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“Experience” de alunas que zombaram paciente no Incor custa R$ 8,5 mil

Estudantes que fizeram vídeo expondo paciente que realizou três transplantes cardíacos pagaram para fazer imersão no Hospital da USP


Alfredo Henrique

São Paulo – As duas estudantes que compartilharam um vídeo debochando da condição clínica de uma paciente que realizou três transplantes cardíacos fizeram o registro durante uma experiência comercializada, no valor de R$ 8.450, pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP).

O programa Experiência HCFMUSP é destinado a estudantes de medicina de outras instituições para que eles acompanhem a rotina da disciplina escolhida “dentro do maior complexo hospitalar do país”. A imersão pode durar até três meses, caso sejam pagos os R$ 25.350 cobrados para isso.

Alunos regulares da USP criticam a iniciativa, afirmando que ela promove “alguns problemas”, como a exposição da paciente do Instituto do Coração (Incor) Vitória Chaves da Silva, de 26 anos, feita em um vídeo compartilhado no TikTok, 11 dias antes de ela morrer, por Gabrielli Farias de Souza e Thaís Caldeira Soares Foffano, pagantes do programa.

“Alguns problemas”

Um aluno do 3º ano de medicina da USP e um dos diretores do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz, que representa os estudantes da instituição pública, afirmou ao Metrópoles que não há garantias de que os alunos de outras faculdades sejam monitorados quando fazem visitas a pacientes nos quartos, por exemplo.

Isso ocorre, segundo o jovem, que preferiu não ser identificado, pelo fato de a diretoria da USP separar os alunos do programa dos estudantes “da casa”. “Também houve casos em que, durante práticas de cirurgia, os alunos de fora ajudaram no procedimento e os ‘da casa’ [USP] ficaram somente olhando e fazendo anotações. Um professor disse que isso aconteceu, por ‘ordens de cima’, para priorizar os alunos pagantes”, destacou.

O programa, segundo o estudante, divide opiniões até do corpo docente.

“Há professores contra o programa, mas eles não se posicionam para não serem prejudicados. Os que são favoráveis o são porque os laboratórios, ou projetos, recebem dinheiro proveniente dos pagamentos do programa.”


Foto tirada logo após o primeiro transplante de Vitória, quando ela tinha 6 anos


Foto de Vitória pouco antes do primeiro transplante, aos 6 anos


Foto tirada em 2016, após o segundo transplante de coração de Vitória


Mãe e filha no Instituto do Coração em São Paulo


Vitória aguarda pelo terceiro transplante de coração

“Falta transparência”

Gabrielli e Thaís, as alunas que compartilharam o vídeo comentando o caso de Vitória, participavam do programa da USP, pagando para fazer estágios, incluindo no Instituto do Coração (Incor). Gabrielli é aluna regular da Universidade Anhembi Morumbi, de São Paulo, cuja mensalidade é R$ 12.979. Thaís cursa medicina na Faculdade da Saúde e Ecologia Humana (Faseh), em Belo Horizonte. A mensalidade da instituição custa R$ 12.442.

A exposição do caso Vitória, feita por ambas, foi usada como exemplo por Gabriel.

“Não sabemos o que os alunos do programa fazem. Esse caso [da Vitória] veio à tona porque repercutiu, mas desconfiamos que ocorram mais falhas éticas que acabam abafadas. Falta transparência sobre a conduta desses estudantes de fora, por parte da diretoria.”

O programa começou oficialmente em 2023 e, no ano seguinte, resultou em uma greve dos alunos da medicina da USP, que durou dois meses. A paralização, porém, não interrompeu o Experiência HCFUSP.

O que diz a USP

A Faculdade de Medicina da USP afirmou, em nota encaminhada à reportagem, que o programa Experiência HC é um curso de extensão oficial da instituição, de curta duração, “voltado para estudantes externos”. O objetivo, acrescentou, é oferecer conhecimento técnico-científico e prático “que permeia o Hospital das Clínicas”.

“As atividades são realizadas em ambientes distintos dos espaços de prática dos alunos de graduação da FMUSP, sem sobreposição de casos ou pacientes.”

A instituição ainda disse que, da mesma forma que os alunos “da casa”, os estudantes de fora vivenciam a prática clínica “sempre sob supervisão” e também “em conformidade com normas éticas e institucionais”.

Questionada sobre medidas tomadas no caso de Gabrielli e Thaís, a USP afirmou que “condutas inadequadas são apuradas com rigor”, sem especificar como.

O que dizem as estudantes

As estudantes Gabrielli Farias de Souza e Thaís Caldeira Soares Foffano se posicionaram sobre o caso na tarde de quarta-feira (9/4). Em nota de defesa, as estudantes afirmam que o conteúdo divulgado no TikTok “teve como única intenção expressar surpresa diante de um caso clínico mencionado no ambiente de estágio”.

As alunas disseram ainda que a raridade da situação despertou a “curiosidade acadêmica” e as fez refletir sobre aspectos técnicos inéditos, proporcionados pela condição clínica de Vitória.

Gabrielli e Thaís não tiveram acesso ao prontuário da paciente, segundo o comunicado. “Não sabíamos quem era.” Além disso, ambas reforçaram não terem divulgado qualquer imagem da paciente.

As estudantes negaram “qualquer deboche ou insensibilidade”. “Nosso compromisso com a vida, a dignidade humana e os princípios éticos da medicina permanece inabalável”, ressaltaram.

Por fim, Gabrielli e Thaís manifestaram solidariedade à família de Vitória e afirmaram que estão tomando providências para esclarecer o caso e preservar suas integridades pessoais, acadêmicas e emocionais.  


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