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Associações e sindicatos são parte do esquema da fraude no INSS


Crédito,
Polícia Federal

Legenda da foto,A Operação Sem Desconto, deflagrada na quarta-feira (23/4), estima que o esquema envolva R$ 6,3 bilhões

O presidente nacional licenciado do PDT, Carlos Lupi, pediu demissão do cargo de ministro da Previdência na sexta-feira (2/5). O pedido foi aceito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e anunciado por Lupi e pelo Palácio do Planalto em notas divulgadas no final da tarde. Em seu lugar, ficará o secretário-executivo da pasta, o ex-deputado federal Wolney Queiroz (PDT-PE).

A demissão de Lupi é o episódio mais recente do caso envolvendo suspeitas de fraudes no Instituto Nacional do Segudo Social (INSS), vinculado ao Ministério da Previdência. Segundo investigações da Polícia Federal, o esquema teria resultado no desconto de pelo menos R$ 6,3 bilhões de pensões e aposentadorias.

Os recursos seriam destinados a associações que, segundo as investigações, teriam fraudado assinaturas de aposentados e pensionistas para realizar descontos nos vencimentos dos beneficiários. O valor total da fraude ilegais ainda não está claro. O esquema teria funcionado entre 2019 e 2024.

Na quarta-feira (23/4), Alessandro Stefanutto já havia sido demitido do cargo de presidente do INSS após ser alvo de uma operação da PF e da Controladoria-Geral da União (CGU).

A exoneração foi assinada pela ex-ministra Miriam Belchior, atual secretária-executiva da Casa Civil do governo. O ministro titular, Rui Costa, está de férias.

"O presidente demonstrou preocupação de interesse com relação a tudo o que ocorreu e pediu detalhes", disse o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, durante coletiva de imprensa na manhã da quarta.

Na quinta-feira (24/4), ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Vinicius Marques de Carvalho, anunciou que o governo vai suspender todos os descontos mensais feitos por associações e sindicatos na folha de pagamento de aposentados e pensionistas do INSS.

Já a diretora de Orçamentos e Finanças e Logística do INSS, Débora Floriano, afirmou que o instituto vai elaborar um plano para devolver os valores cobrados de forma indevida, mas como a devolução será feita ainda dependerá de dimensionar o tamanho da fraude.

"Nós traremos oportunamente um plano onde serão abordadas, tratadas todas as informações, para, em seguida, em uma força-tarefa conjunta, promovermos o integral ressarcimento dos valores irregularmente descontados dos nossos segurados", disse Floriano, em coletiva de imprensa no Palácio do Planalto.

Carvalho disse, porém, que não há prazo para o ressarcimento, porque o governo precisa fazer um pente-fino em todos os descontos.

"Não tem como dar prazo para quando aposentados descontados ilegalmente serão restituídos. Aqueles aposentados que tiveram ilegalmente os descontos, nós, governo federal, vamos garantir a restituição", declarou o ministro da CGU.


Crédito,
INSS

Legenda da foto,O presidente do INSS, Alessandro Stefanutto

O esquema

Segundo a PF e a CGU, aposentados e pensionistas do INSS eram vítimas de um esquema de descontos indevidos em seus benefícios.

As cobranças, feitas por associações e sindicatos, muitas vezes ocorreram sem a autorização dos segurados.

A Operação Sem Desconto, deflagrada nesta quarta, estima que o esquema envolva R$ 6,3 bilhões em descontos, entre valores legais e ilegais, no período de 2019 a 2024.

"É uma operação de proteção aos aposentados", disse Lewandowski.

Entre os investigados estão seis servidores públicos, incluindo Stefanutto, que também é filiado ao PDT e foi indicado para o cargo em julho de 2023 pelo agora ex-ministro Carlos Lupi. Antes disso, atuava como diretor de Orçamento, Finanças e Logística da autarquia.

Foram cumpridos 211 mandados de busca e apreensão, sequestro de bens e prisão temporária em 13 estados e no Distrito Federal.

