Governadora de Pernambuco está
com os dias contados no PSDB; evento de filiação está previsto para março,
depois do carnaval
Por: Guilherme
Anjos / Diário de Pernambuco
Rafael Vieira / Diário de Pernambuco
Após meses de especulação, a
governadora Raquel Lyra vai se filiar ao PSD em março, logo depois do carnaval.
O ato está previsto para o dia 10, e deve contar a presença de lideranças
nacionais, como o presidente nacional da legenda, Gilberto Kassab, e o
ministro da Pesca e Aquicultura do Governo Lula, André de Paula,
dirigente estadual da sigla.
Os acenos entre a governadora e o
PSD datam do ano passado. Lyra nomeou Cacau de Paula, filha de André de Paula,
como secretária estadual de Cultura, e filiou seu então secretário de Turismo e
Lazer, Daniel Coelho, ao partido para disputar a prefeitura do Recife. O apoio
a candidatura de Mirella Almeida (PSD) à prefeitura de Olinda e a
aliança com o antecessor, professor Lupércio (PSD), também sustentaram a
boa relação.
Em contrapartida, a relação entre
Lyra e PSDB foi enfraquecendo ao longo do último ano. A governadora não poupou
críticas à oposição ostensiva feita pelos tucanos ao presidente Lula (PT), de
quem Raquel tem se aproximado, e chegou a afirmar que a legenda “diminuiu de
tamanho” à nível nacional.
Na visão do cientista político
Hely Ferreira, a saída consolida o enfraquecimento do PSDB, em especial à nível
estadual, enquanto a governadora se beneficia com a desejada base do Governo
Lula, e o PSD ganha um ponto de partida sólido para crescer no Estado. Segundo
informações extraoficiais, inclusive, Raquel deve assumir a presidência
estadual do PSD.
“O impacto que causa é o
fortalecimento do partido em Pernambuco e, consequentemente, o enfraquecimento
do PSDB, que já não era tão forte no estado. Embora tenha feito prefeitos na
eleição passada, não é um partido com muita representatividade aqui, de modo
que o PSD sai ganhando muito mais”,
- avaliou.
Lealdades
Em Brasília, apenas 13 deputados
federais e três senadores são tucanos. Três governadores, incluindo Raquel,
também compõem os quadros do partido – todos cobiçados pela sigla de Kassab. Em
comparação, o PSD soma 44 parlamentares na Câmara e 15 no Senado, e elegeu o
maior número de prefeitos no país em 2024.
Na esfera estadual, entretanto,
os tucanos aparecem à frente, com 31 prefeituras conquistadas nas últimas
eleições e três deputados estaduais – apesar do presidente da Alepe, Álvaro
Porto ser adversário de Lyra. A representatividade do PSD no Legislativo
pernambucano é nula, e o partido fez uma dezena de executivos a menos.
A migração da governadora
colocará à prova a lealdade dos aliados de seus tempos de tucana, em especial
os gestores que ajudou a eleger com a máquina do Estado. Nos bastidores, a nova
especulação é de que Álvaro Porto deve assumir a presidência do PSDB assim que
Lyra se filiar ao PSD. Atualmente, o cargo é de Fred Loyo, indicado por Raquel.
Essa nova direção deve complicar
a vida do Palácio do Campo das Princesas no Legislativo, onde Raquel ficou
dependente de alianças pessoais e enfrenta uma oposição que domina a maioria
das comissões permanentes. Apesar de ter dois aliados tucanos – Débora Almeida
e Izaías Régis – nenhum dos líderes e vice-líderes do Governo na Casa José
Mariano pertence ao PSDB desde o início do novo biênio. Além disso, resta saber
se ambos os deputados vão dançar conforme a nova música do PSDB, ou seguir a
governadora.
“O presidente da Casa é
filiado ao partido dela e nunca andou de mãos dadas nesses dois anos de
Governo. Não ter nenhum correligionário como líder do governo dela mostra que a
relação não tem sido muito boa”,
- pontuou Hely Ferreira.
Se assumindo base do Governo
Lula, no entanto, a governadora pode garantir de vez o apoio da Federação da
Esperança (PT/PV/PCdoB), que já compõe o “blocão” governista.
Filiação
Apesar do PSD cravar o dia 10
como ato de filiação, o Palácio não descarta adiar para o dia 11 de março,
tanto para não chocar com o balanço do carnaval, apresentando os números de
segurança, turismo e retorno financeiro da folia, quanto para divergir as
atenções do prefeito João Campos (PSB) no aniversário de 490 anos do Recife com
uma demonstração de força política.
Para Hely Ferreira, entretanto, a
estratégia é arriscada. “O Governo deve ter cautela. Se o balanço pós-carnaval
não for satisfatório, ao invés de ser um glamour, o ato é um arranhão”,
afirmou.
Blog do Paixão