Uma missa foi celebrada em homenagem a eles na Igreja Matriz Sant'Ana. Já Raimunda Nonata foi sepultada em Brejo do Piauí, onde morava. Eles não tiveram velórios.
Vítimas não acreditavam que fogo chegaria à casa
No domingo (13), durante o incêndio, o marido de Lucilene foi até a casa para convencer os sogros a irem embora. Mas eles decidiram permanecer na casa porque já haviam passado por incêndios antes.
"Há muito tempo passamos por isso. O fogo rodeia a casa, nunca chegou na casa deles. Então, eles confiaram. Se recusaram a sair. Eram gente de idade, com a cabeça dura" comentou a filha.
O fogo atingiu toda a comunidade Santa Clara e queimou diversas lavouras de banana, milho, matou animais de criação e de estimação e destruiu até apiários de produção de mel.
"Faz mais de 20 anos que moro aqui, e nunca teve um fogo como o de ontem [...] Eu tenho asma e estou ainda rouca, com dor de cabeça. Aqui na comunidade tem crianças doentes, adultos sofrendo por causa da fumaça", lamentou.
Família foi alertada sobre risco
A família foi alertada sobre o risco das chamas invadirem a propriedade, informou o delegado Vinícius Araújo ao g1. O fogo permanece na região e aeronaves foram enviadas de Teresina para tentar conter os focos. Veja orientações para residências em áreas de risco.
"O filho do proprietário já tinha tentado fazer a retirada do pai, mas ele se negou dizendo que ano passado também teve um incêndio com as mesmas proporções que não tinha chegado próximo da casa, e que esse ano também não ia acontecer", contou o delegado.
Ainda conforme o delegado Vinicius Araújo, as chamas estavam a cerca de 7 km da residência por volta das 12h. Após 40 minutos, o fogo chegou até as proximidades da casa e atingiu os 4 moradores, que morreram no local.
As vítimas foram identificadas como: Ilda Pinto da Silva, o marido Aido Pereira, o filho Erisvaldo Braz da Silva, de 39 anos, e a mãe de Ilda, Raimunda Nonato Vitorino Dos Santos, que estava visitando a família. Todas as vítimas eram adultas.
Comunidade ainda enfrenta incêndios
A comunidade Santa Clara ainda registra focos de incêndio nesta segunda-feira (14), segundo o Corpo de Bombeiros do Piauí (CBMEPI).
A expectativa dos bombeiros é extinguir as chamas completamente até, no máximo, terça-feira (15). Conforme a corporação, as pessoas que residem em áreas de risco devem desocupar as casas ou limpar uma boa área do terreno para que o fogo não se aproxime rapidamente.
Conforme o coronel Egídio Leite, comandante operacional do CBMEPI, o fogo está “menos agressivo” em relação ao domingo (13), quando as chamas se espalharam pela vegetação da comunidade. A corporação enviou equipes de Teresina e Floriano, além de um helicóptero da Polícia Militar do Piauí (PMPI), para auxiliar os brigadistas locais.
“Ainda há focos de incêndio porque tem muito material combustível, vegetação seca, e se propaga muito rápido, principalmente nas horas em que a temperatura está mais elevada. Dependendo de como vamos confrontá-lo hoje à tarde, esperamos extinguir [o fogo] até amanhã”, afirmou o coronel.
Os bombeiros aguardam o fim do combate para solicitar uma perícia no local e determinar tanto a origem do incêndio, quanto os prejuízos causados por ele. A Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), de Teresina, também está se dirigindo à comunidade para investigar o caso.
Como proteger residências
Para evitar que o fogo se alastre em situações semelhantes, o coronel Egídio Leite orientou que moradores de regiões rurais façam a limpeza dos terrenos de suas casas, sobretudo no segundo semestre do ano - marcado pelas altas temperaturas do B-R-O Bró.
“Pode ter vegetação seca próxima a sua casa e, diante de um incêndio como este, a casa pode até incendiar. Se não for desocupar a casa, limpe uma margem que dê segurança e impeça que o fogo chegue até a residência. Assim, ela será um local seguro para atravessar esse momento”, apontou o comandante do CBMEPI.
*Estagiária sob a supervisão de Maria Romero
Blog do Paixão