Crédito,Jefferson Rudy/Agência Senado
Legenda da foto,Fernando Collor em 2022, durante mandato no Senado; por ser parlamentar na época, ele foi julgado pelo STF
O ex-presidente da República e
ex-senador Fernando
Collor de Mello foi preso na madrugada desta sexta-feira em Maceió
(AL), quando se preparava para viajar a Brasília para se entregar à Polícia
Federal.
A prisão foi determinada pelo
ministro Alexandre
de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) na quinta-feira (24/4), após
esgotados os recursos no processo no qual o ex-presidente foi condenado por
corrupção passiva e lavagem de dinheiro, relacionados a um esquema de fraudes
na BR Distribuidora. A condenação impõe uma pena de oito anos e dez meses, a
ser cumprida inicialmente em regime fechado.
Segundo a defesa de Collor
afirmou ao portal O Globo, a detenção ocorreu por volta das 4h, enquanto ele se
deslocava espontaneamente para cumprir a decisão judicial. Ele deverá ser
transferido para Brasília, onde cumprirá a pena em regime fechado.
Nesta sexta-feira (25/04), o
ministro Gilmar Mendes levou ao plenário físico do STF o julgamento sobre a
prisão de Collor.
Até agora, quatro ministros
votaram pela manutenção da prisão pelo sistema virtual da corte, mas a decisão
final só será tomada quando o plenário físico voltar a se reunir, em maio.
Enquanto isso, Collor seguirá preso.
Em audiência de custódia também
nesta sexta, Collor pediu para permanecer no Estado de Alagoas citando sua
idade (75 anos) e comorbidades graves (Parkinson, apneia do sono grave e
transtorno afetivo bipolar).
Alexandre de Moraes concordou,
determinando que ele comece a cumprir pena em regime fechado na ala especial no
presídio Baldomero Cavalcanti de Oliveira, em Maceió.
"Em face de sua condição de ex-presidente da República, observo que o cumprimento da pena na ALA ESPECIAL do referido presídio, deverá ser em cela individual", determinou Moraes, cobrando a unidade a informar em 24 horas "se tem totais condições de tratar da saúde do custodiado".
A decisão
A ação pela prisão de Collor
ocorreu após Moraes rejeitar um segundo recurso da defesa do ex-presidente.
Na quinta-feira, a defesa do
ex-presidente disse receber a decisão "com surpresa e preocupação",
mas afirmou que Collor vai se apresentar para cumprir a pena.
Conforme a decisão desta quinta,
ficou provado na ação penal que Collor recebeu R$ 20 milhões para viabilizar
irregularmente contratos da BR Distribuidora com a UTC Engenharia para a
construção de bases de distribuição de combustíveis.
Ele teria contado com a ajuda dos
empresários Luis Pereira Duarte de Amorim e Pedro Paulo Bergamaschi de Leoni
Ramos.
"A vantagem foi dada em
troca de apoio político para indicação e manutenção de diretores da
estatal", informa o STF, sobre as bases da decisão.
Em novembro, o Supremo já havia
rejeitados outro recurso do ex-presidente, em que ele afirmava que a pena
imposta não correspondia ao voto médio discutido pelo plenário do STF no
julgamento que resultou em sua condenação.
Naquele julgamento, o tamanho da
pena (dosimetria) foi objeto de intenso debate entre os ministros. Foram
apresentadas quatro propostas diferentes e o plenário do STF teve dificuldade
em chegar a um denominador comum.
Mas, ao rejeitar o recurso, a
Corte manteve por maioria a pena de oito anos e dez meses de prisão. Ficaram
vencidos os ministros Gilmar Mendes, Dias Toffoli, André Mendonça e Kassio
Nunes Marques.
No novo recurso, a defesa de
Collor alegava que, em relação ao tamanho da pena, deveriam prevalecer os votos
dos ministros vencidos na decisão anterior. Alexandre de Moraes, no entanto,
rejeitou o argumento.
O ministro destacou ainda que o
STF tem autorizado o início imediato da execução da pena, independentemente de
publicação da decisão, "quando fica claro o caráter protelatório de
recursos que visem apenas impedir o trânsito em julgado da condenação".
Em sua nota, a defesa de Collor
rechaçou o argumento de Moraes de que os recursos teriam caráter protelatório,
dizendo que a maioria dos membros da Corte teria reconhecido o cabimento destes
recursos.
Os advogados do ex-presidente
ressaltaram ainda o caráter monocrático da decisão do ministro, dizendo que
"tais assuntos caberiam ao Plenário decidir, ao menos na sessão plenária
extraordinária já designada para a data de amanhã".
Na decisão desta quinta, Moraes
também rejeitou recursos dos outros condenados.
Com isso, ele determinou o início
do cumprimento das penas de Pedro Paulo Bergamaschi de Leoni Ramos, sentenciado
a quatro anos e um mês de reclusão, em regime inicial semiaberto, e das penas
restritivas de direitos impostas a Luís Pereira Duarte Amorim.
Crédito,Gustavo Moreno/STF
Legenda da foto,Em novembro de
2024, maioria dos ministros decidiu manter pena totalizando 8 anos e 10 meses
contra Collor
Entenda o caso
Collor, hoje com 75 anos, foi
condenado em um processo derivado da Operação Lava Jato,
que tem como base uma denúncia apresentada em 2015 pela Procuradoria-Geral da
República (PGR).
O caso foi julgado pelo STF
porque, quando passou a responder à ação, Collor era senador.
Entre outras acusações, a PGR
apontou que Collor, com a ajuda dos outros dois empresários condenados na ação,
favoreceu a UTC Engenharia em contratos com a BR Distribuidora, recebendo para
isso R$ 20 milhões.
Com seu poder político, Collor
teria influenciado nas indicações à diretoria da BR Distribuidora e facilitado
a negociação de contratos.
Boa parte das evidências do
processo foram reveladas por delatores da Operação Lava Jato, como o doleiro
Alberto Youssef, um dos primeiros a aderir à delação premiada durante as
investigações.
Oriundo de uma das famílias mais
tradicionais da política alagoana, Collor foi eleito presidente em 1989, nas
primeiras eleições diretas à Presidência da República após a ditadura militar
(1964 -1985).
Após uma crise econômica e
política, foi instaurado um processo de impeachment contra ele.
Diante da possibilidade de ter
seu afastamento confirmado e seus direitos políticos cassados por oito anos,
Collor renunciou em dezembro de 1992. Apesar disso, o Senado aprovou o
impeachment e cassou seus direitos políticos temporariamente.
Com informações de Leandro
Prazeres, da BBC News Brasil em Brasília, e de Mariana Alvim, da BBC News
Brasil em São Paulo.
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