Aos 23 anos e com quase uma década de carreira, a jovem de Araripina, no Sertão de Pernambuco, mostra que a vaquejada também é um esporte para mulheres
Por Diana Silva — Araripina, PE
Com quase uma década de competições, Vitória Lacerda começou cedo nas competições de vaquejada, aos 14 anos — Foto: Arquivo pessoal
Desde a infância, Vitória Lacerda foi envolvida pela cultura da vaquejada. O pai, criador de cavalos, e o irmão, que também se dedicava ao esporte, foram as primeiras referências da menina, nascida em Araripina, no Sertão de Pernambuco. A conexão com o campo e com os animais foi quase que inevitável.
- Cresci vendo meu pai e meu irmão se dedicando aos cavalos e ao gado. Desde muito nova, fui incluída nesse universo sem nem perceber. Não era algo que eu escolhi, mas fui me apaixonando - diz Vitória.
A convivência constante nas competições de vaquejada, acompanhando o pai e o irmão, foi a semente para o futuro de Vitória no esporte.
- Eu sempre andei nas vaquejadas com meu pai e com meu irmão. Eles criavam os cavalos, e eu apenas os acompanhava. Mas quando olhei para aquilo tudo, vi que aquilo era minha paixão, e comecei a querer fazer parte, mesmo que de um jeito amador - conta.
Vitória tinha apenas 14 anos quando decidiu abraçar a vaquejada. Os treinamentos eram feitos em casa, na pista montada pelo pai. O medo e o nervosismos foram os primeiros obstáculos superados pela vaqueira.
- No início, foi muito difícil. Era medo, era nervosismo, mas o apoio da minha família me ajudou muito. Aos poucos fui me acostumando e ganhando confiança.
A estreia em competições foi aos 15 anos. Montando o cavalo Alvin, Vitória mostrou talento e venceu a vaquejada realizada na cidade de Salitre, no Ceará. Esse foi o primeiro de uma coleção que conta com mais de 30 títulos.
- Era um sonho. Eu só tinha 15 anos e, ao ganhar aquela competição, percebi que realmente queria seguir nesse caminho.
O troféu conquistado naquela competição ficou marcado como um símbolo da superação para Vitória. Em um ambiente onde os homens costumam assumir o protagonismo, a jovem mostrou que a vaquejada também é um esporte para mulheres.
- No começo, as pessoas achavam estranho ver uma mulher na arena. Havia um certo olhar de desvalorização - lembra.
O preconceito nunca desanimou a jovem. O apoio da família e o sucesso de outras mulheres na modalidade, como a vaqueira Dayane Pereira, campeã brasileira, ajudaram a consolidar a ideia de que a mulher poderia, sim, ter seu espaço em um mundo onde os homens dominavam.
Referência no esporte, Dayane Pereira conquistou o título de campeã brasileira de vaquejada CBP 2024 — Foto: Reprodução/redes sociais
- Eu via essas mulheres se destacando e pensava: 'Se elas conseguiram, eu também posso'. E foi isso que me deu forças para seguir - afirma Vitória.
Esporte e educação lado a lado
Um dos momentos mais significativos da trajetória de Vitoria na vaquejada aconteceu em 2019, no Parque Três Vaqueiros, em Araripina. Competindo em casa, diante de amigos e familiares, a jovem conquistou o segundo lugar.
- A sensação de competir em casa, com o apoio do meu povo, foi indescritível. Não foi o primeiro lugar, mas foi como se tivesse ganhado o campeonato. As pessoas me reconheciam, e isso me fez acreditar ainda mais no meu potencial - revela Vitória.
Além da vaquejada, Vitória não deixou de lado os estudos. Aos 23 anos, cursa Biomedicina em Araripina, conciliando as exigências da academia com a vida no campo e as competições.
- A vaquejada é um hobby, mas também uma paixão. Ela me dá prazer, me faz sentir viva. No entanto, sei da importância de ter uma formação sólida, e por isso nunca deixei a educação de lado - afirma.
A rotina intensa exige disciplina, mas Vitória faz questão de equilibrar os dois mundos.
- Eu preciso da vaquejada para me sentir realizada, mas também entendo a importância de uma carreira profissional - explica.
O futuro das mulheres na vaquejada
Hoje, com quase uma década de carreira, Vitória é um exemplo para as jovens que almejam seguir no esporte.
- Eu fui uma sonhadora. Hoje, vejo que muitas meninas se inspiram em mim, e isso me deixa muito feliz. Elas querem seguir no esporte, e eu sempre falo: não desistam. O caminho não é fácil, mas a recompensa vale a pena - aconselha a jovem vaqueira.
Vitória acredita que a vaquejada, embora tenha avançado em alguns aspectos, ainda precisa de mais visibilidade e apoio para as mulheres.
- As premiações para as mulheres ainda são pequenas, e nossa visibilidade é muito abaixo do que deveria ser. Mas acredito que estamos ganhando mais espaço, e com o tempo isso vai mudar. As mulheres têm seu valor no esporte, e vamos continuar lutando por isso - diz com confiança.
Em quase uma década de carreira, Vitória já acumula mais de 30 títulos em corridas de vaquejada pelo sertão — Foto: Arquivo pessoal
Para Vitória, o Dia do Vaqueiro, comemorado nesta sexta-feira, 29 de agosto, é uma data de celebração não apenas do trabalho árduo dos vaqueiros, mas também de toda a cultura que envolve a vaquejada.
- O vaqueiro representa a força do Sertão, nossa raiz, nossa cultura. Ele mantém viva a tradição de um povo que luta e trabalha com garra, enfatiza.
O esporte, para Vitória, é mais do que uma competição: é uma forma de vida, uma conexão com a terra e com o que ela representa. Seu sonho é conquistar mais títulos e, quem sabe, disputar as grandes competições.
- Se surgir a oportunidade, vou agarrá-la com tudo. Meu sonho é chegar lá, e vou lutar até conseguir.
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