Donald Trump oficializou neste sábado (1º) seu plano de taxar em 25% importações do Canadá e do México e 10% da China.
Por BBC
O primeiro-ministro do Canadá anunciou já na noite de sábado a imposição de tarifas de 25% sobre US$155 bilhões em produtos americanos — Foto: REUTERS/Patrick Doyle
Logo após a assinatura da ordem
que confirmou a imposição
de tarifas sobre importações canadenses, mexicanas e chinesas para
os Estados
Unidos, os governos
de Justin Trudeau e Claudia Sheinbaum se pronunciaram prometendo
responder com taxas próprias.
Este poderia ser o início de uma
"guerra comercial muito destrutiva", de acordo com Paul Ashworth, da
consultoria Capital Economics.
Donald Trump oficializou neste
sábado (1º) seus planos e anunciou tarifas de 25% sobre as importações
do Canadá e México para
os EUA e de 10% sobre os produtos da China.
Em resposta, o primeiro-ministro
do Canadá anunciou já na noite de sábado a imposição de tarifas de 25% sobre
US$155 bilhões em produtos americanos.
Segundo Trudeau, US$ 30 bilhões
entrarão em vigor na terça-feira (4), enquanto os US$ 125 bilhões restantes
serão aplicados em 21 dias.
O líder canadense afirmou ainda
que as tarifas afetariam uma variedade de produtos dos EUA, incluindo cerveja,
vinho, bourbon, frutas, sucos, roupas, equipamentos esportivos e
eletrodomésticos.
"Não queremos estar aqui,
não pedimos por isso. Mas não recuaremos na defesa dos canadenses" e
da parceria de sucesso entre o Canadá e os EUA, disse Trudeau, que admitiu que
as próximas semanas não serão fáceis para nenhum dos dois países.
Já a presidente do México, Claudia Sheinbaum,
afirmou em uma postagem na rede social X (antigo Twitter) que instruiu seu
secretário da Economia a implementar "medidas tarifárias e não
tarifárias em defesa dos interesses do México".
A chefe de Estado mexicana não
detalhou as medidas, mas criticou a decisão de Donald Trump. "Não é
impondo tarifas que os problemas se resolvem, mas sim conversando e
dialogando", escreveu.
Já o governo chinês afirmou que
irá contestar as tarifas de Trump por meio da Organização Mundial do Comércio
(OMC).
A imposição de tarifas pelos EUA
"viola seriamente" as regras da OMC, disse o Ministério do Comércio
chinês em comunicado publicado neste domingo (2), que também pediu aos EUA que "se
envolvam em um diálogo franco e fortaleçam a cooperação".
Paul Ashworth, da Capital
Economics, explica que as exportações para os EUA representam cerca de
20% das economias do México e
do Canadá - e que essas tarifas podem mergulhar suas economias em uma
recessão.
As tarifas têm o potencial de
tornar os produtos desses países mais caros para os americanos, o que
significaria vendas e lucros menores para empresas mexicanas e canadenses.
Ashworth aponta ainda para a
probabilidade de a União Europeia (UE) também enfrentar tarifas dos EUA nos
próximos meses, o que provavelmente levaria a consequências semelhantes.
Trump já havia prometido
anteriormente impor tarifas à UE, mas não fez nenhum anúncio a respeito
na noite de sábado.
Inflação e juros
O analista da Capital Economics
também alerta que os preços mais altos que as empresas e os
consumidores dos EUA enfrentam aumentarão a inflação, e isso significaria
que a janela para mais cortes nas taxas de juros dos EUA nos próximos 12 a 18
meses "simplesmente se fechou".
Antes mesmo do anúncio oficial de
Trump sobre as novas tarifas, o Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, já
havia interrompido o corte dos juros do país.
O Fed iniciou o ciclo de queda em
setembro do ano passado, no primeiro movimento para baixo desde 2020. Desde
então, haviam sido três cortes seguidos até dezembro.
Um custo maior de empréstimos
provavelmente reduzirá os padrões de vida dos consumidores dos EUA e tornará as
empresas mais relutantes em investir no futuro, diz Ashworth.
Também prejudicará os governos e
qualquer outra pessoa ao redor do mundo que tome dinheiro emprestado em dólares
americanos.
'Ameaça do fentanil'
Donald Trump disse que ter
assinado a ordem que impõe as novas tarifas "por causa da grande
ameaça de imigrantes ilegais e drogas mortais que estão matando nossos
cidadãos, incluindo o fentanil".
Falando especificamente sobre
o México, o
presidente americano disse neste sábado que a imposição de tarifas continuará
até que o país "coopere com os Estados Unidos na
luta contra as drogas", alegando que os grupos de narcotraficantes
"colocam em risco a segurança nacional e a saúde pública" do país.
Os
cartéis do narcotráfico "têm uma aliança com o governo do México",
acusou a Casa Branca.
Em um post na rede social X, o
governo americano também chegou a incluir a China ao relacionar o problema com
a droga e as tarifas impostas, dizendo que o país asiático colabora
"ativamente com essa indústria".
"Rejeitamos categoricamente a calúnia da Casa Branca contra o governo mexicano de ter alianças com organizações criminosas, bem como qualquer intenção de intervenção em nosso território",
- escreveu.
"Se tal aliança existe em algum lugar, é nos arsenais dos Estados Unidos que vendem armas de alto poder para esses grupos criminosos, como demonstrou o próprio Departamento de Justiça dos Estados Unidos em janeiro deste ano."
Já Justin Trudeau, ao ser
questionado se acreditava que as tarifas dos EUA estão realmente motivadas pelo
desejo de reduzir o fluxo de fentanil para o país, disse que a fronteira
EUA-Canadá é "uma das fronteiras mais fortes e seguras do
mundo".
"Menos de 1% do fentanil que entra nos Estados Unidos vem do Canadá. Menos de 1% dos migrantes ilegais que entram nos Estados Unidos vêm do Canadá",
- disse, em uma coletiva de imprensa.
Trudeau afirmou ainda que
"isso não significa que não haja mais a fazer" sobre o tema, mas
acrescentou: "Essa ação comercial contra o Canadá não é a melhor maneira
de trabalharmos juntos para salvar vidas".
*Com reportagem de Jonathan Josephs, repórter de negócios da BBC
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