Não estou querendo ser sentimentalista e nem dono da razão – pois eu sei que dificuldades existem para transformar os serviços de assistência a saúde da mulher e da criança em centros de excelências – mas o semblante triste daquele pai me comoveu e foi a fonte de minha inspiração para compor este artigo.
Por que acontecem tantos casos de óbito infantil e fetal
no município de Araripina?
Eu fico pensando que boa parte desses acontecimentos se dar pela falta de
assistência a mulher quando está no período gestacional ou até mesmo quando no
dia de dar a luz, não tem o acompanhamento devido. Isso em conversa com um pai
de um natimorto que precisou remover o corpo do filhinho da área que compõe o
terreno onde fica instalada a sua residência para ser enterrado em um cemitério
“regular” – para não configurar ocultação de cadáver, isso acompanhado e
orientado por autoridades competentes – pude comprovar que ouve negligência por
parte dos serviços de saúde. Segundo ele o pré-natal da esposa tinha ocorrido
dentro das normalidades, mas o parto fora feito tarde demais.
Segundo o Manual de Vigilância em Óbito Infantil e Fetal
e do Comitê de Prevenção do Óbito Infantil e Fetal / Ministério da Saúde os
casos ocorrido em menor de 1 ano ou 11 meses e 29 dias - a mortalidade nessa faixa etária é um
preocupação de saúde pública e que existe uma concentração enorme dos óbitos
nas populações mais pobres – o que é óbvio – e que os serviços de assistência a
mulher e a criança são os principais responsáveis por tanta ocorrência.
A emissão do Registro do Óbito em Cartório, seja pela
falta de orientação, existência de cemitério irregulares ou por ignorância da
própria população, compromete a importância da Declaração de Óbito, para se
obter um real dimensionamento dessas taxas de mortalidade principalmente nas
Regiões Norte e Nordeste.
Os níveis de
sobrevivência infantil ainda não têm alertado o país para tamanho absurdo e
tamanha falta de compromisso de quem precisa criar meios evitáveis, criando
estratégias e medidas de prevenção para diminuir ou banir definitivamente essas
causas que nos coloca sempre nas estatísticas de pais mais que subdesenvolvido.
O fosso que
aumenta as desigualdades e elevas as taxas de mortalidade daqueles que poderiam
ser motivos de alegrias para suas famílias, ainda é grande e tem criado esses
dados alarmantes e parece que a morte de nossas crianças não faz parte das lutas sociais da nossa sociedade e principalmente não é compromisso dos relapsos e desgastados
serviços de saúde.
E os Comitês?
Além do que é estabelecido e preconizado pelo Ministério da Saúde, tem cumprido
o papel educativo e formativo? Têm avaliado a qualidade da assistência à saúde
prestada à gestante, ao parto e ao nascimento e à criança no primeiro ano de
vida? Tem discutido exaustivamente suas atribuições e tem colocado em prática
as discussões pautadas e deliberadas por suas representações? E o Pacto Pela
Vida é apenas mais um programa criado apenas para difundir prioridades sem se
preocupar em garantir as metas pactuadas?
Todo esse
relato frustrante pode sim, ser importante para conhecimento da população, para
ela ficar a par desses fatos alarmantes e primitivos, e entender da importância
e do quão somos também omissos quando não exigimos a garantia do cumprimento e
dos gastos de recursos oriundos de ONGs, Entidades Governamentais para dar
assistência devida e necessária a saúde da mulher gestante e da criança.
Eu desafio
qualquer um a ficar de prontidão na Portaria do Nosso conhecido e filantrópico
Hospital Amigo da Criança – aqui em Araripina, e fazer um diagnóstico de
quantas mães grávidas e crianças menores de um (1) ano não deixam de serem assistidas
como preconiza as normas do Ministério da Saúde/SUS e UNICEF. Você será
testemunha ocular de que os direitos da criança e da mãe não são garantidos e são
desrespeitados sem nenhum constrangimento.
Paredes são
erguidas para a construção de monumentos e se esquecem de que são paredes que
precisam depois de planejadas, arquitetadas e construídas, precisam de humanização.
Não estou
querendo ser sentimentalista e nem dono da razão – pois eu sei que dificuldades
existem para transformar os serviços de assistência a saúde da mulher e da
criança em centros de excelências – mas o semblante triste daquele pai me
comoveu e foi a fonte de minha inspiração para compor este artigo.
Quantos ainda
precisam fenecer e quantos ainda precisam padecer?
Assistir
passivo, ocorrências que já deviam ter
sido abolidas do nosso Brasil e ver um pai passar pela incessante dor
traumática de depois da morte e do enterro carregado de tristezas e soluços ter
que se submetido ao martírio de arrancá-lo da cova onde repousava, para cumprir
determinações de ordem legal, é bem triste e comovente, ainda mais que além do
filho que sua esposa esperava não ter tido a assistência e o tratamento digno,
teve que calar por acreditar não poder fazer nada contra as pessoas poderosas
deste insano país.
E digo mais
uma vez...
... Viva o
país das desigualdades. Se fala, acham melhor calar-te, se diz a verdade, acham
melhor te chamar de mentiroso.
Mas ninguém
cala os justos, que mesmo em minoria ainda fazem um barulho ensurdecedor, que incomoda
os canalhas deste país.
Blog do Paixão