POR LUIZ ANDRADE (DENDA)
Liberdade é uma calça velha, azul e desbotada. Com essa frase num clima de harmonia e juventude, a US TOP no final dos anos 70,fez um comercial que dizia, que a calça desbotava perdia o vinco, e que era do seu jeito de viver, que era para ser usada do jeito que quisesse.
Foi um comercial de grande sucesso e as calças e jaquetas da US TOP, se tornou o sonho de consumo de toda aquela juventude. Esse sonho de liberdade através de uma ideia brilhante, para quem vivia em meio a uma ditadura feroz, a maioria queria mesmo era desbundar de vez, como dizia a música dos Novos Baianos: “vou mostrando como sou, jogando o meu corpo no mundo, andando por todos os cantos”.
Foi para mim aí o sinal, de uma ruptura, de uma geração com a outra. Dali surgia como diz a música dos Novos Baianos, novamente:
“No céu azul, azul fumaça, uma nova raça, saindo dos prédios para as praças”.
Essa nova raça começou a incomodar os caretas, começo a pensar e agir! Era diferente da geração dos seus pais, se dizia: “sonhe com o impossível, queira o impossível” – e nascia ali uma nova cultura, ou melhor: contracultura.
Nas ruas e nas praças se retratava vestígios de um novo tempo, na poesia, na musica, nas artes, novo visual, nas cores psicodélicas e o mundo voltou a ser novo novamente.
Com o advento da TV ao vivo e imagens em cores, vimos o homem chegar a lua, as notícias ganharam mais rapidez, mais entretenimento nos lares e o mundo passou a ser mais jovem ao som dos Beatles, Led Zeppelim, Janis Joplin, Jimi Hendrix, Raul Seixas , Rita Lee, Caetano Veloso e tantos outros.
Cada um dando o seu recado, como Belchior dizia: “viver é melhor que sonhar” – “e que tinha coisas novas, coisas novas pra dizer”.
O cantor Ednardo com seu Artigo 26 relembrava da Revolução Francesa, com suas palavras de ordem: Igualité, Fraternité e Liberté (Igualdade, fraternidade e liberdade) – palavras tão ausentes nos dias de hoje. E dizia mais: que a ignorância era indigesta pro freguês.
Ignorância “palavra tão presente nos dias de hoje e em todos os sentidos!
Chegamos aos anos 80, depois de tantos sonhos desfeitos, tantas lutas inglórias, mas a vida sem liberdade não tem significado, não tem sentido e sonhamos entre tantas outras coisas, com o direito de votar, por exemplo, escolher o nosso presidente. Então veio “As Diretas Já” – sempre com o sonho de mudar o nosso país, e como foi lindo o povo nas ruas, as massas levantando as suas bandeiras, cada um tinha os seus motivos, mas uma só ideia de liberdade. Conquistamos tantos outros direitos, de falar, se expressar, de ir e vir, e o país respirou outros ares.
Pena que hoje nós vemos que os nossos políticos nos envergonham tanto, ninguém acredita mais nas instituições, que deviam defender os direitos de todos, nem nos partidos que viraram apenas siglas, para eles pularem de galho em galho.
E com tudo isso a população foi perdendo o estímulo, a alegria de praticar o ato cívico, o direito ao voto livre...
... vemos hoje milhões de votos nulos e branco, virou um anticlímax, ir as urnas.
A geração que tanto sonhou e foi à luta, quando era de esquerda, era de esquerda mesmo. “Hoje quando a esquerda começa a contar dinheiro, converte-se em direita rapidinho” – Dizia Carlitos Maia.
A verdade é que quem enfrenta as regras estabelecidas é automaticamente chamado de: baderneiro, revoltado, do contra em tudo!
E ironia: quem está do outro lado, sendo bem alimentado, amparado, passar a ser: parceiro, companheiro e pode até usar máscara de Black Bloc e fica tudo bem.
Hoje é assim no mundo todo, como dizia Raul Seixas: “Hoje ninguém sabe de que lado estão certos cabeludos, se é de direita, ou de esquerda, não se sabe lá mais de que lado”.
Mas nós vemos que não é preciso matar ou morrer, nem destruir as coisas públicas, por uma causa, mas vale muito viver e lutar com amor por uma causa justa e verdadeira.
Eles dizem que o Brasil é dos brasileiros, a Amazônia, o Petróleo é Nosso e que governam para todos. Mas só se for no mundo da lua e que as leis são iguais para todos, de longe nós sabemos que não é bem assim.
“O povo unido jamais será vencido”.
O problema maior é que a vontade do povo, da maioria, não é confiável.
- “Liberdade significa responsabilidade, por isso muita gente tem medo de ser livre, implica coragem, desprendimento”
- “Mas onde se deve procurar a liberdade, é nos sentimentos, esses é que são a essência viva da alma” – Johann Goethe.
“Não alçamos a liberdade, buscando a liberdade, mas sim a verdade. Liberdade não é um fim, mas uma consequência” – Leon Tolstoi
“Sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha juntos, é realidade” – Raul Seixas.
Voltando ao lado comportamental de hoje na sociedade, seguimos as tendências da moda, imposta pelo padrão da TV. Há propaganda para tudo, e ela impõe: compre, compre, compre...
Que confusão estamos presenciando nos dias de hoje, crianças virando adolescentes muito cedo, adolescentes virando adultos pulando as etapas e os adultos não querendo envelhecer.
Todos de bermuda, tênis e camiseta, e vamos ao shopping comprar tudo igual e pensando que somos todos diferentes. Segue cada um pro seu lado, comprar, comprar, comprar, e ao chegar em casa constata que o pai comprou tudo igual ao filho, a mãe comprou tudo igual a filha, que beleza, somos todos livres para escolher.
O filho chega para o pai e fala; praticando o livre arbítrio: - pai descobri as minhas aptidões, já sei qual a minha vovação: vou estudar para ser escritor ou escultor!
- O pai responde: mas quem já viu isso! Você vai estudar para ser doutor, médico, que é o que dar dinheiro.
Sonha e serás livres de espírito...
... Luta e serás livre na vida. – Che Guevara
Blog do Paixão