A Justiça também determinou o sequestro de bens no valor de mais de R$ 1 bilhão. Entre os itens apreendidos estão carros de luxo avaliados em até R$ 15 milhões — incluindo Ferraris e um Rolls-Royce —, joias e mais de US$ 200 mil em espécie.

Cinco pessoas foram presas; uma estava foragida até a última atualização.

Os crimes apurados incluem corrupção ativa e passiva, organização criminosa, falsificação de documentos, violação de sigilo funcional e lavagem de dinheiro.


Crédito,
Getty Images

Legenda da foto,Esquema de fraude registrava aposentados e pensionistas como membros de associações de aposentados sem consentimento

O esquema consistia em registrar aposentados e pensionistas como membros de associações de aposentados sem seu consentimento.

Com isso, mensalidades passavam a ser descontadas diretamente dos benefícios, simulando filiações que nunca ocorreram.

De acordo com o ministro da CGU, Vinícius de Carvalho, algumas dessas associações ofereciam supostos serviços como consultoria jurídica e descontos em academias e planos de saúde — sem, no entanto, apresentar estrutura para tanto.

Em 70% dos casos investigados, as associações nem sequer apresentaram a documentação necessária ao INSS para justificar os descontos.

A CGU entrevistou cerca de 1.300 beneficiários; 97% afirmaram nunca ter autorizado qualquer desconto associativo.

A investigação

A investigação começou em 2023 dentro da CGU. Após a identificação de indícios de crimes, a Polícia Federal foi acionada e abriu 12 inquéritos.

Em 2024, a Justiça Federal autorizou medidas como prisões provisórias e apreensões de carros de luxo, joias, obras de arte e dinheiro vivo.

Segundo as autoridades, o esquema se intensificou a partir de 2019, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), e atingiu os maiores volumes financeiros em 2022, após uma instrução normativa que facilitou os descontos associativos.

Em paralelo, a Polícia Civil de São Paulo e o Gaeco investigam o envolvimento de cinco associações no estado, a partir de uma ação judicial movida por uma aposentada do litoral paulista.

Há suspeitas de uso de "funcionários laranjas" e movimentação de milhões de reais por mês.

Quem mais foi afastado?

Além de Stefanutto, outros cinco servidores foram afastados:

  • Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, procurador-geral do INSS
  • Giovani Batista Fassarella Spiecker, coordenador-geral de Suporte ao Atendimento
  • Vanderlei Barbosa dos Santos, diretor de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão
  • Jacimar Fonseca da Silva, coordenador-geral de Pagamentos e Benefícios
  • Um policial federal, suspeito de dar suporte ao grupo, cujo nome não foi divulgado

A participação de cada agente ainda vai ser investigada.

"Isso ainda não está muito claro. O que nós temos, por enquanto, é um afastamento cautelar determinado pela Justiça de determinados servidores do INSS, da cúpula do INSS", disse Lewandowski.

Como saber se há desconto ilegal?

Até agora, 11 entidades são alvos de medidas judiciais. Dos cerca de 30 grupos com permissão para realizar esse tipo de cobrança, 13 estão sendo investigados.

Os Acordos de Cooperação Técnica (ACT) dessas entidades associativas foram suspensas.

O governo recebeu mais de 190 mil pedidos de revisão de descontos de aposentados em 2024.

Os aposentados e pensionistas que identificarem desconto indevido de mensalidade associativa no extrato de pagamentos (contracheque) podem pedir a exclusão do débito.

Para isso, o segurado deve acessar o site ou aplicativo Meu INSS com login Gov.br e consultar o "Extrato de benefício".

Lá constam todos os descontos feitos no benefício, inclusive os de mensalidades associativas.

Em caso de desconto não autorizado, é possível:

  • Solicitar a exclusão do débito no Meu INSS ou pela Central 135, no serviço "exclusão de mensalidade de associação ou sindicato"
  • Bloquear novos descontos no mesmo canal
  • Reclamar à Ouvidoria do INSS
  • Registrar queixa no Portal do Consumidor, o que pode resultar na suspensão da entidade envolvida  

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